Taxa de juros minguam Plano Safra 2024/25
Assim como a broca da cana-de-açúcar causa danos devastadores nos canaviais, as altas taxas de juros corroeram as expectativas que cercavam o anúncio tardio do Plano Safra 2024/25, realizado no dia 3 de julho, quando era esperado para a primeira quinzena de maio, como em anos anteriores.
A edição do Plano Safra 2024/25 contará com R$ 475,5 bilhões em recursos para financiamentos de pequenos, médios e grandes produtores. Desse total, R$ 75 bilhões serão destinados ao crédito rural do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e R$ 400,5 bilhões para a agricultura empresarial.
Apesar do aumento de 10% em relação à safra anterior, o valor está aquém do solicitado pelos produtores, que, através da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e outras entidades, pediram R$ 570 bilhões, o que representaria um aumento de 30,8%.
A cana-de-açúcar e seus produtores necessitam de muitos recursos para investir e garantir uma excelente safra, contribuindo para o crescimento do Brasil. O aumento de 30,8% no volume financeiro era essencial, mas não foi atendido pelos economistas do governo.
Além da frustração inicial, lamenta-se também a falta de equalização das altas taxas de juros, que permanecem na casa dos dois dígitos, penalizando os produtores. No Plano Safra 2023/24, o governo destinou R$ 13 bilhões para a equalização. Para a edição 2024/25, os recursos aumentaram para R$ 16 bilhões, ainda abaixo dos R$ 21 bilhões solicitados pela CNA.
Dias antes do anúncio do plano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano, interrompendo o ciclo de corte dos juros básicos. Com taxas mais baixas, os produtores de cana-de-açúcar teriam acesso a crédito mais barato, facilitando investimentos na modernização da infraestrutura, aquisição de novas máquinas e equipamentos, e em pesquisa e desenvolvimento.
A Fenasucro & Agrocana, maior feira do setor, movimentou cerca de R$ 8,3 bilhões na última edição, mostrando a força do setor. Com taxas de juros melhores, a expectativa era de aumentar ainda mais o volume de negócios na edição de 2024, que completa 30 anos em agosto.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa para a produção de grãos nesta temporada é de 295,45 milhões de toneladas. No entanto, as chuvas fortes no Rio Grande do Sul impactarão negativamente o resultado final do ciclo atual. Para a cana, a safra foi recorde com 654,43 milhões de toneladas processadas, um crescimento de 19,29% em relação à safra anterior. Porém, para 2024/25, projeta-se uma redução de 7,9%.
Por isso, os recursos são estratégicos para ajudar o setor a superar desafios e promover o desenvolvimento sustentável e a resiliência na produção de alimentos diante das adversidades de mercado e climáticas. Apesar de insuficientes, é crucial que os recursos anunciados estejam disponíveis ao longo de toda a safra.
Mesmo diante das dificuldades, é imperativo investir em novas tecnologias e práticas de manejo. Na Canaoeste, por exemplo, investimos em projetos como a biofábrica, que fornece insumos biológicos para os associados, entre outros serviços disponibilizados.
O momento exige a famosa resiliência do produtor rural, que já está habituado a lidar com pragas nos canaviais e agora precisa enfrentar e superar a praga das elevadas taxas de juros, que ameaçam suas economias.
Almir Torcato, Gestor Executivo da Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo)