Quando legado e sucessão se transformam em produtividade
Equilíbrio entre o conhecimento e as novas técnicas é o segredo da roça de produtor de Igarapava-SP
Djalma Lutffalla Filho carrega muito mais do que o nome do pai. Desde que assumiu a liderança da produção canavieira da família, o produtor de Igarapava-SP também leva a responsabilidade de continuar prosperando uma operação agrícola com mais de 62 anos de idade em pleno olho do furacão da mudança da colheita queimada para a crua, aliada a pior crise da história do setor ocasionada no governo Dilma.
O principal manejo adotado por Lutffalla Filho teve início a partir de 2015, quando – com o apoio do time técnico da Canaoeste através do atendimento do agrônomo alocado em Ituverava-SP, João Francisco Antonio Maciel, e da produção de mudas sadias e novas variedades, realizada pela associação em parceria com a Copercana na Fazenda Santa Rita, – ele começou a desenvolver viveiros dentro de sua propriedade.
O motivo que o levou a executar a operação foi a necessidade em ampliar o plantel varietal do canavial, pois quando assumiu não havia mais que seis cultivares: tinha muita SP81-3250, e complementava a área com SP80-1842, SP80-1816, SP70-1011, RB72454 e SP80-3280.
Sendo assim, ele implementou o seu primeiro viveiro ao utilizar um espaço de meio hectare, trazendo dentre outras variedades a IACSP95-5094, e foi o primeiro a levar a RB865453, cultivar que se adaptou muito bem ao ambiente e também se tornou histórica porque simboliza mais uma mudança que ainda está em implementação pelo produtor, que é levar a sua cana para uma colheita mais precoce.
Engenheiro agrônomo, Lutffalla Filho encarou o desafio de maneira muito inteligente ao fazer a leitura do que o pai fazia e poderia ser aproveitado na nova realidade (como o uso de cana de ano) aliada a práticas de manejo indispensáveis em cana crua (buscas por variedades novas cujo o desenvolvimento é voltado para o corte mecânico e mudas.
Essa união entre a experiência do pai e a adoção de novas técnicas resultou numa produtividade média acima de 100 toneladas por hectare e também na ampliação constante da área – seu canavial é de 410 hectares.
Para essas áreas, ele executa o plantio direto, manual, em cantosi, dispondo as mudas no sulco de modo esticado (uma atrás da outra), tendo resultados próximos a 150 toneladas por hectares, o que é o suficiente para atender a sua demanda e até comercializar um pouco para outros produtores da região.
Ao mudar o foco e encontrar sobrevivência nos ensinamentos do pai, a técnica de plantio de cana de ano é a mais evidente. Manejo praticamente condenado pelo mundo acadêmico e alguns formadores de opinião do setor, na roça dos Lutffallas ele vai muito bem.
Outro talhão com a IACSP95-5094. Neste, a cana sofreu dois cortes, sendo o primeiro destinado para mudas
Não tendo uma variedade definida para tal técnica, Lutffalla Filho dá uma atenção especial ao momento do plantio, ocorrido depois da dessecação das antigas soqueiras com glifosato, e espera as chuvas de setembro e a segunda que vem em outubro para iniciar a operação. Seu plantio é direto para preservar o máximo de palha possível, sendo as mudas dispostas no sulco e em modo dupla cruzadas.
E talvez o plantio de ano dê certo na realidade específica do produtor em decorrência de sua preocupação constante com a saúde do solo. Prova disso é a técnica de rotação de cultura prolongada que está testando num talhão.
A cana foi colhida em outubro de 2017 e no mesmo mês foi feito o plantio de milho, colhido em maio de 2018. Após a colheita, a terra ficou em pousio durante três meses, quando recebeu a aplicação de um composto orgânico que foi incorporado ao solo junto com a palhada do milho. Com isso, a terra descansou por um ano, dando tempo para o mato crescer. Em setembro de 2019 foi feito o corretivo, a nivelação e nas áreas necessárias foi aplicado herbicida pré-emergente. Em outubro de 2019 será cultivada a soja e o plantio de cana será realizado entre março e abril de 2020.
Pode-se definir a operação de Lutffalla Filho como um gigantesco laboratório, onde em cada talhão é desenvolvido um experimento novo. Para isso, ele conta que é preciso ter amor e principalmente dedicação, iguais a de um cientista que está prestes a realizar a maior descoberta de sua carreira, só que, no seu caso, a glória dura até o plantio seguinte.
Fonte: Revista Canavieiros
Cleber Salvador De Oliveira, enviado em 02/04/2023
Bom dia como adquiro mudas dessas variedades