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Geada agrava cenário desafiador da safra de cana-de-açúcar 2025/26

Especialistas alertam para impacto progressivo nos canaviais do Centro-Sul e risco de comprometimento da próxima safra

Em meio a um ciclo já marcado por adversidades climáticas, a recente onda de geada reacendeu as preocupações do setor sucroenergético. Em conversa promovida por Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e da Canaplan, com o especialista Nilceu Ifer Cardoso,  foram discutidos os efeitos já perceptíveis e os potenciais desdobramentos da geada que atingiu amplas áreas do Centro-Sul brasileiro.

“Estamos diante de mais um desafio climático para uma safra que já era difícil. As geadas atingem regularmente determinadas regiões, mas o impacto deste ano exige atenção redobrada”, destacou Nilceu. Segundo ele, os primeiros danos variam entre morte do meristema apical e necrose foliar, com maior intensidade em áreas de baixada, como no sul do Mato Grosso do Sul e do Paraná.

Temperatura abaixo do solo e danos ocultos

Ao contrário da percepção imediata, o impacto da geada sobre o canavial não é instantâneo. “É necessário tempo para verificar a real extensão dos danos. As plantas ainda estão respondendo ao estresse térmico, e só após dez dias é possível mensurar o impacto total”, explicou Nilceu.

Além disso, a diferença entre a temperatura registrada nas estações meteorológicas e o que ocorre na superfície do solo — onde está a planta — pode chegar a 4°C, o que significa que uma leitura de 2°C em abrigo meteorológico pode representar geada efetiva no canavial.

Qualidade e volume em xeque

A principal preocupação imediata recai sobre a degradação da qualidade da matéria-prima. “Se houver aumento da temperatura e umidade após o congelamento, o risco de deterioração microbiana nos colmos aumenta consideravelmente”, alertou Nilceu. O fenômeno, segundo ele, pode impactar diretamente no ATR (Açúcar Total Recuperável) e no TCH (Tonelada de Cana por Hectare), especialmente em áreas que estavam em retomada de desenvolvimento.

Além da colheita, outro impacto relevante é a reorganização do cronograma agrícola. Usinas podem ser forçadas a antecipar colheitas de canas que ainda não estavam maduras, prejudicando a performance industrial.

Reflexos para a safra 2026/27, expectativas irreais e riscos de mercado

A geada atual também ameaça comprometer a próxima safra. “As canas recém-plantadas, brotando sob palhada, são particularmente sensíveis. Podemos ver um atraso de até três ou quatro meses no desenvolvimento dessas plantas, o que afeta diretamente a safra seguinte”, pontuou Nilceu. A palhada, embora seja benéfica em muitos aspectos, atua como isolante térmico e dificulta a dissipação do frio do solo.

Apesar dos alertas técnicos, o mercado ainda precifica a safra como se o Centro-Sul fosse ultrapassar 600 milhões de toneladas de cana. “É irreal. A Canaplan já vinha apontando uma quebra, e agora a geada apenas intensifica o que já era previsto”, afirmou Caio Carvalho.

A desinformação, segundo os especialistas, tem consequências graves. Com uma estimativa mais realista entre 562 e 570 milhões de toneladas, o setor pode enfrentar um “susto” nos preços do açúcar no segundo semestre, especialmente considerando o aumento da mistura de etanol na gasolina (E30), o que elevará ainda mais a demanda pelo biocombustível.

“Não é hora de pânico, mas de planejamento e ação. A quebra da safra não é culpa da geada; ela já estava em curso. Agora temos um agravante que exige avaliação criteriosa, principalmente para não prejudicar ainda mais o ciclo 26/27”, concluiu Nilceu.

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