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Doença esquecida volta a preocupar produtores de cana no Brasil

Especialista da Unesp alerta para avanço da podridão da casca da cana-de-açúcar em evento no CTC, em Piracicaba – SP

O fungo Phaeocytostroma sacchari (sin. Pleocyta sacchari), agente causal da podridão da casca da cana-de-açúcar, voltou a ganhar destaque no setor sucroenergético. Em palestra realizada recentemente no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em Piracicaba – SP, o pós-doutorando da Unesp, Laudecir Lemos Raiol Júnior, apresentou dados que indicam a ampliação da ocorrência da doença em diversas regiões produtoras.

Segundo Raiol, o problema não é novo: os primeiros registros no Brasil datam de 1975, em Pernambuco. O tema voltou à pauta a partir de 2013, com relatos crescentes em áreas do Paraná a Goiás. “É um patógeno antigo, mas pouco estudado, que muitas vezes passa despercebido no campo. Quem não conhece a doença não enxerga, porque não sabe para onde olhar. Nosso objetivo é justamente mostrar como identificá-la e diferenciá-la de outros sintomas”, afirmou.

Dados compilados por Raiol mostram que, nos últimos anos, a incidência da doença aumentou em áreas comerciais, comprometendo touceiras inteiras próximas à fase de colheita. A rápida evolução da infecção preocupa, já que pode reduzir o potencial produtivo em um momento crítico do ciclo.

O pesquisador destacou ainda a resistência ambiental do fungo. Experimentos conduzidos em 2022 mostraram que o inóculo pode sobreviver por até sete meses na palhada, funcionando como um reservatório ativo de esporos entre um ciclo e outro. No estudo, estacas infectadas foram avaliadas a cada 30 dias e apresentaram estruturas fúngicas viáveis durante todo o período, reforçando o risco de reinfecção em áreas com excesso de resíduos no solo.

Além das perdas de produtividade, a doença se caracteriza por sinais distintos que precisam ser reconhecidos no campo: escurecimento no nó ou entre-nós da cana; coloração marrom-clara nos estágios iniciais, que evolui para necrose e apodrecimento e presença de odor azedo intenso, facilmente perceptível na colheita.

Nos últimos dois anos, a doença se tornou pauta recorrente em fóruns técnicos, em função do impacto na estimativa de safra e na previsibilidade da produtividade. Raiol reforçou que, apesar de o setor ter ampliado práticas modernas de manejo — como o salto no uso de biológicos de 5% das áreas em 2010 para mais de 60% hoje —, ainda há uma lacuna importante no ganho genético das variedades comerciais.

“Todas as novas variedades lançadas devem ser mais produtivas e mais resilientes do que as anteriores, mas ainda temos muito material genético antigo no campo. Isso limita o ganho de produtividade e expõe o setor a riscos como a podridão da casca. Precisamos acelerar a renovação varietal e adotar protocolos de diagnóstico mais padronizados”, explicou.

O pesquisador defendeu uma agenda integrada para enfrentamento da doença, com foco em três pilares: manejo agrícola e redução de estresses – práticas que minimizem déficit hídrico, compactação do solo e danos por pragas; gestão da palhada – redução de resíduos em excesso que servem de abrigo para o fungo por longos períodos e renovação genética e inovação tecnológica – maior uso de variedades modernas e mais tolerantes, associadas a ferramentas de diagnóstico precoce.

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