Bioenergia avança e ganha espaço na matriz energética brasileira
No mês de abril foi realizada a Agenda Setorial 2021, evento focado em mostrar as principais realizações do setor energético brasileiro. O encontro foi promovido pelo Grupo Canal Energia com o “Informa Markets” e teve a participação de diversas autoridades, entre elas, o ministro do MME — Ministério de Minas e Energia, Bento Albuquerque; a secretária executiva do MME, Marisete Pereira; o presidente do CCEE — Conselho de Administração na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Rui Altieri; o diretor-geral do ONS — Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Carlos Ciocchi; o presidente da EPE — Empresa de Pesquisa Energética, Thiago Barral; e, o diretor-geral da ANEEL — Agência Nacional de Energia Elétrica, André Pepitone.
Durante seu pronunciamento, Bento Albuquerque destacou as ações feitas pelo Governo Federal para manter o abastecimento elétrico brasileiro em meio à pandemia da Covid-19. O ministro apontou as modernizações implantadas pelo Governo Jair Bolsonaro e os esforços em manter o abastecimento de energia no Brasil diante de uma crise sanitária mundial. O ministro destacou as medidas de modernização do setor elétrico, destacando a busca pela livre competição de mercado para a promoção da eficiência e segurança do abastecimento nas áreas de energia elétrica, etanol e gás natural.
Albuquerque comentou sobre a ideia de livre venda de energia no mercado interno estabelecida pela Portaria 465 do Ministério de Minas e Energia e destacou que o país está na “vanguarda” em relação à produção energética. O responsável pelo MME comentou sobre as medidas provisórias editadas pelo governo, entre elas, a MP 950, que autorizou o empréstimo da Conta Covid; a MP 998, de redução tarifária e a MP 1010, que isentou o pagamento da conta de luz por moradores afetados pelo blecaute de novembro no Amapá. Citou também a MP 1.031, que permite a privatização da Eletrobras, a Lei 14.052, em 2020, que trata do acordo do risco hidrológico (GSF), e a Lei 14.134, conhecida como atualmente como Lei do Gás. “Muito fizemos para mitigar os desdobramentos da pandemia e ainda há muito por fazer” finalizou o ministro Bento Albuquerque
Reservatórios baixos nas hidrelétricas: bioenergia entra como socorro!
A bioenergia adquirida através da queima do bagaço da cana vai conquistar mais espaço dentro das chamadas fontes de energia renováveis. A biomassa, composto que é resultado da moagem da cana-de-açúcar e que pode ser transformada quase que totalmente em energia elétrica, é um recurso importante para o setor elétrico brasileiro.
Diante da queda dos reservatórios, a bioenergia surge como uma alternativa para compensar a perda da geração produzida pelas hidrelétricas. Somente no mês de março, o Sistema Interligado Nacional — SIN registrou seu pior momento dos últimos 91 anos, com a média dos reservatórios batendo a casa dos 45%, cenário este que colocou o setor de produção de energia em alerta. O tema foi discutido durante seminário que debateu os “Rumos do Setor de Energia para o Biênio 2021/2022”.
“De fato, a biomassa tem um papel relevante na nossa matriz, sobretudo porque ela complementa a sazonalidade das hidrelétricas, algo que também a eólica, a solar vem somar para tirar a pressão sobre o uso dos reservatórios no período da estiagem. Nesse sentido, a biomassa tem um papel bastante importante complementar as demais fontes, sobretudo a hidrelétrica”, destacou o presidente da EPE, Thiago Barral.
Somente no ano passado, de acordo com dados da Unica — União da Indústria de Cana-de-Açúcar a geração da bioeletricidade da cana para a rede poupou 15% da energia capaz de ser armazenada sob a forma de água nos reservatórios das hidrelétricas do submercado Sudeste/Centro-Oeste, justamente no período seco e crítico para o setor elétrico brasileiro.
Em 2020, o setor sucroenergético foi o responsável por 82,3% da energia elétrica gerada a partir de biomassa. Ou seja, 22,6 mil GWh ofertados à rede. Volume que representou crescimento de 0,9% na comparação com 2019.
É estimado, de acordo com o PDE — Plano Decenal de Expansão de Energia, que até 2030 haverá expansão termelétrica da biomassa de 1.095 MW, dos quais 80% serão provenientes de bagaço da cana, e o restante de resíduo florestal. Essa energia derivada da cana para a rede representa uma geração equivalente a uma economia de 10% da energia armazenada anual sob a forma de água nos reservatórios das hidrelétricas do submercado Sudeste/Centro-Oeste.
“É importante destacar que a expansão da biomassa está concentrada além do setor elétrico, então a biomassa tem um papel cada vez mais relevante na matriz energética brasileira, na matriz global pra descarbonização e substituição de derivados de petróleo, seja na matriz de transporte, mas também na indústria e no setor elétrico”, comenta Barral.
O presidente do EPE destaca ainda pontos positivos que provem da produção da biomassa, como, por exemplo, os programas “RenovaBio” e “Combustível do Futuro”, o último anunciado em abril. “Existem algumas sinergias. O Brasil tem o programa RenovaBio que tem um mercado de Cbios que pretende reduzir a pegada de carbono no setor de transporte, na substituição de combustíveis ao longo dos anos e o uso resulta no acréscimo da produção dos biocombustíveis e consequentemente no acréscimo na oferta de biomassa que traz uma oportunidade ao longo desse horizonte”, aponta Barral.
“Outro aspecto fundamental é que o Governo Federal está desenvolvendo o programa ‘Combustível do Futuro’ que também foi anunciado pelo CNPE — Conselho Nacional de Política Energética — que vai fazer uma integração de políticas o que também deve trazer um cenário importante”. O presidente do EPE acrescenta ainda pontos favoráveis ao uso do biogás que pode ocupar ainda mais espaço na matriz energética brasileira.
“O que acho importante nesse cenário de precificação de carbono é também o ajuste nos sinais de preço que a partir desse momento, possamos ter pelo ajuste da aversão a risco, pela melhor representação da fonte hidrelétrica. Que esse sinal, faça com que mais biomassa esteja disponível”, destaca.
“Nós já vimos que os geradores à biomassa têm uma capacidade de resposta muito grande a esses sinais de preço. Penso que o grande desafio está exatamente em estimular essa adequação de preço que tenho bastante expectativa de que a biomassa vai responder”, finaliza Thiago Barral.
Por: Eddie Nascimento