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Doença silenciosa na cana pode gerar prejuízo de até R$ 10 mil por hectare

Escaldadura-das-folhas e raquitismo-das-soqueiras preocupam setor canavieiro

Em recente reunião do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar, o pesquisador Alfredo Urashima, da UFSCar, apresentou dados alarmantes sobre o impacto de duas doenças recorrentes na cultura da cana-de-açúcar: a escaldadura-das-folhas e o raquitismo-das-soqueiras. Segundo o especialista, os prejuízos provocados por essas enfermidades já ultrapassam R$ 10 mil por hectare, tornando-se um desafio técnico e econômico urgente para o setor sucroenergético.

Em um experimento de campo realizado com a variedade RB966928, Urashima demonstrou que um canavial infectado por escaldadura produziu 50% menos peso em comparação com uma área sadia da mesma variedade. “A diferença foi visível e mensurável”, relatou. A comparação envolveu dois talhões vizinhos, com as mesmas condições climáticas e de manejo, mas oriundos de viveiros diferentes — um deles com mudas contaminadas.

A consequência financeira foi imediata: perda estimada de R$ 10 mil por hectare. Em uma área total de 18 hectares infectados, o prejuízo ultrapassou R$ 180 mil, apenas em uma safra. “Na academia a gente simula, mas essa foi uma chance rara de comparar, na vida real, o impacto direto da doença”, destacou.

O principal meio de disseminação da escaldadura, segundo o estudo, é a muda contaminada, e não a colheita, como afirmado em parte da literatura. A hipótese foi reforçada após análises em áreas colhidas mecanicamente por até três safras consecutivas, nas quais não se observou aumento significativo da doença via colheita. “Se a colheita não dissemina, a entrada da doença só pode ter vindo pela muda”, afirmou o pesquisador.

Diagnóstico visual falha: detecção por DNA revela até o dobro da incidência

Outro dado relevante apresentado foi a comparação entre a diagnose visual e os exames por biologia molecular (DNA). Em diversos casos, enquanto a análise visual indicava incidência de 21%, os testes moleculares revelavam contaminação em mais de 50% das plantas.

“Isso mostra a limitação do diagnóstico a olho nu. A escaldadura pode estar presente de forma latente, sem sintomas aparentes”, alertou Urashima. Em algumas repetições, a variabilidade era extrema: uma parcela apresentou 100% de incidência, enquanto outra, próxima, registrou zero. Para o pesquisador, isso reforça a importância de adoção de métodos laboratoriais mais rigorosos.

O laboratório de Urashima tem coletado e analisado dados de diversas regiões do Brasil. No estado de São Paulo, por exemplo, a incidência média de escaldadura em talhões analisados ficou acima de 50%. Na região de Ribeirão Preto – SP, 77 dos 133 talhões examinados estavam contaminados. Já em São José do Rio Preto – SP, os números são ainda mais preocupantes: quase 90% dos talhões testaram positivo.

A recomendação, segundo o pesquisador, é clara: basta uma única amostra positiva dentro de um talhão para desaconselhar o plantio. Ainda que os dados mostrem uma tendência de queda na incidência nos últimos anos, os níveis permanecem alarmantemente elevados.

Reação das variedades varia amplamente

Urashima também apresentou testes comparativos sobre a resistência de diferentes variedades de cana. Algumas apresentaram resistência total, enquanto outras, nas mesmas condições, foram altamente suscetíveis à escaldadura. “As reações foram tão distintas que tivemos que criar uma escala própria para classificar”, contou.

O cruzamento de dados repetidos em laboratório trouxe maior segurança estatística aos resultados, permitindo classificar variedades como bastante suscetíveis, mais ou menos resistentes e resistentes. Apenas materiais da linhagem RB foram testados, em respeito a diretrizes da rede de pesquisa.

Raquitismo-das-soqueiras: doença silenciosa e igualmente devastadora

Ao lado da escaldadura, o raquitismo-das-soqueiras também tem preocupado produtores e pesquisadores. A diferença é que, diferente da escaldadura, essa doença não apresenta sintomas visuais. Só pode ser identificada por meio de exames laboratoriais, o que dificulta o seu controle.

Mesmo assim, os dados apontam que a doença quebra a produtividade de maneira estatisticamente significativa, safra após safra. Experimentos realizados com algumas variedades mostraram que, ao longo de cinco anos de estudo, os materiais contaminados apresentaram redução de peso e aumento de plantas inviáveis, especialmente a partir da segunda soca.

“O que surpreende é que, além de pesar menos, o número de canas que sequer foram para a moagem também aumentou. É uma perda dupla, de peso e de volume útil”, afirmou.

O trabalho apresentado reforça a urgência de políticas mais rígidas de controle fitossanitário nas usinas e viveiros. “Plantar cana sem exame prévio é o mesmo que jogar no escuro. A muda contaminada compromete toda a cadeia”, alertou o pesquisador.

Apesar de a prática da termoterapia (aquecimento das mudas) ter sido praticamente abandonada pelas usinas, Urashima defende que, no mínimo, a sanidade do material seja verificada com rigor antes do plantio. Afinal, os dados comprovam: a origem da muda faz toda a diferença.

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