Clima ganha peso nas decisões do setor e reforça papel do etanol no equilíbrio do mercado
Entressafra no Centro-Sul, safra mais resiliente e variáveis climáticas ampliam a sensibilidade de açúcar e etanol
O clima segue como a principal variável de risco e de ajuste para o setor sucroenergético, influenciando diretamente a oferta de cana, o mix produtivo e o equilíbrio entre açúcar e etanol, segundo o Agro Mensal de dezembro de 2025 da Consultoria Agro do Itaú BBA. Em um cenário de entressafra no Centro-Sul e de maior volatilidade climática global, decisões industriais e expectativas de mercado tornam-se ainda mais dependentes do comportamento das chuvas e da temperatura.
No Centro-Sul do Brasil, a safra 2025/26 mostrou desempenho mais resiliente do que o inicialmente projetado, mesmo sob influência de irregularidades climáticas ao longo do ciclo. Até 15 de novembro, a moagem acumulou 576 milhões de toneladas de cana, apenas 1,3% abaixo do volume registrado no mesmo período da safra anterior. A produção de açúcar alcançou 39,2 milhões de toneladas, alta de 2,1% na comparação anual, resultado associado à melhora da produtividade agrícola e da concentração de sacarose a partir da metade da safra.
Com base nesses indicadores, o Itaú BBA revisou a estimativa de moagem para 605 milhões de toneladas em 2025/26, queda de 2,7% frente a 2024/25. A produção de açúcar foi ajustada para 40,4 milhões de toneladas, avanço de 0,6% na comparação anual. O ATR médio da safra foi estimado em 137,8 kg por tonelada de cana, retração de 2,4%, enquanto o mix açucareiro subiu para 50,9%, ante 48,1% na safra anterior, evidenciando a resposta das usinas às condições de mercado e ao clima ao longo do ciclo.
No mercado internacional, os preços do açúcar reagiram em novembro com menor pessimismo, ainda que sem mudança estrutural nos fundamentos. O açúcar bruto negociado em Nova York subiu 5,4% no mês, encerrando novembro a 15,21 centavos de dólar por libra-peso. A recuperação ocorreu apesar de sinais de aumento da oferta global, reforçando que a percepção de risco climático segue relevante para a formação de preços.
Etanol entra na entressafra com preços em alta e maior dependência do clima
No caso do etanol, o impacto climático é ainda mais direto no curto prazo. A maior parte das usinas do Centro-Sul já encerrou ou está em fase final da colheita 2025/26, reduzindo a oferta do biocombustível durante a entressafra e sustentando a tendência de alta dos preços. A produção total de etanol no Centro-Sul foi estimada em 33,6 bilhões de litros, queda de 3,9% em relação à safra anterior.
O etanol de cana deve somar 24,1 bilhões de litros, recuo de 10,1%, enquanto o etanol de milho mantém trajetória de expansão e deve atingir 9,6 bilhões de litros, alta de 16,6% na comparação anual. Apesar da redução no total produzido, o volume representa quase 1 bilhão de litros acima da estimativa anterior da consultoria, refletindo ajustes operacionais e ganhos de eficiência, mesmo sob um ambiente climático desafiador.
Para que o mercado se equilibre nos próximos meses, o consumo doméstico de etanol hidratado precisará recuar de uma média mensal de 1,65 bilhão de litros no quarto trimestre de 2025 para cerca de 1,41 bilhão de litros por mês no primeiro trimestre de 2026. Nesse contexto, a paridade do etanol frente à gasolina tende a subir. A estimativa do Itaú BBA é de paridade média de 69% no estado de São Paulo na safra 2025/26, acima dos 66% observados em 2024/25, o que deve manter os preços do hidratado acima de R$ 3,00 por litro em Paulínia no início de 2026.
Chuvas e eventos climáticos seguem no radar para a próxima safra
Do ponto de vista climático, as chuvas retornaram ao Centro-Norte do Brasil em novembro, favorecendo a recuperação parcial da umidade do solo, ainda que de forma irregular. Áreas do Mato Grosso e de Goiás seguiram sob estresse hídrico pontual, enquanto no Sul do país, especialmente no Rio Grande do Sul, a atuação do La Niña reforçou períodos mais secos. A previsão indica que o fenômeno deve persistir ao menos até fevereiro de 2026, com intensidade fraca e sinais de enfraquecimento no primeiro trimestre.
Para o Sudeste e o Centro-Oeste, os modelos apontam chuvas próximas ou ligeiramente acima da média histórica, cenário considerado positivo para a formação dos canaviais da safra 2026/27. Ainda assim, o relatório ressalta que a irregularidade das precipitações exige acompanhamento constante, uma vez que qualquer desvio relevante pode afetar produtividade, ATR e decisões de mix.
Nesse contexto, o clima consolida-se como o principal fator de incerteza e de ajuste para o setor sucroenergético. A combinação entre condições climáticas, ritmo da entressafra e expansão do etanol, especialmente o de milho, reforça o papel do biocombustível como variável-chave para o equilíbrio do mercado de açúcar no curto e médio prazo.
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