Nova pesquisa identifica maior alcance de deslocamento do Sphenophorus levis
Estudo revela que o inseto percorre distâncias muito superiores às estimativas históricas, o que pode redefinir práticas de manejo nos canaviais
A revisão das estimativas de deslocamento do Sphenophorus levis, o bicudo-da-cana, começa a redesenhar a forma como o setor sucroenergético encara a praga. Novos dados apresentados por Caroline Sakuno, entomologista pela ESALQ-USP, durante o FITOCANA, realizado nos dias 5 e 6 de novembro na Unesp Jaboticabal, mostram que o inseto tem mobilidade muito maior do que a literatura registrava desde os anos 1980.
Experimentos de campo conduzidos pela pesquisadora indicam que machos de S. levis podem caminhar até 3,6 metros por dia, acumulando cerca de meio quilômetro ao longo dos 150 a 200 dias de vida, um salto relevante frente às referências clássicas, que apontavam apenas 6 a 11 metros mensais.
Ensaios laboratoriais revelaram ainda que fêmeas apresentam potencial de voo superior a 1,3 quilômetro, desmontando a antiga premissa de que o inseto se restringia ao solo. Segundo Caroline, essa constatação pode exigir ajustes na definição de áreas de refúgio e no desenho de estratégias integradas de controle, especialmente diante do avanço de tecnologias transgênicas.
Revisão taxonômica e mapeamento do ataque
A mobilidade, porém, foi apenas um dos vetores analisados. A pesquisadora também revisou a classificação taxonômica do grupo no Brasil. Combinando análises morfológicas e moleculares, o estudo confirmou a presença de três espécies do gênero Sphenophorus — levis, rusticus e brasiliensis — e afastou equívocos disseminados em redes sobre eventuais pragas associadas ao milho dos EUA.
Outro ponto relevante foi o mapeamento preciso da área de ataque no colmo. Com apoio de software, a equipe da ESALQ determinou que os danos se concentram em até 8 centímetros acima do solo, com área média danificada de 2,27 cm² e galerias de 6,47 cm. As informações permitem ajustar defensivos e proteínas ao tecido efetivamente afetado.
Os resultados integram a tese de doutorado de Caroline, que agora avança para o sequenciamento do genoma da praga e para a análise de diversidade genética em Estados como São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul. A meta é identificar diferenças entre linhagens e entender como a expansão da fronteira agrícola moldou a dispersão do inseto.
Para a pesquisadora, o setor deverá adotar uma abordagem ecológica mais integrada. “Entender como a praga se movimenta, onde ela ataca e quais são suas variações regionais é o primeiro passo para estratégias de controle realmente eficazes”, afirmou.
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