Quando a ajuda vem em forma de asas
O incremento acentuado da agricultura brasileira garantiu um crescimento da demanda por serviços especializados em aviação agrícola. O SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola) estima que a quantidade de aeronaves agrícolas seja de aproximadamente 2.450 aviões, sem contar os helicópteros e drones, tornando a frota brasileira a segunda maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
De modo geral, as atividades aeroagrícolas, que além da aplicação de fertilizantes, sementes, inseticidas e herbicidas em voo, também compreendem o povoamento (lançamento de alevinos) de rios, lagos ou mares e combate a incêndios em áreas rurais ou florestas – mostram-se aliadas importantes dos produtores rurais.
Porém, o sucesso das operações aéreas no campo não depende apenas do avião. As condições meteorológicas exercem um papel vital nessas operações. As condições do tempo têm dupla influência em aplicações aéreas, afetando tanto o aproveitamento dos materiais lançados sobre a lavoura como a própria segurança de voo. Ou seja, o cuidado especial com as condições meteorológicas evita desperdícios durante a pulverização de líquidos ou aplicação de grãos e previne acidentes.
Os parâmetros meteorológicos são particularmente importantes no planejamento dos diferentes defensivos agrícolas. Fenômenos climáticos como vento, temperatura, umidade do ar, chuva e a estabilidade atmosférica podem provocar o desvio, a evaporação ou até a perda do produto a ser aplicado. O vento é o fenômeno meteorológico que mais influencia as aplicações aéreas. Ao contrário do que se possa pensar, o vento calmo não é a melhor condição para uma aplicação, pois nessa situação o produto tende a flutuar sobre a plantação.
Isso significa que a pulverização sob ventos inferiores a 3 km/h é desaconselhável, a exemplo do que acontece em condições de ventos fortes. Ventos com velocidades superiores a 12 km/h causam deriva do produto, gerando desperdício e podendo afetar áreas que não deveriam ser atingidas pela pulverização.
Todavia, dentro desses limites, o piloto, em comum acordo com o agrônomo, deve ter sensibilidade e conhecimento técnico para ajustar a altura de voo às condições de vento, pois para variadas velocidades deste fator deve corresponder uma altitude de voo, de modo que o resultado da operação permaneça satisfatório. Tanto a direção quanto a regularidade e velocidade dos ventos exercem influência sobre a deposição das gotas de uma pulverização. Quanto à direção, pode-se dizer que, em havendo culturas suscetíveis ou áreas sensíveis adjacentes ao local de pulverização, extremo cuidado deve ser tomado quando o vento se dá no sentido destas.
A temperatura e a umidade também podem interferir na pulverização. O aquecimento desigual do terreno origina correntes convectivas ascendentes que fazem subir as partículas dos produtos aplicados, desviando-as de suas trajetórias originais.
No caso dos líquidos, a umidade do ar afeta a velocidade de evaporação. Quanto maior a temperatura e menor a umidade do ar, maior é a evaporação das gotas lançadas sobre a área de cultivo. Para evitar esse desperdício, não se deve pulverizar com temperaturas superiores a 30°C e umidade relativa do ar inferior a 50%. Há ainda a estabilidade do ar (capacidade da atmosfera de inibir o movimento vertical do ar), que pode melhorar o aproveitamento de aplicações. Dois fenômenos se destacam quando o assunto é a estabilidade do ar: inversão de temperatura e turbulência da atmosfera.
A inversão de temperatura pode fazer com que as partículas do produto fiquem presas na camada de inversão, sofrendo um deslocamento e caindo por gravidade em um local não desejado. As turbulências da atmosfera são em geral convenientes às aplicações aéreas, pois favorecem o movimento descendente das partículas. Durante a ocorrência das chuvas, deve-se evitar as aplicações de defensivos. A água tende a “lavar” o produto da lavoura.
A Inversão Térmica O fenômeno da inversão térmica é de extrema importância nos processos agrícolas, uma vez que o efeito de camadas de ar altera a circulação dos ventos, e como consequência, isso pode prejudicar a dissipação dos produtos de pulverização utilizados nas culturas agrícolas.
Em condições de inversão térmica, ocorre alteração da circulação do ar das camadas mais próximas da superfície, conforme ilustrado, no quadro esquerdo, gerando ventos laterais, que podem deslocar os defensivos agrícolas para grandes distâncias, e longe do local esperado, o que é chamado de deriva do produto, ao invés de se dissipar e se diluir, quando em condições atmosféricas normais.
Os agricultores de forma alguma desejam que a aplicação de agrotóxicos se mova para fora do local, pois isso acarreta a não aplicação adequada do produto, impactando negativamente em culturas mais sensíveis a um determinado produto, além é claro, de causar prejuízos econômicos e ambientais.
As operações aeroagrícolas são normalmente executadas sob boas condições do tempo. Ainda assim, os pilotos devem manter a atenção à segurança de voo, afinal as missões exigem voos a baixa altura e o tempo de reação do piloto ante a uma pane ou imprevisto (como um vento de rajada) é muito curto. Para garantir a segurança de voo, os pilotos agrícolas devem adotar alguns procedimentos.
Na região da Canaoeste, o período de maior atividade aeroagrícola vai de dezembro a março, portanto os pilotos devem atentar para as instabilidades atmosféricas comuns neste período do ano, pois provocam o rápido desenvolvimento de nuvens de tempestades, e é justamente nessa época que os produtores mais utilizam defensivos agrícolas sobre a cultura da cana-de-açúcar, fazendo o uso de aplicações aéreas para a broca, pois já não é mais possível entrar na lavoura com os tratores. Outra recomendação importante é quanto ao reabastecimento da aeronave, que é desaconselhável em casos de ocorrências de nuvens cumulonimbus que produzem raios e trovões, e que estejam nas proximidades da área onde estiverem acontecendo as aplicações. Além disso, principalmente em situação
de trovoadas, o operador deve fazer um bom aterramento do avião durante o abastecimento de combustível para que haja dissipação da eletricidade estática.
Para tanto, pilotos e agrônomos devem realizar uma prévia avaliação das condições meteorológicas para o melhor momento da aplicação, utilizando-se de modelos meteorológicos de previsão do tempo nos dias que antecedem a operação aérea, e de instrumentos como higrômetro, termômetro e anemômetro no dia da aplicação.
A avaliação meteorológica deve orientar o piloto com relação à segurança da operação, eficiência da aplicação aérea e a possibilidade de deriva indesejada do produto aplicado. Os dados devem constar nos referidos relatórios da aplicação aérea. O agrônomo também deve estar ciente das limitações atmosféricas impostas aos pilotos, aeronaves e visar sempre a melhor eficiência dos defensivos agrícolas.
Compartilhe este artigo:
Veja também:
Você também pode gostar
Confira os artigos relacionados: