A grama do vizinho sempre é, literalmente, mais verde
Um texto para brasileiros que muito se impressionam por países que pouco protegem o meio ambiente. Seria desconhecimento, comoção seletiva ou interesses político-econômicos?
Caros leitores, é de praxe mensalmente escrever artigos técnicos para esta conceituada revista, porém, um assunto extra me saltou aos olhos nos últimos meses e resolvi abordar sobre os incêndios que acometeram recentemente o Brasil e a Austrália.
Lendo diversos livros, artigos, posts e matérias sobre os incêndios que ocorreram no Brasil e na Austrália nos últimos meses, uma certa indignação me tomou. É inacreditável a forma que os brasileiros se comovem com as tragédias ocorridas em outros países que não o seu.
Quando se trata de ocorrências nacionais, sinto falta desse sentimento “sangue na veia” patriota, de defesa, que logo é deixado de lado e dominado por ideologias político-partidárias. O problema deixa de ser da nação e se transforma somente do governo, assim deixando de ser um problema da pátria.
Nos recentes compartilhamentos em redes sociais, vejo brasileiros solidários a animais australianos, com milhares de notas, posts, fotos e vídeos de coalas e cangurus sendo socorridos – não que o assunto não mereça atenção, pelo contrário. Os jornais e sites publicaram imagens das duas tragédias, tanto amazônica como australiana.
As gramas
Da mesma forma que o tatu brasileiro foi socorrido e hidratado por um socorrista, o coala também foi, porém, com uma ressalva: a comoção e a indignação por parte dos brasileiros com o coala foram imensamente maiores do que a comoção com o desprezado tatu. Não estou aqui comparando sentimentos, ou qual deve ser mais compartilhado, nada disso.
Minha indignação é no sentido de que os incêndios que vieram a acometer a Amazônia no fim de 2019 também mataram e feriram inúmeros animais (um número bem menor do que na Austrália), porém, não observei por parte dos brasileiros comoção alguma em relação a esses animais ou, então, à vegetação da floresta que fora destruída em nossa casa.
Incêndios no Brasil
Como publiquei em outro artigo (23.08.2019) em relação aos incêndios no Brasil: “Vejo muitas questões políticas e econômicas sendo discutidas tanto no âmbito nacional como internacional. O que até o momento eu não vi, de nenhum líder político, foi preocupação com a floresta”.
Deveria eu ter editado a frase e a escrito da seguinte forma: “Vejo muitas questões políticas e econômicas sendo discutidas tanto no âmbito nacional como internacional. O que até o momento eu não vi, de nenhum líder político, e de grande parte da população brasileira, foi preocupação com a floresta”.
Gostaria que os brasileiros fossem dominados pelo mesmo sentimento que demonstram pelos animais e pela vegetação gringa e transferissem igualitariamente para “Nossos bosques (que realmente) têm mais vida”, mas não, a comoção brasileira se funde a ideologias políticas e esse sentimento é transformado em críticas, críticas e mais críticas governamentais. Perdemos o patriotismo? Perdemos! Não entrarei no mérito de quem está certo ou errado, ou se existe certo ou errado. Quando existem incêndios, não existem vitoriosos, todos saem perdendo.
Nesse sentido, nosso amor pela fauna e pela flora nacional também é destruído – da mesma forma com que o incêndio destrói – deixamos a ideologia política aflorar e falar mais alto e o “Gigante pela própria natureza” deixa de existir. Nos tornamos marionetes de políticos e manifestantes de facebook. Ficamos do “alto” de nossos sofás resmungando e apontando dedos, impressionados com incêndios que assolam a fauna e flora.
Finalizo este texto e corroboro com o que diz Camões :
“Eles verdes, são,
Na cor usança
Na cor esperança
E nas obras não.
Vossa condição
Não é de olhos verdes
Por que não vedes.”
Referências bibliográficas:
CAMÕES, Luis Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultriz, 1972. Z
Fonte: Revista Canavieiros
Por: Fabio Soldera