Consecana: produtores e usinas em busca de um ajuste necessário
Ferramenta que marca o processo de desregulamentação do setor sucroenergético, o Consecana SP, ao longo desses mais de 20 anos de existência, consolidou-se como instrumento usado nacionalmente para mensurar essa relação de simbiose entre o produtor de cana e a usina.
Nesse período, o Consecana se converteu num elo fundamental dessa cadeia produtiva, no que diz respeito à sua remuneração.
Foi concebido pela parceria entre usina e produtores, por meio de suas entidades representativas: União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA), que se uniram movidas pelos interesses comuns de zelar pela comunicação entre as partes e promover a remuneração justa.
O Consecana foi criado com o objetivo de dar transparência no pagamento da cana ao fornecedor. O método busca extrair do faturamento da Unidade Industrial (usina) o valor correspondente à participação da cana, destinando assim, o pagamento para o fornecedor, lembrando que, em média, 50% da cana, hoje, tem como origem os produtores independentes.
Um dos conceitos estabelecidos pelo programa é o de pagar a matéria-prima através da qualidade entregue para a produção de açúcar e etanol.
Embora venha sendo marcado por uma trajetória em que se vislumbrem inúmeros acertos, o programa precisa passar por alguns ajustes para estar mais adaptado às condições atuais do mercado sucroenergético, marcadas pelas dificuldades no campo, a margens cada vez menores em face dos custos (insumos, mão de obra, diesel) e resultados cada vez mais apertados, justos.
Via de regra, o Consecana contempla, na matéria-prima, os produtos finais, que são 9 entre açúcar e álcool, e o percentual do valor comercializado volta para a cadeia da matéria-prima – logo, os produtores. Portanto, há margem para negociações e essa realidade não é acessível a todos.
A cana-de-açúcar tem uma especificidade significativa no aspecto logístico. Não necessariamente a escolha do comprador está atrelada a logística frente a proximidade do fundo agrícola, fazendo com que o seu potencial de negócio fique prejudicado.
Nesse sentido, considerando a evolução do setor sucroenergético, com outras fontes de rendas advindas da biomassa, estes não são contemplados nos parâmetros de remuneração. Bagaço, energia elétrica, crédito verde, carbono, o próprio CBio advindo do RenovaBio, são novos elementos que se somam à produção sucroenergética.
Assuntos como esse subsidiam questionamentos sobre a desatualização do sistema, que precisa se atualizar em virtude das demandas da modernidade que estão sendo vivenciadas pelo setor e por isso, se faz necessário reavivar essa importante parceria entre produtores de cana e usinas, cada qual levando em consideração suas vocações naturais, seja de ordem industrial ou agrícola.
Aqui vale destacar a dificuldade da unidade, já que operacionalizar a parte agrícola (geograficamente) é uma logística complexa, inclusive de mão de obra. Por isso, produtores normalmente são mais eficientes.
É sempre bom enfatizar que o Consecana é um modelo seguro e confiável, com fidúcia reconhecia no mercado. É esfera econômica monetária, sendo utilizado inclusive, como parâmetro econômico importante que serve de referência para a negociação de contratos financeiros, envolvendo negócios agrícolas voltados ao setor bioenergético.
O fato é que ainda há um imenso caminho a ser percorrido.
E essa jornada, além da resiliência inerente ao setor, já calejado em superar desafios, precisa contar com a participação das organizações para uma negociação, buscando uma construção coletiva, em que produtores e usinas caminhem lado a lado, como grandes parceiros e aliados de negócio rumo a uma economia ambientalmente sustentável, e nós produtores devemos fortalecer nossa cadeia a fim de garantirmos a representatividade necessária para tal feito.
Almir Aparecido Torcato Gestor Corporativo