Fogo que tudo queima
Prejuízos em canaviais atingidos por incêndios vão além da perda de produtividade
Alguns canaviais da região de Sertãozinho foram atingidos por um incêndio de grandes proporções no dia 1ºde agosto.
Segundo o produtor e associado da Canaoeste, Sérgio Luiz Zampronio, o incêndio começou por volta das 11 horas, próximo ao Engenho Central Museu da Cana, em Pontal, e foi em direção a Sertãozinho. “Me avisaram e fui correndo para o meu canavial. Estava ventando muito e liguei para a Usina Santo Antônio, que enviou os seus caminhões de combate a incêndio.
Como o vento estava muito forte, os caminhões não conseguiram controlar o fogo, então vieram os caminhões da Destilaria Santa Inês. “Porém, devido a fatores climáticos desfavoráveis como fortes ventos, baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas, o incêndio não foi facilmente controlado”, conta.
Zampronio tinha uma área de cana que foi consumida pelo fogo. Seu prejuízo foi grande, pois a sua plantação seria colhida na segunda quinzena do mês de agosto, de forma que sua cana não estava no ponto de colheita. “Tive perdas de 30% e levarei uns dois anos ou mais para recuperar um trabalho que foi perdido em horas”, pontuou. Sem ainda ter a noção exata dos danos, a produtora Neusa Zampronio disse que toda a sua área foi atingida e elencou que teria perda no peso e em outros aspectos da cana Ela comenta que estava em sua casa quando percebeu uma fumaça próxima a sua área de cana. “Liguei para a caseira do sítio e ela disse que o fogo estava nas proximidades, mas que já havia caminhão bombeiro no combate. Após 15 minutos, ela me retornou dizendo que o fogo estava no meu canavial e muito forte”, lembra.
Neusa relata ainda que chegou até a divisa de sua propriedade, porém, não conseguiu entrar porque havia muita fumaça.
“Nunca vi um incêndio como esse, foi assustador. O canavial fica próximo à cidade e todo os anos precisamos ficar de olho porque algumas pessoas passam e colocam fogo. O produtor, em casos como esse, tem uma perda considerável porque investiu em adubos, tratos culturais e quando a cana é atingida, as vezes perde-se todo o investimento. Ressalto que nós, produtores, não temos interesse em colocar fogo no canavial porque temos prejuízo com isso. Também moramos na região e não queremos que o ambiente seja ruim para nós, que o ar fique pesado e poluído por conta da fumaça. Procuramos sempre estar dentro da lei,” argumenta.
José Carlos Sichieri, primo e parceiro de arrendamento de Neusa, lembra o que aconteceu: “O vento estava na direção da cidade e o fogo atingiu a nossa propriedade. Quando cheguei ao local, a minha propriedade já estava incendiada. Demorei uma hora para conseguir entrar na propriedade por causa do fogo e da fumaça, embora inúmeros bombeiros já estavam tentando controlar o incêndio. Fiquei umas três horas ajudando a controlar o fogo, que se alastrou para outras propriedades”, recorda. Sichieri tinha alqueires de cana que não seriam colhidos, pois ele iria utilizar aquela cana para fazer muda. “O prejuízo foi grande, pois essa terra é arrendada, o custo é alto e o fogo foi fora do comum”, afirma.
Apoio e combate
Um dia após o incêndio (02/08) foi realizada uma reunião na sede da Canaoeste, com os produtores associados que tiveram seus canaviais atingidos pelo fogo, em Sertãozinho. Com a presença do gestor corporativo da entidade, Almir Torcato; do gerente de Geotecnologia, Fábio Soldera; dos advogados Juliano Bortoloti e Diego Rossaneis; do assistente ambiental, Artur Tufi, e do engenheiro agrônomo do escritório de Sertãozinho, André Volpe, os 12 produtores impactados relataram o desespero e os prejuízos acumulados com o incidente.
Diante de fatores climáticos desfavoráveis, a cultura da cana-de-açúcar é mais suscetível aos perigos do fogo. Combinado a isso, as áreas atingidas pelo incêndio não estavam na programação de colheita e algumas até mesmo sem fazer aniversário, o que implica numa perda mínima entre dois e três meses de crescimento vegetativo e corresponde a um decréscimo de até 30% da produtividade em t/ha. Torcato ressaltou ainda que o incêndio, além de prejudicial e causar impactos negativos na vida financeira do produtor, chega a ser um contrassenso, pois a indústria utiliza a biomassa de cana para a produção de energia e queimá-la no campo não faz sentido. “É importante que a população entenda que a queima da palha da cana-de-açúcar para a colheita não faz mais parte do processo produtivo”, explica.
Além da análise do impacto econômico, a reunião teve por objetivo levantar os critérios de boas práticas agrícolas de prevenção de incêndios realizadas pelos produtores atingidos. Para minimizar os prejuízos, a equipe técnica da Canaoeste visitou as áreas atingidas para a elaboração de laudos elencando os 14 critérios objetivos para o estabelecimento do nexo causal.
“Tudo nos leva a crer que esse incêndio foi criminoso. Através de nosso sistema de monitoramento via satélite, identificamos que houve vários focos sequenciais. Isso significa que alguém ateou fogo em vários pontos e as condições climáticas fizeram com que esses pequenos focos tomassem grandes proporções”, analisa Soldera.
Com os prejuízos ainda em fase de contabilização, os produtores seguem tocando a atividade com o apoio da Canaoeste. “A assistência da associação está sendo muito importante. Temos o apoio em relação à incêndios, critérios da cartilha, além das reuniões técnicas. Os agrônomos estão nos acompanhando e dando todo o suporte necessário”, comenta Neusa.
“É muito bom contar com o apoio da Canaoeste”, finaliza o produtor Zampronio.
Parcerias Construtivas
O desenvolvimento econômico da atividade contempla unir forças para o entendimento comum. Nesse sentido, a Canaoeste, entidade representativa da classe de produtores de cana-de-açúcar, estreitou relações com a Polícia Militar do município de Sertãozinho no sentido de contribuir com estratégias, ferramentas e informações que possam facilitar o trabalho da polícia, bem como atender a expectativa de garantir a segurança no campo. A Polícia Militar, por sua vez, se comprometeu a aumentar o efetivo de sua patrulha em áreas rurais de maior risco com o auxílio de informações obtidas através da Canaoeste.
Por: Diana Nascimento – Revista Canavieiros