José Orive destaca protagonismo dos produtores independentes no Cana Summit 2025

A safra 2024/25 deve registrar a primeira queda na produção mundial de açúcar desde 2019/20, com um volume estimado em 175,5 milhões de toneladas – 5,8 milhões a menos que na temporada anterior. As causas incluem eventos climáticos adversos em países-chave como Índia, Paquistão e Tailândia, além de estagnação na capacidade produtiva global.
Durante sua participação no Cana Summit 2025, realizado em Brasília – DF, nos dias 2 e 3 de abril, o diretor executivo da International Sugar Organization (ISO), José Orive, apresentou um panorama abrangente sobre os desafios e oportunidades do mercado global de açúcar. O painel, destacou não apenas as tendências de produção e consumo, mas também a relevância dos produtores independentes na sustentação da cadeia sucroenergética mundial.
“A redução na produção da Índia elevou o déficit projetado para 2024/25 ao maior patamar dos últimos 16 anos, com 4,88 milhões de toneladas”, destacou.
No Brasil, após uma safra recorde em 2023/24 com 46,5 milhões de toneladas, a produção deve recuar para 42,5 milhões, mas ainda representar um desempenho sólido.
Consumo em alta, mas com crescimento mais lento
Enquanto a produção recua, o consumo mundial de açúcar continua em trajetória ascendente, com projeção de 180,4 milhões de toneladas para 2024/25, um recorde histórico. O crescimento, porém, desacelera para 0,25% ao ano, após uma média de 2,2% entre 2021 e 2023.
O avanço do consumo se concentra em África e China, enquanto Europa Ocidental e América do Norte mostram tendência de retração, impulsionada por preocupações com a saúde e o açúcar na dieta.
Na ocasião, Orive destacou o papel estratégico do Brasil no comércio global de açúcar, com o país respondendo por mais de 50% das exportações globais em 2023/24. A força do Brasil no mercado internacional ajuda a suavizar os impactos da volatilidade global, embora o país também enfrente seus próprios desafios climáticos.
Tensões comerciais e incertezas políticas
O painel também abordou as tarifas impostas pelos Estados Unidos, em especial as medidas anunciadas pelo presidente Donald Trump, que ameaçam desorganizar o fluxo comercial de açúcar. Orive alertou que tarifas inconsistentes, como a de 25% sobre importações do México, aumentam a incerteza no mercado.
“O risco está em uma possível guerra comercial e na reação em cadeia de outros países às políticas unilaterais”, avaliou.
Produtores independentes: os pilares invisíveis da indústria
Um dos pontos mais marcantes da fala de Orive foi o reconhecimento do papel dos produtores independentes de cana-de-açúcar. Segundo ele, esses produtores são essenciais para a estabilidade e continuidade da cadeia sucroenergética mundial, mas muitas vezes não recebem o devido destaque.
“Sem vocês, não existe indústria sucroenergética”, declarou, dirigindo-se aos produtores presentes no evento.
Dados apresentados pelo diretor mostram que:
No Brasil, cerca de 70 mil produtores independentes são responsáveis por 40% da produção nacional de cana;
Na Índia, esse número sobe para impressionantes 42,5 milhões de agricultores, responsáveis por 100% da produção;
Na Tailândia, os independentes representam cerca de 70% da produção, mostrando um modelo diferente de organização.
Orive destacou que, no Brasil, os produtores tendem a ter propriedades maiores e a atender várias usinas, criando um sistema mais estável e resiliente.
Perspectivas para o mercado
Apesar do déficit previsto e da queda na produção, a perspectiva da ISO para os preços até maio de 2025 é neutra a otimista, considerando fatores como:
Seca no Centro-Sul brasileiro
Chuvas insuficientes na Tailândia no período de plantio
Menor plantio de beterraba na União Europeia
Por outro lado, expectativas de melhores rendimentos agrícolas no Brasil para a safra 2025/26 podem exercer pressão baixista.
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