Safra 2025/26 deve recuar 5% e moagem no Centro-Sul fica projetada em 590 milhões de toneladas de cana

Queda de produtividade e qualidade da matéria-prima pressionam ATR e reduzem produção de etanol
A atual safra 2025/26 do Centro-Sul caminha para ser uma das mais desafiadoras da última década. Projeções da SCA Brasil indicam moagem de 590,4 milhões de toneladas de cana, 5% abaixo das 621,9 milhões do ciclo anterior. O resultado reflete perdas de produtividade agrícola e queda na qualidade da matéria-prima, em um cenário climático instável e marcado por oscilações no rendimento.
Com cerca de 60% da safra já realizada, os números foram apresentados durante a 15ª edição da série Conexão SCA Brasil, transmitida ao vivo pelo YouTube e LinkedIn, com participação do CEO da SCA, Martinho Seiiti Ono, do especialista em inteligência de mercado da Pecege Consultoria, Raphael Delloiagono, e da meteorologista da Climatempo, Marcely Sondermann.
Produtividade em queda e pior ATR das últimas safras
Segundo Ono, o índice de Tonelada de Cana por Hectare (TCH) deve atingir 74,7, queda de 4,8% frente aos 78,5 da safra passada. Já o Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) recua de 141,1 kg/t para 136,1 kg/t, redução de 5% e pior resultado recente. A combinação equivale a uma perda estimada de 53 milhões de toneladas de cana.
Delloiagono, da Pecege, ressaltou que, embora a safra esteja menos produtiva que as duas anteriores – favorecidas por clima ideal e ritmo recorde de moagem –, o acumulado até 1º de agosto, de 306,2 milhões de toneladas, se mantém próximo à linha histórica de 304,7 milhões. Ele apontou ainda sinais de recuperação na produtividade dos canaviais nas últimas semanas.
“O acumulado de 10 de agosto mostrava quebra de 8,2% frente ao ciclo anterior. A expectativa é que essa diferença se reduza no segundo semestre, com efeito das chuvas de abril e junho e temperaturas mais amenas, que diminuíram riscos de seca prolongada e incêndios em larga escala”, disse.
No ATR total, entretanto, a redução acumulada chega a quase 12%, comprometendo diretamente a produção de açúcar e etanol.
Mix mais açucareiro e retração no etanol
Apesar das adversidades, o setor direciona maior volume de cana para o açúcar. O mix a favor do produto atinge recorde de 51,1%, mas ainda assim a produção estimada é de 39,13 milhões de toneladas, 3% inferior à safra anterior.
No etanol, a situação é mais delicada. O anidro, proveniente da cana e do milho, deve avançar 6%, para 13,07 bilhões de litros. Já o hidratado recua 13%, para 19,76 bilhões de litros, contra 22,59 bilhões no ciclo 2024/25.
Segundo Ono, a produção de milho será crucial para compensar parte das perdas na cana. Do total estimado de 32,83 bilhões de litros – cerca de 2 bilhões abaixo da safra passada –, 23 bilhões virão da cana e 9,8 bilhões do milho, consolidando alta de 20% no biocombustível derivado do grão.
“Esse avanço ajuda a suavizar a retração da cana e reforça o papel estratégico do milho na matriz energética brasileira”, afirmou o executivo.
O mercado já projeta impacto sobre a paridade de preços entre hidratado e gasolina. Com menor oferta e qualidade da cana, a relação deve subir dos 65%-67% atuais para 70%-71% em São Paulo nos próximos meses.
Clima: influência da La Niña leve
De acordo com a Climatempo, o final de agosto deve ser marcado por onda de calor e temperaturas acima da normalidade nas áreas produtoras. Para a primavera, a previsão indica influência de um fenômeno La Niña moderado, com maior formação de corredores de umidade e temperaturas mais amenas no Centro-Sul.
“O início de setembro será seco e quente, mas a partir da segunda quinzena as chuvas devem retornar de forma gradual. Outubro deve ser chuvoso, enquanto novembro tende a registrar períodos mais secos combinados a picos de calor”, explicou a meteorologista Marcely Sondermann.
O cenário confirma uma safra de transição para o setor sucroenergético. A queda de produtividade e a retração do ATR pressionam margens e limitam ganhos, mas o milho desponta como contrapeso, ampliando sua relevância na matriz de biocombustíveis. Para o mercado, o desafio será equilibrar custos de produção, preços de paridade e estratégias comerciais diante de maior volatilidade climática e cambial.
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