Carros voadores deixam a ficção e abrem nova fronteira para o produtor rural
Especialistas projetam frota global de dezenas de milhares de aeronaves até 2045
Carros voadores ainda soam futuristas para quem vive no campo, mas a tecnologia já saiu da fase de maquete. De um lado, a Eve Air Mobility subsidiária da Embraer acaba de obter financiamento de 200 milhões de reais do BNDES para avançar na etapa de integração dos motores elétricos e nos testes de certificação de sua aeronave elétrica de decolagem vertical conhecida como
De outro, nos Estados Unidos, a Alef Aeronautics iniciou em dezembro a produção do Model A Ultralight com primeiras entregas previstas para o início de 2026 e cerca de 3,5 mil pré encomendas a um valor em torno de 300 mil dólares por unidade.
Na prática, os eVTOLs formam uma nova classe de veículos elétricos capazes de decolar e pousar na vertical. O modelo da Eve foi projetado para transportar um piloto e quatro passageiros, com autonomia próxima de cem quilômetros para ligar pontos estratégicos de grandes cidades e regiões metropolitanas. A aeronave usa oito motores elétricos nas asas para o voo vertical e um motor traseiro para o deslocamento horizontal, combinando menor emissão de gases de efeito estufa com níveis de ruído inferiores aos de helicópteros.
No plano financeiro, o apoio do BNDES soma se a uma linha de crédito que já ultrapassa um bilhão e duzentos milhões de reais desde 2022 incluindo a fábrica em Taubaté no interior paulista e investimentos em capital da própria Eve.
O objetivo é viabilizar o voo de protótipos em 2026 e a entrada em operação comercial a partir de 2027 em um modelo de táxi aéreo urbano com vertiportos dedicados e pilotos profissionais treinados segundo novas regras da Agência Nacional de Aviação Civil.
O que essa nova aviação pode significar para o campo
Embora o foco inicial esteja nas grandes metrópoles, a própria Embraer projeta que a frota mundial de eVTOLs pode chegar a cerca de trinta mil unidades até 2045 com potencial de transportar mais de três bilhões de passageiros e gerar receita próxima de duzentos e oitenta bilhões de dólares.
Em horizontes mais longos, essa escala tende a reduzir custos e abrir espaço para aplicações além dos centros urbanos incluindo o agronegócio.
Para o produtor de cana e de outras culturas de escala, alguns usos se destacam no médio e longo prazo. Um deles é o deslocamento rápido entre propriedades, escritórios regionais e polos urbanos para reuniões, visitas técnicas e negociações comerciais reduzindo horas de estrada em regiões com infraestrutura viária limitada. Outro é o apoio a operações de fiscalização de áreas, monitoramento de queimadas ilegais, acompanhamento de obras de irrigação e inspeção de linhas de transmissão e dutos que cruzam áreas rurais.
Em situações de emergência de saúde, um sistema regional de eVTOLs poderia encurtar o tempo de chegada a hospitais de referência, tema sensível para produtores e trabalhadores que atuam longe de centros urbanos.
Desafios de infraestrutura e regulação para chegar ao produtor
Para que essa realidade chegue ao universo do produtor rural, porém, será necessário mais do que tecnologia embarcada. A projeção da Eve considera a criação de redes de vertiportos e integração com o espaço aéreo controlado, com novas regras de segurança, licenciamento de pilotos e sistemas digitais para gerenciar o tráfego de dezenas ou centenas de aeronaves em rotas de curta distância.
No campo, isso significa planejar desde já como essa infraestrutura poderia se conectar a polos agroindustriais, cidades médias e grandes usinas.
Outro ponto é o custo. Hoje, um carro voador como o Model A produzido na Califórnia custa cerca de trezentos mil dólares e será entregue primeiro a poucos clientes selecionados para testes em condições reais antes da produção em massa.
Na fase inicial, o serviço deve se assemelhar mais a um táxi aéreo premium ligando aeroportos, centros financeiros e bairros de alto padrão do que a um veículo ao alcance direto do produtor rural. A tendência, no entanto, é que a curva de adoção siga trajetória semelhante à de outras tecnologias, como drones na agricultura, que começaram restritas e caras e hoje fazem parte do dia a dia de muitas propriedades.
Papel do produtor e de entidades como a Canaoeste
Para associações de produtores, como a Canaoeste, acompanhar esse movimento desde o início pode fazer diferença. Entender o desenho regulatório, os modelos de negócio e as rotas prioritárias permitirá ao setor canavieiro defender a inclusão de corredores que atendam regiões produtoras, usinas e polos logísticos, e não apenas grandes capitais. Também abre espaço para parcerias em projetos pilotos, estudos sobre uso integrado com drones e veículos autônomos em solo e avaliação de impactos ambientais e de ruído sobre áreas rurais.
Os carros voadores ainda vão levar alguns anos para aparecer de forma concreta no horizonte do produtor. Mas o fato de que uma subsidiária da Embraer já recebe financiamento robusto para testar e certificar sua aeronave elétrica, enquanto outra empresa americana inicia a produção de um modelo apto a rodar em ruas e decolar verticalmente, mostra que essa nova aviação está saindo do campo das ideias. Quem vive da terra não precisa embarcar no primeiro voo, mas olhar para o céu com atenção começa a ser uma boa estratégia de planejamento de longo prazo.
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