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Agro sustenta melhora dos indicadores em 2025 enquanto produtores encaram mais riscos em 2026

Cenário positivo deste ano contrasta com menor oferta de crédito, endividamento elevado e incertezas internas e externas que pressionam a rentabilidade no campo

O agronegócio foi determinante para a melhora dos indicadores econômicos em 2025, ajudando a reduzir a inflação e a sustentar o PIB, mas a capacidade do produtor rural de manter o ritmo de produção em 2026 dependerá cada vez mais do uso de capital próprio, diante do crédito mais caro, escasso e de uma inadimplência que atingiu níveis inéditos. As projeções foram apresentadas pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) na coletiva realizada nesta terça-feira (9), com participação do presidente João Martins, da diretora de Relações Internacionais, Sueme Mori, e do diretor técnico, Bruno Lucchi.

A CNA prevê alta de 1% no PIB do agronegócio em 2026, após expansão estimada de 9,6% em 2025, impulsionada por safras recordes de soja e milho. Segundo a entidade, a combinação entre juros elevados, exigências maiores de garantias e retração dos bancos oficiais tem obrigado os produtores a ampliarem o uso de recursos próprios para financiar operações. O crédito oficial representa cerca de 30% do total utilizado no campo, enquanto 40% vêm do mercado privado e os 30% restantes provêm de capital próprio, fatia que voltou a crescer após anos de retração.

O avanço da inadimplência ilustra o aperto financeiro: o crédito rural a taxas de mercado registrou índice de 11,4% em outubro, o maior da série iniciada em 2011. A CNA atribui o salto a perdas climáticas sucessivas, queda nos preços das commodities, custos mais altos de produção, baixa cobertura do seguro rural e maior cautela dos credores, em meio ao aumento de recuperações judiciais no setor. Em 2025, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural cobriu menos de 5% da área agricultável do país, seu pior desempenho desde 2007.

A entidade alerta que o custo do financiamento será um dos principais fatores a pressionar a rentabilidade no próximo ciclo. Mesmo com expectativa de preços melhores para soja e milho em 2026, com estimativa de alta de até 15% para o cereal, a elevação dos custos financeiros tende a limitar a margem do produtor. A CNA avalia que o ajuste no uso do crédito deverá seguir em curso até que haja maior estabilidade nas condições de financiamento, o que não deve ocorrer antes de 2027.

VBP projeta avanço em 2026 com força maior da agricultura

Apesar das restrições, o Valor Bruto da Produção (VBP) deve alcançar R$ 1,57 trilhão em 2026, alta de 5,1%. O segmento agrícola deve somar R$ 1,04 trilhão (+6,6%), sustentado pela expansão projetada para as culturas de maior peso econômico, especialmente grãos. No caso da cana-de-açúcar, a CNA observa que o setor segue favorecido pela recuperação dos preços da pecuária, pela demanda firme de etanol e pelo crescimento das exportações de açúcar, fatores que contribuem para um ambiente de preços relativamente estável, ainda que a margem do produtor continue pressionada pelos custos financeiros e pelas oscilações climáticas.

A produção nacional de grãos deve totalizar 354,8 milhões de toneladas (+0,8%) na safra 2025/26, segundo a Conab. A soja deve crescer 3,6%, mas o milho tende a recuar 1,6% no consolidado das três safras, em linha com ajustes de área e produtividade. Arroz deve registrar queda de 11,5%, reflexo da menor área plantada após queda nos preços em 2025. Na pecuária, a forte retenção de fêmeas deve reduzir a oferta de bovinos em 2026, elevando preços da arroba e de animais de reposição.

O uso crescente de capital próprio também se reflete na dinâmica das cadeias permanentes, como a de cana. Com maior restrição ao crédito de investimento, produtores mais capitalizados tendem a manter o ritmo de renovação do canavial e práticas de manejo, enquanto os menos capitalizados enfrentam dificuldade para financiar tratos culturais, mecanização e adubação, elementos que definem produtividade e eficiência em um setor de ciclo longo.

No cenário econômico mais amplo, a CNA reforça que o agro ajudou a conter a inflação, projetada em 4,4% em 2025, e contribuiu para a expansão do PIB nacional. Sem o setor, afirma a entidade, haveria risco de descumprimento da meta inflacionária, o que demandaria política monetária ainda mais restritiva, mantendo a Selic em nível elevado.

As incertezas externas também pesam nas projeções para 2026. A política comercial dos Estados Unidos e possíveis salvaguardas no setor de carne bovina na China podem afetar exportações brasileiras e pressionar margens produtoras. O impacto potencial das tarifas americanas pode chegar a US$ 2,7 bilhões, equivalente a 22% das exportações do agro para o país. A negociação do acordo Mercosul-União Europeia permanece como fonte adicional de risco regulatório para produtos agrícolas.

Para a CNA, o desempenho do produtor em 2026 dependerá da capacidade de enfrentar custos maiores, crédito limitado e volatilidade climática, ao mesmo tempo em que busca preservar renda e produtividade. A entidade defende soluções estruturais que fortaleçam a resiliência financeira e climática do campo e garantam previsibilidade para a tomada de decisão, especialmente em cadeias como soja, milho, pecuária e cana-de-açúcar, nas quais a pressão por capital de giro e investimento é permanente.

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