Pequeno manual de identificação de um cerrado
É preciso fazer um diagnóstico preciso da área a fim de escolher as espécies realmente nativas de cerrado
No terceiro e último dia do evento, os participantes se dirigiram até o município de São Simão, onde, no Viveiro Carobinha, tiveram a oportunidade de conhecer as peculiaridades do bioma Cerrado.
Com a mudança de apenas um dos professores, já que Bruno Aranha deu lugar à especialista em matas de savana,Natália Guerin, e à participação ativa do criador do viveiro,Djalma Rosa, a dinâmica das atividades foi parecida com o dia anterior (visita à Mata de Santa Tereza), mas num cenário totalmente diferente.
No diagnóstico ambiental e identificação de espécies chaves, as diferenças já começaram logo no primeiro assunto tratado – a presença do cipó. Em decorrência da força radicular das outras espécies, ele se desenvolve de maneira natural ao longo do processo regenerativo num Cerrado. Ao contrário das matas, em momento algum é necessário o seu controle, pelo contrário, sua importância é fundamental, pois florescem o ano todo e trazem insetos que polinizarão a área.
O segundo tema comentado foi para aonde olhar. Na Floresta Caipira a dica quase sempre é levantar a cabeça e, no Cerrado, a direção do pescoço é inversa. É preciso olhar para baixo e observar bem o tipo de mato e arbustos da área, além também de ser necessário o uso da enxada e recolher amostras das raízes da área.
Um cajueiro apresentado por Rosa representava, superficialmente, três pequenas plantas tímidas, enquanto que, no subterrâneo, a árvore possui mais de seis metros de comprimento. Saber identificar as subcategorias do bioma foi um dos principais conhecimentos passados pelos professores.
Um Cerrado é considerado “Campo Aberto” quando a sua densidade e o tamanho das árvores são bem baixos. Quando ele é mais evoluído, passa a ser chamado de denso e tem em seu cenário uma grande riqueza de espécies já em um grau de evolução maior, sendo possível identificar alguma cobertura “do céu”.
Nesse momento, a conversa foi para a identificação do famoso Cerradão, um tipo de vegetação que se distingue do Cerrado denso, e possui configuração e espécies próprias.
Nele se caracterizam árvores mais altas (não como a floresta atlântica do interior) e também bastante densas, podendo ser facilmente confundidas com uma mata de transição. Diante dessa proximidade, a melhor forma de identificação é buscar encontrar árvores específicas do Cerradão, como a Sucupira branca, por exemplo.
O ambiente cuidado pelo viveirista Rosa é tão bem comservado que foi possível aos participantes observar todas as fases do bioma. O primeiro foi um campo aberto num processo bastante inicial de regeneração e que proporcionou outra interessante conversa sobre a presença do capim.
Como se tratava de uma área de eucalipto abandonada, a presença do mato exótico forma quase que um tapete em boa parte da área. Diante desse cenário foi colocada em pauta a possível utilização de gado para fazer a limpeza. Contudo, mesmo com um estudo de quantas cabeças seriam necessárias para fazer o serviço, a prática não está regulamentada, podendo gerar até mesmo autuações e multas no caso de uma reserva legal.
Ainda na questão do mato, os especialistas disseram que as espécies nativas se caracterizam por se construírem em moitas, com touceiras espaçadas, não formando o efeito de carpete como a braquiária, por exemplo. Outro detalhe é que as folhas das plantas originais possuem sua base achatada e as invasoras quase sempre são enroladas.
Uma espécie nativa encontrada na área foi o “Capim Azul”, que na época das águas fica na cor de seu nome, o que não atrai, por exemplo, o interesse do gado, porém possui forte mercado para os paisagistas.
Para fechar todas as formas de Cerrado paulista, foi possível conhecer as matas de galeria, que consistem na união das folhas da copa de ambas as margens num curso d’água. Formação que pode ser encontrada também em florestas, e para identificar a área o processo é o mesmo – a identificação das espécies.
Ao longo de todo o dia, os mestres, conforme iam encontrando, mostravam quais eram as árvores típicas do bioma, sendo as de maiores destaques o Pequi, o Pau-Terra, a Pimenta de Macaco, o Angico-do-Cerrado e a Gabiroba.
Escrito por: Marino Guerra
Fotos: Rodrigo Moisés
Fonte: Revista Canavieiros