Fomentando o potencial das energias renováveis
A busca por energias alternativas se tornou estratégica e de fundamental importância. O Brasil é em termos de matriz energética e elétrica o país mais renovável do mundo e o grande desafio é fazer a gestão dessa riqueza. A reportagem da Revista Canavieiros participou recentemente de um debate realizado na Capital paulista e na ocasião falou com o secretário adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME (Ministério de Minas e Energia), Hélvio Neves Guerra, sobre a expansão das energias renováveis no país. Confira!
Revista Canavieiros: Quais os desafios e as oportunidades do setor de energia?
Hélvio Neves Guerra: Estamos em um momento extremamente positivo no setor elétrico, na energia de um modo geral. Talvez estejamos vivendo uma oportunidade que não se repete com frequência, é a oportunidade de rever todo o modelo do setor, toda a legislação e propor algo que incorpore a essa nova realidade tecnológica em que nos encontramos e onde o consumidor passa a ter uma participação muito mais dinâmica no sistema, a descentralização da geração, a geração distribuída, os recursos energéticos novos como o carro elétrico. Tudo isso vem mudando o perfil de geração, a forma de consumir. Eu acredito que essa é uma oportunidade diante de todas essas alterações que estamos vivendo por conta do avanço de tecnologia e é talvez uma das chances que não vamos encontrar tão cedo novamente.
Revista Canavieiros: Qual a importância das energias renováveis?
Guerra: São fundamentais para o país. O Brasil tem energias renováveis e grande potencial tecnológico. O nosso país é rico em biomassa não só de bagaço de cana-de-açúcar, mas todo um potencial de produção agrícola, aproveitamento de resíduos urbanos e industriais. Temos uma costa brasileira com um potencial eólico extraordinário, talvez um dos melhores do mundo não só em quantidade, mas em qualidade de ventos – os maiores fatores de capacidade para geração de energia eólica estão no Brasil. Atualmente se compara o fator de capacidade da energia eólica à hidrelétrica. Sol, qual é o país que tem o sol que temos? Nenhum, e isso é muito importante para o desenvolvimento de tecnologia, do setor, social e econômico. É fato que onde tem o aproveitamento de uma fonte de energia renovável, fomenta-se o desenvolvimento econômico e social da região onde ela está implantada.
Revista Canavieiros: É necessária a promoção de iniciativas que propiciem a expansão responsável do mercado livre?
Guerra: Sim, eu não tenho dúvida disso, pois ocorre que com a evolução tecnológica, cada vez mais se tem a capacidade de geração para o mercado livre com tendência de expansão de mercado. Por outro lado, precisamos trabalhar esse fato com devido cuidado para que toda a evolução do sistema elétrico possa ser paga também por quem está no mercado livre. Atualmente quem paga pela expansão do setor elétrico é o mercado regulado. Precisamos mudar um pouco essa percepção, ou seja, o que está por trás de tudo isso é a locação correta de custos e riscos. Os custos estão muito centrados no regulado, aquele que é chamado de cativo pelo setor, porém precisam ser melhor distribuídos para que o mercado livre possa arcar também com os mesmos.
Revista Canavieiros: Quais seriam as molas propulsoras para a expansão da liberdade dos consumidores?
Guerra: Um dos motores desse processo é a questão da evolução tecnológica. A energia eólica atualmente tem todas as condições de evoluir e avançar, mesmo sem ter contratos de longo prazo – então, contratos de mais curto prazo (como é comum no mercado livre) são fatores que permitem que haja crescimento. Evolução tecnológica, essa seria a palavra-chave para essa pergunta.
Revista Canavieiros: É preciso dar sustentabilidade à expansão da oferta de energia elétrica?
Guerra: Sem dúvida. A expansão só pode ocorrer se for sustentável em todos os sentidos, não só do ponto de vista da evolução de tecnologia como já falei, mas também precisa ser financiável. E aí vale não só para renováveis, de um modo geral os projetos precisam ser financiáveis, necessitam que, quem vai financiar o empreendimento, confie como algo que gerará os recursos, ou seja, os recebíveis que vão dar sustentabilidade para esses projetos.
Revista Canavieiros: O ambiente econômico tem favorecido o setor elétrico?
Guerra: No meu entendimento sim. Estamos passando por uma evolução, a economia está dando sinais de crescimento, há uma tendência de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), e precisamos ter uma expansão mais rápida, carecemos de mais energia e uma coisa leva à outra. Se você tem necessidade de mais energia, projetos bons, adequados tecnologicamente, você terá financiamento, então a economia dá sinais importantes para o crescimento da expansão do setor.
Revista Canavieiros: As fontes solares e eólica estão em expansão no país, porém ainda são as hidrelétricas e termelétricas as determinantes para a sustentabilidade do sistema elétrico?
Guerra: A energia eólica e a fotovoltaica é um empreendimento que gera quando tem sol e quando tem vento, quando isso não acontece, o consumo continua existindo e outra fonte precisa suprir. Atualmente quem faz isso são as hidrelétricas e as termelétricas, especialmente as termelétricas a gás que estão em expansão no Brasil.
Revista Canavieiros: “Taxa do Sol”. Ultimamente se fala sobre a possibilidade da taxação no valor da energia solar que o consumidor produz em sua residência a partir de painéis solares. Essa medida pode ser uma “ducha de água fria” no setor de energia solar?
Guerra: Eu acredito que não, na verdade o que aconteceu foi uma falha de comunicação. Eu acho que é importante o que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) propõe em termos de alteração porque hoje quem tem fotovoltaica, especialmente geração distribuída em condomínios, usa a rede de distribuição, mas não paga pelo uso da rede.
Então houve uma falha de comunicação para mostrar o que a Aneel realmente pretende fazer e acredito que a agência provavelmente está olhando para o futuro.
No momento em que começa a ter uma quantidade muito grande de empreendimentos de geração distribuída, talvez comece a onerar de forma desigual àqueles que não têm. São duas questões: deveria ser mais bem comunicado – o que está se pretendendo com isso, e segundo, este é o momento mais adequando para que isso seja implementado?
Eu não acho que isso seja uma ducha de água fria, ao contrário, é inexorável o crescimento da geração distribuída, especialmente pela fotovoltaica, que vai crescer no Brasil e esse é um fato que não vamos conseguir frear o crescimento.
Revista Canavieiros: A geração distribuída é uma revolução?
Guerra: É uma evolução por conta do avanço de tecnologia e preço – especialmente de painéis fotovoltaicos e porque a Aneel regulamentou. Antes disso, mesmo que tivesse preço bom e tecnologia para implantar painéis solares, não podia fazer essa troca com a distribuidora.
Fonte: Revista Canavieiros