Descoberta de composto inédito impulsiona busca por novos bioinsumos agrícolas
Metabólito isolado de fungo endofítico apresenta ação comparável a herbicidas sintéticos e reforça potencial da biodiversidade brasileira
Uma equipe formada por pesquisadores da UFMG, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e da Embrapa Meio Ambiente identificou uma substância inédita com forte potencial herbicida e antifúngico, ampliando as perspectivas para o desenvolvimento de bioinsumos agrícolas.
O composto, batizado provisoriamente como “2” (5,10-di-hidroxi-1,7-dimetoxi-3-metil-1H-benzo[g]isocromeno-6,9-diona), foi extraído de um fungo endofítico isolado de uma planta medicinal do gênero Piper e apresentou desempenho igual ou superior ao de pesticidas sintéticos já comercializados.
Segundo o professor Luiz Henrique Rosa, da UFMG, a descoberta representa o primeiro registro da atividade biológica dessa molécula. “Microrganismos endofíticos são um reservatório promissor e ainda pouco explorado de compostos bioativos”, afirma. Esses fungos vivem no interior das plantas sem causar danos, muitas vezes contribuindo para a defesa natural contra pragas e patógenos.
O fungo analisado, Fusarium sp. UFMGCB 15449, foi coletado no Parque Estadual da Floresta do Rio Doce (MG) e identificado por técnicas avançadas de biologia molecular. Embora o gênero seja comum no solo e associado tanto a doenças quanto a aplicações biotecnológicas, ainda há lacunas taxonômicas que dificultam a definição precisa de espécies, destacam os pesquisadores.
Substâncias metabólicas e potencial do “composto 2”
Três metabólitos foram isolados: anidrofusarubina, javanicina e o composto 2. Em testes com sementes de alface e grama-de-bent, todos inibiram completamente a germinação em concentrações de 1 mg/mL — efeito semelhante ao herbicida sintético acifluorfeno. Ensaios com lentilha-d’água reforçaram a eficácia: os valores de IC50 ficaram abaixo dos observados em glifosato e clomazona.
A pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Sonia Queiroz afirma que o desempenho antifúngico também foi expressivo. Contra Colletotrichum fragariae, patógeno agrícola relevante, o composto 2 gerou zonas de inibição superiores às de fungicidas naturais como carvacrol e timol. “Os resultados sugerem espaço para otimização química e aplicações mais amplas”, diz.
Biodiversidade como plataforma tecnológica
Diante da pressão global por sistemas produtivos mais sustentáveis, os bioinsumos ganham relevância estratégica. “Além de reduzir impactos ambientais, soluções biológicas podem ajudar a enfrentar a resistência crescente a defensivos convencionais”, observa Queiroz.
Para avançar rumo ao uso comercial, os pesquisadores destacam a necessidade de etapas adicionais, como estudos toxicológicos, análises de segurança ambiental e avaliação dos alvos moleculares. Também será testado o comportamento das moléculas em condições de campo e sua viabilidade em formulações industriais.
A descoberta reforça o papel da biodiversidade brasileira como fonte de inovação em bioeconomia. “Estamos diante de uma fronteira científica em que microrganismos invisíveis podem se transformar em aliados estratégicos da agricultura”, conclui Rosa.
O trabalho foi publicado por equipe composta por pesquisadores da UFMG, USDA e Embrapa Meio Ambiente e está disponível para consulta pública.
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