Sob os olhos do dono
A boa conduta muitas vezes não pede máquinas autônomas, drones com sensores de última geração, ou até mesmo conectividade 4G bem no meio do talhão. Ela exige do produtor apenas uma característica, zelo pela sua roça. Assim é a história dos irmãos produtores de Morro Agudo, Luiz Carlos Martins Júnior e George Augusto Rosa Martins, que todos os anos, ao longo dos cerca de 20 dias que a usina leva para realizar a colheita no canavial de 326 hectares, executam um trabalho intensivo de acompanhamento da operação.
Inspirados pelo tio, o tradicional produtor da região Kiko Rosa, e sob os incentivos da mãe, Sueli Rosa Martins, o processo de acompanhamento consiste em algumas ações. Basicamente, a cada turno da máquina são realizadas três amostragens (divididas ao longo do tempo) através da delimitação de uma área de 3 x 3 m (9 m² ) por onde a máquina acabou de passar. Feito isso, retira-se a palha para verificar o quanto de cana (lasca, pedaços, ponta e bagaço) foi desperdiçado e finalmente há a pesagem. Segundo Martins Júnior, o limite tolerável é de um quilo, o que representa, numa projeção por hectare, a perda de uma tonelada de cana. “Quando identificamos que há um peso maior que o limite conversamos com o operador e, dependendo do que encontramos, já sabemos qual é o problema que a máquina apresenta”.
Outro ponto de observação é a situação da soqueira, pois como a palhada é retirada, dá para ver se alguma foi prejudicada no processo de corte. “Ao observar as soqueiras dá para ver se a faca do corte de base está boa, ou então, se a velocidade está muito alta”, conta Martins.
Os produtores também contam que observam a passagem da cana do transbordo para o caminhão que irá transportá-la para a usina, não permitindo que encha muito as carretas para não correr o risco de ter queda ou perda de carga pelo caminho. Para executar o serviço, que ao longo do processo demanda presença dia e noite, além dos dois irmãos mais três profissionais estão incumbidos, sem contar com o agrônomo da Canaoeste da filial de Morro Agudo, João Fernando de Freitas, que orienta sobre os aspectos técnicos.
Com a experiência, eles contam que compreenderam que é fundamental ter feeling para reconhecer que, às vezes, o desperdício é em decorrência da situação do canavial como, por exemplo, em áreas cuja cana está deitada ou quando há algum desnível no meio do talhão que repentinamente causa o desalinhamento da colhedora.
“É preciso ressaltar que o trabalho da usina melhorou significativamente, e a identificação do alto número de pedaços de cana é cada vez mais raro. Acredito muito que esse manejo trouxe um ganho de experiência, tanto para nós como para a equipe de colheita. Para isso foi fundamental a nossa postura de sempre trabalhar no sentido colaborativo e nunca em querer combater o outro lado”, disse Martins Júnior. Sobre o resultado final, ele conta que às vezes uma máquina mal regulada pode acarretar na perda de cinco ou seis toneladas por hectare, fora o problema muito mais grave e custoso que é o arranque de soqueira.
Por: Marino Guerra – Revista Canavieiros