Micronutrientes, aplicar ou não?
Nos últimos anos, os micronutrientes vêm sendo um dos assuntos mais discutidos no manejo da cana-de-açúcar e causa muito polêmica devido aos resultados contraditórios de algumas pesquisas.
Nos últimos anos, os micronutrientes vêm sendo um dos assuntos mais discutidos no manejo da cana-de-açúcar e causa muita polêmica devido aos resultados contraditórios de algumas pesquisas. Afinal, aplicar ou não Micronutrientes?
Atualmente, existem muitos pesquisadores que vêm realizando trabalhos nessa área na busca por resultados mais precisos e seguros. Os micronutrientes essenciais são: boro (B); Cobre (Cu); Cloro (Cl); Ferro (Fe); Manganês (Mn); Molibdênio (Mo) e Zinco (Zn), cada um possui sua função no metabolismo da cana-de-açúcar.
Com a expansão da cana-de-açúcar em áreas com baixa fertilidade, o uso de micronutrientes mostrou resultados significativos. Segundo Segato et al (2006), a utilização de micronutrientes está ligada a algumas características: a essencialidade as plantas e suas funções vitais; as deficiências observadas no campo; aos baixos teores em plantas deficientes, em comparação com as sadias; baixo teor no solo, sem utilização de fontes orgânicas e novas variedades mais produtivas e mais exigentes em micronutrientes.
A necessidade de micronutrientes é baixa, em relação aos
macronutrientes, porém possuem funções importantes para a produtividade
da cana-de-açúcar, são nutrientes essenciais, que completa o ciclo de
produção.
A disponibilidade dos micronutrientes para as plantas
depende de muitos fatores, como por exemplo, o pH do solo, como pode ser
observado no gráfico, apresentado na figura 1:
Analisando o gráfico, conforme sobe o pH, a disponibilidade de ferro, cobre, manganês e zinco diminui, ao contrário do molibdênio e cloro. Esta situação pode ser simulada com o uso do calcário para correção do solo. Pode-se observar que a faixa de pH ideal é entre 6 e 7. Outras práticas também podem influenciar na disponibilidade dos micronutrientes, como: canaviais com altas produtividades, onde ocorre maior extração; novas variedades, que possivelmente são mais exigentes; manejo no solo; tipo do solo; portanto para as recomendações de uso, deve-se conhecer o melhor método de aplicação, a necessidade do nutriente, o histórico da área, o solo, entre outros.
Quando o uso de micronutrientes ocorre em áreas corrigidas, solo com uso de resíduos da agroindústria ou em solos de alta fertilidade, seja via solo ou foliar, a resposta pode não ser observada, pois nessas áreas a necessidade dos micronutrientes foi suprida. Por isso, é imprescindível a realização da diagnose foliar e análise de solo, para identificar a necessidade do uso.
Para a diagnose foliar, deve-se coletar a folha +1 (figura 2), que representa a terceira folha a partir do ápice onde a bainha é totalmente visível, e desprezar a nervura central. A melhor época para avaliação é na fase desenvolvimento vegetativo, primavera-verão.
Mellis e Quaggio (2009), demostraram que a cana-de-açúcar apresentou resultados significativos para o uso de zinco, molibdênio e manganês, com ganhos de produtividade agrícola. Obtiveram respostas para a maioria dos experimentos em 13 usinas. Ressaltando ainda a necessidade da realização de mais estudos com micronutrientes em cana-de-açúcar que possibilitem estabelecer recomendações de adubação mais precisas para esses nutrientes.
O uso de micronutrientes pode ocorrer via solo e via folha. As doses dependem dos teores dos nutrientes no solo e da fonte do micronutriente. Atualmente se aplica no sulco de plantio, no corte de soqueira junto com o inseticida para o controle do sphenophorus, na aplicação de fungicidas, inseticidas e maturadores.
Segue a tabela 1, com parâmetros dos principais micronutrientes na cana-de-açúcar e a recomendação de aplicação via solo, adubação sólida, geralmente no plantio.
A correção de micronutrientes via adubação sólida, é lenta, porém mais duradoura. O uso na correção via tolete, junto com defensivos na cobrição da muda, (plantio), deve-se sempre avaliar a compatibilidade entre os produtos.
Aplicar de 300 a 350g por hectare de boro. Quando for o cobre, manganês, ferro e zinco aplicar de acordo com a extração (Vitti, 2012).
Para aplicações via folha e no corte de soqueiras, considerar as doses indicadas na Tabela 2. Para boro, aplicar também, 300 a 350g por hectare.
As fontes dos micronutrientes podem ser classificados quanto a origem e solubilidade: os óxidos possuem menor solubilidade e não são eficientes na forma de grânulos; os sulfatos são a fonte mais comum e possibilitam a mistura com outros fertilizantes; os óxi-sulfatos são normalmente granulados e possuem solubilidade intermediária; as fritas possuem liberação gradual dos micronutrientes e os quelatos são solúveis.
Os micronutrientes estão relacionados com o desenvolvimento e maturação da cana-de-açúcar. O boro é responsável pelo desenvolvimento das raízes e transporte de açúcares, o zinco está ligado à síntese de carboidratos e potencializa o hormônio de crescimento. O molibdênio aumenta a eficiência da adubação nitrogenada e a produção de sacarose. O manganês é responsável pela síntese de clorofila e desenvolvimento da raiz. O cobre é essencial no balanço dos nutrientes e auxilia na resistência de doenças.
Atualmente, com o maior número de estudos sobre micronutrientes, é muito recomendado o uso de boro, zinco e cobre, principalmente em solos de baixa fertilidade e expansão. O uso de zinco e boro no solo, granulado ou fluido, vem crescendo, pois esses micronutrientes asseguram um bom enraizamento e perfilhamento.
O uso de molibdênio via foliar vem aumentando principalmente nas lavouras das unidades industriais, para obter um incremento de produtividade, realizando a aplicação foliar de nitrogênio e molibdênio, na forma de molibdato de sódio. Exemplo: 55 kg/ha de 23-00-00 + 0,38%Mo. O período para melhor resposta dos micronutrientes via foliar, é no início das águas, na fase de maior desenvolvimento vegetativo da cana-de-açúcar, primavera e verão.
No corte de soqueira, os principais micronutrientes utilizados são boro, zinco, molibdênio e manganês, para melhor enraizamento, perfilhamento e aumento de produtividade. O zinco, devido à baixa mobilidade, quando aplicado próximo ao sistema radicular possui maior eficiência, enquanto o boro possui altíssima mobilidade, porém quando o solo está seco, limita a absorção e quando úmido, pode ser lixiviado. O manganês e o cobre possuem baixíssima mobilidade no solo, devem ser aplicados no plantio, e a quantidade fornecida deverá ser a necessária para todo o ciclo da cultura.
Pelas informações apresentadas, verifica-se que os micronutrientes devem ser utilizados de acordo com a necessidade da planta ou do solo, e que é imprescindível realizar a análise de solo ou diagnose foliar. Salientamos que é possível obter resultados favoráveis, principalmente em locais onde não tenha sido aplicado resíduos com traços de micronutrientes e em solos de baixa fertilidade. Seguindo os critérios de aplicação e a necessidade em relação ao nutriente, se evitará o uso desnecessário dos micronutrientes. O importante é avaliar bem cada situação, e aplicar somente nos casos de indicativo de deficiência.
Lembrando que, caso tenha dúvidas, procure um engenheiro agrônomo da Canaoeste, para maiores esclarecimentos.
Daniela Aragão Bacil – agrônoma da Canaoeste de Pontal
Alessandra Durigan – gestora da Canaoeste
Bibliografias Consultadas:
MALAVOLTA, E. et al. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2. ed. Piracicaba: Potafos, 1997. 319 p.
MELLIS, E.V. Novas Recomendações de micronutrientes para cana-de-açúcar. 2016.
MELLIS, E.V.; QUAGGIO, J.A. Micronutrientes em cana-de-açúcar: a fome oculta dos canaviais. 2009.
ORLANDO FILHO, J. Calagem e adubação da cana-de-açúcar. In: CÂMARA, G.M.S. & OLIVEIRA, E.A.M. Produção de cana-de-açúcar. 9.ed. Piracicaba, FEALQ/USP, 1993. p.133-146.
PENATTI, C.P. Adubação da cana-de-açúcar 30 anos de experiência. Itu. 2013.
SEGATO, V. S. et al.; Atualização em produção de cana de açúcar. Piracicaba CP. 2006.
VITTI, A.C. Micronutrientes em cana-de-açúcar. APTA Centro Sul. 2012.