Agronegócio em risco: 80% das atividades rurais pertencem a grupos familiares, mas só 5% sobrevivem até a terceira geração

Falta de planejamento sucessório com a devida estruturação jurídica para garantir a sucessão dos negócios é a principal ameaça continuidade da atividade rural no Brasil
Agronegócio familiar brasileiro enfrenta desafios críticos na sucessão entre gerações. Responsável por quase 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o agronegócio tem um DNA predominantemente familiar: mais de 80% das propriedades rurais são administradas por famílias, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). No entanto, a longevidade desses negócios ainda é um desafio: apenas 30% chegam à segunda geração, e menos de 5% resistem até a terceira, de acordo com o Censo Agropecuário do IBGE.
Muitas dessas propriedades operam de maneira informal, com laços familiares profundamente imbricados na gestão. Sem um planejamento sucessório estruturado, o futuro das atividades rurais pode ficar comprometido, com disputas entre herdeiros, perda de eficiência e, em alguns casos, a interrupção total das operações.
“Há uma resistência compreensível das famílias em abordar esse tema, mas ignorar a sucessão é como deixar um trator ligado sem ninguém ao volante: em algum momento, ele vai parar. Estamos lidando com um setor vital para a economia nacional, cuja estrutura jurídica nem sempre acompanha a complexidade da gestão”, alerta a advogada Ariadne Maranhão, especialista em Direito de Famílias e Sucessões.
Entre os instrumentos jurídicos que auxiliam na continuidade e proteção do patrimônio rural estão as holdings familiares, os testamentos, os contratos de doação com reserva de usufruto e os protocolos familiares, este último, um documento que estabelece diretrizes de convivência e governança entre os membros da família envolvidos no negócio.
“Planejar a sucessão não é apenas decidir como o patrimônio será dividido. É garantir que o comando do negócio permaneça sólido, em harmonia com a vontade do fundador e com segurança jurídica para todos os envolvidos”, explica Ariadne.
Ela ressalta ainda a importância de envolver todos os membros da família no processo. “Quando o diálogo é estimulado desde cedo, é possível construir um plano transparente, coeso e sustentável. No fundo, planejar a sucessão no agronegócio é preservar uma trajetória construída ao longo de gerações, e garantir que ela continue”.
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