Mais uma vez o Consecana-SP pode ser decisivo
Sistema de pagamento do Consecana-SP foi o “salvador da lavoura” na época da desregulamentação do setor
Para compreender como o Consecana-SP pode ser decisivo, mais uma vez, na solução do problema de se encontrar uma remuneração mais justa possível ao fornecedor de cana, é preciso entender como ele surgiu. Até 1977 o preço da matéria-prima era definido pelo seu peso na grande maioria das unidades industriais.
Somente em alguns casos o cálculo era feito com base no rendimento de açúcar. Em 1978 houve a primeira grande mudança, quando o IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), órgão do governo que regulamentava o setor, adotou o cálculo da remuneração da cana pela sua qualidade. No entanto, era praticamente impossível a alteração imediata do processo devido ao seu nível de detalhamento que demandava tempo para a execução de um projeto de implementação. Pelo menos no Estado de São Paulo, o tempo para a mudança da chave foi de cinco anos.
A extinção do IAA no início da década de 90 foi o início da ação que liberava e, posteriormente, voltava ao controle do governo a regulamentação da relação fornecedor-usina.
Essa confusão se deu porque sem o governo, os atores do setor não conseguiam se entender num denominador comum. Nesse cenário caótico, de quase uma década de desentendimento, depois de um profundo estudo executado por técnicos da Orplana, inspirado a partir da maneira individual que todos os países do mundo realizavam a formação do preço não só da cana-de-açúcar, mas da beterraba também, deu-se vida ao método Consecana.
Devido a qualidade do trabalho, não demorou muito para os técnicos da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) aprovarem a metodologia e, então, o valor da cana passou a ser definido perante a quantificação do total de açúcares recuperáveis (ATR) acrescido ao fator de participação do fornecedor nas negociações de açúcar e etanol. Diante do acordo foram elaborados um estatuto, regulamento e normas operacionais geridos pelo também criado, em 7 de junho de 1999, Consecana (Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, de Açúcar e de Etanol do Estado de São Paulo) ou Consecana-SP, entidade sem fins lucrativos e que tem sua diretoria constituída por 10 membros, sendo metade indicados pela Unica e a outra pela Orplana.
A partir daí, o setor se adaptou com a nova forma de pagamento, resolvendo com satisfação de ambas as partes o problema. No entanto, o tempo passou e os diversos furacões que atingiram o setor remodelaram sua paisagem, sendo impossível o sistema acompanhar as frequentes e profundas mudanças. Uma das principais consequências dessas transformações foi o rosto heterogêneo que os processos da cadeia criaram, o que atingiu em cheio a metodologia do sistema de pagamento, baseada numa linha reta, fazendo com que ele deixasse de ser o cálculo principal se tornando um balizador de preços.
Sob esse novo contexto, surgiu um problema e tanto para fornecedores e usinas, o da formalização de contratos curtos ou até mesmo a preferência pela venda da cana no mercado spot. Práticas que não trazem previsibilidade e segurança para ninguém.
O medo do problema aumentar e voltar aos tempos de caos vividos na década de 90 foi fundamental para agricultores e industriais tirarem novamente suas calculadoras do bolso e introduzirem, aos cálculos, formas de remuneração baseados nos princípios da meritocracia, que teve como primeiro passo a premiação pela qualidade do caldo. Muito está por vir e, se bem trabalhado, o Consecana terá tudo para, mais uma vez, ser decisivo dentro da história do setor sucroenergético.