Relatório do Itaú BBA projeta superávit de açúcar, recuo na oferta de etanol e mudanças no cenário regulatório
 

O setor sucroenergético brasileiro caminha para um ciclo de ajustes relevantes na safra 2025/26. É o que aponta o relatório Visão Agro, divulgado pela consultoria agroindustrial do Itaú BBA, que analisa os principais movimentos esperados para a cana-de-açúcar, açúcar e etanol no Brasil e no mercado internacional.

Após perdas expressivas na Ásia durante a temporada 2024/25, a produção mundial de açúcar deve crescer 4,6%, alcançando 192,8 milhões de toneladas (MM t) de açúcar bruto equivalente. A expansão é puxada pela recuperação agrícola na Índia, Tailândia e Paquistão, com aumento da área plantada e melhora das condições climáticas.

No Brasil, as projeções são mais cautelosas. No Centro-Sul, a produção de cana pode cair para 590 MM t, impactada por baixa produtividade inicial, sobretudo em regiões como Ribeirão Preto e Catanduva – SP. Mesmo assim, a produção de açúcar deve subir 1,6%, chegando a 40,8 MM t, com mix açucareiro estimado em 52%. No Norte-Nordeste, espera-se crescimento de 3% na moagem e de 1,8% na produção de açúcar, totalizando 3,81 MM t.

Oferta global excedente pressiona preços do açúcar

Com demanda mundial prevista em 190,1 MM t, o mercado deve registrar superávit de 2,7 MM t, o que tende a manter os preços pressionados nos próximos meses. Esse excedente levanta dúvidas sobre a continuidade do atual ciclo de valorização do produto.

Ainda assim, boa parte do açúcar brasileiro da safra 2025/26 já foi comercializada antecipadamente, com preços acima da cotação atual de mercado (USD¢19/lb), o que garante rentabilidade no curto prazo. O desafio se desloca para a safra 2026/27, quando os preços futuros — hoje na faixa de USD¢17/lb — podem reduzir o diferencial positivo sobre o etanol e reconfigurar o mix produtivo das usinas.

Etanol: recuo na oferta apesar da demanda aquecida

A oferta total de etanol no Brasil deve cair 7%, mesmo com o crescimento da produção a partir do milho, estimada em 10 MM m³. A redução decorre da queda de 14% na produção de etanol de cana, projetada em 23,1 MM m³.

A demanda por etanol hidratado tende a encolher 18%, diante da perda de competitividade frente à gasolina, com a paridade de preços em São Paulo podendo subir para 70%, pressionando ainda mais o consumo. Já o etanol anidro deve crescer com a elevação da mistura obrigatória na gasolina, que passa de 27% para 30% a partir de 19 de agosto de 2025, conforme previsto na Lei do Combustível do Futuro.

Marco regulatório: CBios devem ganhar força em 2026

O mercado de créditos de descarbonização (CBios) entra em uma nova fase. A sanção do PL 3.149/20 fortalece o programa RenovaBio, com penalidades mais severas para distribuidoras que descumprirem metas e redistribuição obrigatória de receitas para produtores de cana.

A multa máxima passou a ser de R$ 500 milhões, e o não cumprimento configura crime ambiental. A nova legislação deve entrar em vigor em 2026, com expectativa de tornar o mercado mais robusto e previsível.

Usinas apostam no açúcar, mas margens serão menores

Mesmo com os preços do açúcar e do câmbio abaixo dos picos anteriores, o fato de parte relevante da produção ter sido fixada previamente a valores superiores garante margens positivas. No entanto, os custos operacionais devem subir, especialmente com insumos como fertilizantes.

A estratégia de armazenagem e hedge também ganha importância, principalmente para unidades com capacidade de estocar e negociar volumes para o início de 2026.

Produtores de cana terão leve alta na remuneração do ATR

A remuneração baseada no ATR (Açúcar Total Recuperável) deverá apresentar leve avanço. A estimativa para a safra é de R$ 1,21/kg de ATR, acima dos R$ 1,1926 da safra passada.

A convergência entre os preços de açúcar e etanol tende a reduzir distorções regionais e aliviar tensões históricas entre fornecedores e usinas, especialmente em áreas com vocação mais alcooleira.