Como calcular o custo da MEIOSI?

05/08/2019 14:24

O aprimoramento das ferramentas de agricultura de precisão e o ganho de escala na produção das mudas pré-brotadas (MPB), vem fazendo com que o plantio de cana-de-açúcar via método inter-rotacional ocorrendo simultaneamente (MEIOSI), ganhe cada vez mais protagonismo no setor sucroenergético. De acordo com dados do levantamento de acompanhamento (portanto, dados preliminares) do Pecege, na safra 2018/2019, cerca de 20% do plantio no centro-sul canavieiro foi realizado a partir da prática, idealizada na década 80 (sim, não é novidade) pelo agrônomo José Emílio Teles de Barcelos.

Em termos econômicos, a principal vantagem atribuída ao método é a redução dos custos operacionais, ocasionado, principalmente, pela otimização da logística e consumo das mudas. Na mesma pesquisa citada anteriormente, dados do Pecege revelam que esta economia varia, em média, de 25 a 35%. Uma redução significativa, especialmente diante do contexto de alta de custos e queda de produtividade.

A temática, apesar de, novamente, não ser novidade, acaba sendo nebulosa para muitos, principalmente no aspecto econômico e determinação dos custos operacionais, de forma que esta foi a motivação para escrever este artigo.

Mas, antes de iniciar a linha de raciocínio, algumas observações:

  1. O objetivo do artigo é, sobretudo, discutir a lógica por trás da alocação dos custos e não os valores propriamente ditos. Portanto, os valores elencados, apesar de próximos à realidade, são fictícios. Destaco ainda, que parte das referências obtive do trabalho de conclusão de curso do bixo “Aiai” (Otavio Tambellini Perina), que foi orientado pelo amigo e professor Fábio Marin. O bixo “Aiai” é filho do querido Ismael Perina, produtor rural, figura conhecida no setor sucroenergético e um dos grandes entusiastas da MEIOSI. Um abraço a vocês.
  2. Apesar da técnica tratar de “inter-rotação ocorrendo simultaneamente”, portanto, integrando outra cultura em paralelo – em geral, soja – a análise não contempla eventuais custos ou receita oriundos da cultura em rotação. Portanto, não é um exercício completo do sistema, mas apenas do que remete à cana-de-açúcar.
  3. Não sei exatamente qual é o termo técnico correto para definir os elementos da MEIOSI, de modo que vou me referir a eles ao longo do artigo da seguinte maneira: i) área total – trata-se da área como um todo; ii) linhas-mãe – é a proporção da área destinada ao plantio das linhas que dão origem às demais; iii) linhas-filha: são as fileiras plantadas a partir da desdobra das linhas-mãe. Para ajudar na compreensão, segue uma ilustração:

Feitas as considerações, segue um passo a passo para determinação dos custos da MEIOSI. No caso, o exercício foi realizado utilizando o Excel, de modo que eventuais referências que apareçam entre parênteses, referem-se às posições relativas das células no modelo. Além disso, faço na planilha uma diferenciação (aliás, essa é uma boa prática recomendada no Excel, facilitando a didática) por cores entres as células de entrada e saída, sendo que as premissas estão em verde e os resultados em branco. E caso você tenha interesse em fazer download da planilha, basta clicar aqui. Evidente que você terá que fazer um cadastro básico, para que seus contatos entrem em nossa base de dados, assim você receberá novidades do Pecege 🙂

Vamos lá…

Passo 1 – Dimensionar a estrutura da MEIOSI

Inicia-se o dimensionamento da MEIOSI pela determinação da taxa de desdobra (B4) que, posto de outra forma, significa quantos hectares de linhas-filha são possíveis plantar (ou desdobrar) a partir das linhas-mãe. Portanto, é necessário relacionar a produtividade da linha-mãe (B2) com a dose de muda (B3) a ser utilizada na desdobra. Neste sentido, como as variáveis são inversamente proporcionais, quanto menor a dose de mudas, mais linhas se planta com a mesma linha mãe. Vale ressaltar que neste exercício a quantificação da dosagem foi tratada de forma simplificada e que, na prática, deve-se levar e consideração uma série de fatores como quantidade de gemas por colmo, comprimento dos colmos, etc. Para maiores detalhes, recomendo dar uma olhada no Manual Técnico MEIOSI do CTC.

Com a definição da taxa de desdobra, é possível encontrar a proporção entre linhas-mãe e linhas-filha na área total a ser plantada. Para que essa determinação seja possível, faz-se necessário o relacionamento dos parâmetros com o espaçamento (B5) adotado, afinal, pode-se plantar mais ou menos cana na mesma área. Depende da distância que se estabelecem os sulcos de plantio.

Para o exemplo em questão, considerou-se o espaçamento de 1,50 metros, resultando em 6.666 metros lineares (1 hectare tem 10.000 m2, que ao ser dividido por 1,5 m, resulta neste quase número da besta). Se tomarmos como base que a área total tem 6.666 metros lineares e que, a taxa de desdobra estabelece a proporção entre mãe e filhas como sendo de 1:12, têm-se 555 metros de linhas-mãe e 6.111 de linhas-filha. Posto de outra forma, em termos relativos, a área total da MEIOSI em questão teria 8,3% de linhas-mãe e 91,7% de linhas-filha.

Passo 2 – Estabelecer o sistema de produção e os respectivos custos operacionais

Definido o dimensionamento geral da MEIOSI, o próximo passo é caracterizar o sistema de produção, relacionando aspectos operacionais e econômicos. Neste sentido, sugere-se inicialmente o estabelecimento das atividades realizadas em função das estruturas da MEIOSI, indicando ainda, a intensidade das operações. O negrito foi proposital e colocado a fim de destacar que o uso de determinada operação se restringe a estrutura em questão, sem qualquer ponderação com as participações relativas. De forma a facilitar o raciocínio, vamos tomar como exemplo a irrigação, que é realizada com uma intensidade de 400% nas linha-mãe. Isso significa que as linhas-mãe (e apenas elas) foram irrigadas 4 vezes durante o plantio. Outro exemplo é a grade aradora, demandada também em 4 momentos no sistema proposto, sendo: i) uma primeira vez em área total (100%), ii) outras duas vezes (200%), porém, apenas nas linhas-mãe e; iii) uma terceira vez, agora apenas nas linhas-filha (100%).

Sob o aspecto operacional basicamente é isso: definir o quê e quanto se faz. As classificações dos estágios nas respectivas células da coluna B (B11:B26) são informações complementares e que, por enquanto, não servem para nada. Elas serão úteis mais adiante, objetivando um detalhamento dos custos por estrutura e estágios de produção.

Do ponto de vista econômico, a respectiva inserção dos custos deve ser realizada de forma ABSOLUTA (em negrito e caixa alta, portanto, é importante, preste atenção!), sem qualquer ponderação com as estruturas ou intensidade de utilização. Vamos tomar como exemplo a operação de transplantio, cujo custo com insumos – no caso, muda pré-brotada (MPB) – representa cerca de R$ 16 mil/hectare (G18). Note que o custo é absoluto, sem qualquer efeito relativo, como se fossemos plantar integralmente 1 hectare com MPB. Inclusive, observe que o mesmo registro aparece novamente (G21), atrelado agora ao replantio, porém sem qualquer ponderação. Destaca-se ainda que se optou por uma estrutura de custos simplificada na planilha, segmentando apenas em custos da operação – seja máquina ou mão-de-obra – e insumos, expressos em R$/hectare (ha).

Passo 3 – Relacionar a estrutura da MEIOSI (passo 1) com o sistema de produção/custos operacionais (passo 2)

O terceiro passo consiste em relacionar as etapas anteriores, ponderando os custos operacionais absolutos em função da realização e estrutura da MEIOSI. Na ilustração a seguir tem se o exemplo, novamente, para o transplantio, em que o custo absoluto de R$ 16.917/ha (H18), quando relacionado no sistema, resulta em um custo operacional ponderado de R$ 1.410/ha (K18). Com a realização desta etapa para todas as operações e, posterior soma das etapas, têm se o custo por estrutura e também geral da MEIOSI, calculado, neste caso, em R$ 6.881/ha (L28).

As classificações por estágio que até então não tinham sido utilizadas para nada, agora entram em cena. Com a padronização das informações e estruturação da planilha, é possível fazer uma soma condicionada, permitindo uma análise mais detalhada dos fatores, como o quadro compreendido no intervalo de células A28:E32.

Passo 4 – Simulações

Como diria o amigo e professor Marcos Milan: “o difícil é armar o circo, depois é um espetáculo atrás do outro”. Pois bem, com nosso circo armado, é possível fazer uma série de simulações, como a ilustrada a seguir (realizada com o apoio da ferramenta tabela de dados, do Excel), em que evidencia-se o impacto da dosagem de mudas em algumas das variáveis de saída do modelo, como taxa de desdobra, quantificação de linhas-mãe e filhas e o custo da MEIOSI. A conclusão é que a medida que se aumenta a dose de mudas, reduz-se a taxa de desdobra, aumenta-se a proporção de linhas-mãe em relação as filhas, resultando, consequentemente, em elevação dos custos. Sei que é óbvio, mas uma das vantagens do modelo é justamente esta, quantificar a obviedade de algumas teorias e permitir tomadas de decisões mais assertivas.

Bom, acho que é isso. Se você gostou, curta, comente, compartilhe. Se não gostou ou sentiu falta de alguma coisa, fique à vontade para deixar suas considerações.

João Rosa (Botão) – Professor do PECEGE / Gestor de Novos Projetos – Pecege.

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/como-calcular-o-custo-da-meiosi-jo%C3%A3o-rosa-bot%C3%A3o-/

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