Setor sucroenergético entra em 2025/26 com custos em alta, produtividade em queda e pressão sobre preços do açúcar

Levantamento de economista do Pecege aponta quebra de 5% na safra do Centro-Sul, retração no ATR e aumento do custo agrícola para R$ 166/t
O setor sucroenergético brasileiro atravessa um cenário de ajuste delicado. No Encontro de Produtores realizado pela Canaoeste no primeiro dia da Fenasucro & Agrocana, Raphael Delloiagono, economista do Pecege, detalhou as dinâmicas recentes das safras 2024/25 e 2025/26, combinando análise de custos, produtividade, produção e tendências de preços.
Segundo Delloiagono, a safra 2024/25 teve início acelerado, beneficiada por condições climáticas favoráveis no primeiro semestre, mas terminou com desempenho aquém das expectativas. A produção de cana no Centro-Sul ficou quase 30 milhões de toneladas abaixo da safra 2023/24 — recordista em produtividade e preço do açúcar — e a média caiu de 87 toneladas por hectare para 72 t/ha, retornando aos níveis históricos dos últimos cinco anos.
A principal causa foi o déficit hídrico no verão 2023/24, período de menor precipitação acumulada em três décadas, justamente na fase crítica de desenvolvimento do canavial. O impacto foi direto na produtividade e, consequentemente, nos custos fixos do setor.
Custos voltam a subir após alívio em 2023/24
O Levantamento Bianual de Custos — amostra de 106 unidades agroindustriais, entre usinas e fornecedores — registrou custo agrícola médio de R$ 166 por tonelada, revertendo a redução obtida no ciclo anterior.
Na formação do canavial, os principais componentes foram preparo do solo: R$ 5.300/há; plantio: R$ 9.000/ha (75% mecanizado; mudas respondem por mais de R$ 10 mil/ha) e tratos culturais: R$ 3.000/ha
O custo médio de formação ficou em R$ 17.400/ha, com disparidades regionais — produtores mais eficientes gastaram cerca de R$ 15 mil, enquanto outros superaram R$ 20 mil/ha.
O economista ressaltou que, na etapa de colheita e transporte, que representam 46% do custo por tonelada, o raio médio foi de 25 km. Já o arrendamento é destaque negativo na região paulista de Ribeirão Preto e Sertãozinho, com média de 24 t/ha/ano, a mais alta do Centro-Sul, elevando o custo de produção da cana.
A estrutura de custos por tonelada é composta por 45%: custos operacionais (diesel, mão de obra, máquinas, irrigação); 25%: insumos (fertilizantes, defensivos, mudas) e 19%: arrendamento (chegando a 22% na região de Ribeirão/Sertãozinho).
Os fertilizantes seguem como principal insumo, representando 10% do custo total. Por serem importados, estão sujeitos a pressões cambiais e geopolíticas, com volatilidade adicional após a guerra na Ucrânia.
Safra 2025/26: quebra prevista e mudanças no mix
O monitoramento semanal com 80 a 90 unidades aponta, até o fim de julho, queda média de 10% na produtividade e retração de 3,5% no ATR. A estimativa é de moagem de 594 milhões de toneladas no Centro-Sul, o que representa menos 20 milhões de toneladas em relação à temporada anterior e um recuo de 7 milhões de toneladas de ATR (-8%).
O mix de produção deve atingir 51,1% para açúcar, favorecido pelos preços internos e pela recuperação da pureza do caldo. Isso preserva o volume de açúcar produzido, mas desloca o impacto para o etanol, cuja produção de cana deve recuar 3,7 bilhões de litros (-14%).
O avanço do etanol de milho (1,3 a 1,5 bilhão de litros adicionais) reduzirá parcialmente o déficit, mas o saldo seguirá negativo em quase 2 bilhões de litros, o que tende a sustentar os preços do biocombustível no mercado doméstico.
Preços internacionais: açúcar perde sustentação
Delloiagono avisa que a projeção é de queda significativa no preço internacional do açúcar em 2025/26, devido à baixa do petróleo, que retira sustentação dos preços do açúcar, pois a alocação brasileira tende a mudar para etanol quando o combustível fóssil está valorizado e para açúcar quando está em baixa.
Ao superávit global estimado em 5 milhões de toneladas, com recuperação da produção indiana (+6 milhões de toneladas) e manutenção do nível brasileiro e devido ao fato da cotação, em dólares, poder ficar abaixo da média dos últimos 12 anos “Em reais, a taxa de câmbio elevada ainda garante patamar interno atrativo, reforçando o foco no açúcar”, disse.
Etanol: recuperação de preços
No mercado interno, o etanol hidratado deve registrar segundo ano consecutivo de alta, impulsionado pela demanda e por uma paridade mais competitiva frente à gasolina. Contudo, a valorização não deve compensar a queda do açúcar no cálculo do ATR.
O economista explicou que, com a metodologia atual, o ATR está projetado entre R$ 1,13 e R$ 1,15, próximo do ponto de equilíbrio calculado em R$ 1,07. A rentabilidade média esperada para produtores associados à Canaoeste é de 7%; se o ATR cair para R$ 1,11, a margem cai para cerca de 5%.
Canaoeste: efeito direto na redução de custos
O estudo mostra que produtores associados à Canaoeste atingiram produtividade média de 89,6 t/ha, contra 85–86 t/ha na média regional. Esse desempenho é atribuído a serviços oferecidos pela associação, como mapeamento, drones, biofábrica, suporte técnico e consultoria.
O ganho de produtividade, somado ao menor custo de serviços (R$ 3,81/t abaixo do valor de mercado), gera uma economia líquida próxima de R$ 10/t frente à média regional.
Perspectiva
O economista afirmou ainda que o cenário para 2025/26 combina custos mais altos, produção menor e mercado internacional do açúcar pressionado. A expectativa de déficit de etanol deve sustentar preços no Brasil, enquanto a valorização do dólar ajuda a manter atratividade para exportações açucareiras, mesmo com queda na cotação em Nova York.
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