Expectativa de produção no Hemisfério Norte coloca freio na reação dos preços do açúcar

Apesar dos primeiros sinais de uma safra promissora no Centro-Sul do Brasil, os preços do açúcar continuam pressionados por elementos externos e pela ausência de novos impulsos de oferta e demanda. O ambiente macroeconômico global, aliado às previsões favoráveis de produção no Hemisfério Norte, tem dificultado qualquer reação de alta significativa no mercado.
No início da safra 2025/26, os dados apontam para um arranque mais lento na região brasileira, com produtividade inicial reduzida devido a fatores climáticos que impactaram o desenvolvimento da cana. Ainda assim, as expectativas permanecem positivas. Indicadores como o Índice de Saúde da Vegetação revelam uma trajetória que pode se consolidar em mais um ciclo produtivo robusto.
De acordo com Lívea Coda, Coordenadora de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets, o Brasil segue no radar como maior exportador, mas o foco momentâneo se desloca para o Hemisfério Norte, onde as condições climáticas e o desempenho agrícola começam a ganhar protagonismo.
“A tendência de recuperação da produção na Índia e a postura seletiva da China quanto às importações estão contribuindo para o adiamento de qualquer recuperação relevante nos preços internacionais”, observa Lívea.
Índia: queda em 2024/25 pode ceder espaço para recuperação já no próximo ciclo
O cenário indiano é um dos principais elementos a acompanhar. Estima-se que a produção do país em 2024/25 atinja entre 26,1 e 26,2 milhões de toneladas, número significativamente inferior ao ciclo anterior. Essa retração decorre da redução da área cultivada, bem como de eventos climáticos adversos em regiões-chave como Maharashtra e Karnataka.
Contudo, as perspectivas para 2025/26 são mais animadoras. A monção do sudoeste tem avançado de forma positiva, e as previsões do Departamento de Meteorologia da Índia indicam um volume de chuvas superior à média histórica. Essa condição, combinada com uma possível recomposição da área plantada, poderia elevar a produção indiana para cerca de 32 milhões de toneladas, segundo consenso de mercado. Entretanto, os estoques finais mais baixos da temporada atual podem limitar a capacidade de exportação indiana no curto prazo.
No lado da demanda, o mercado doméstico indiano também apresenta mudanças: diferentemente do crescimento habitual, espera-se contração no consumo interno, fator que já influencia os preços locais e impacta as projeções de estoque.
Tailândia e China: cautela e seletividade guiam o mercado asiático
Na Tailândia, embora as chuvas tenham sido amplamente favoráveis até o momento, o país ainda se encontra na janela crítica de desenvolvimento da cana, durante o verão do Hemisfério Norte. A evolução climática nos próximos meses será decisiva para consolidar ou reverter a atual expectativa otimista.
A China, por sua vez, mantém projeções estáveis, estimando uma produção de 11,15 milhões de toneladas para 2024/25, mesmo após episódios de seca na região de Guangxi no início do ano. A situação foi compensada por boas precipitações em maio, que favoreceram o crescimento da lavoura. Para a temporada seguinte, projeta-se um aumento de 3,2% na área plantada, reflexo da atratividade dos preços internos e do suporte do governo chinês.
“A China continua firme em sua estratégia de autossuficiência, importando apenas quando os preços se mostram extremamente vantajosos”, comenta.
Rumores indicam que o país asiático foi um dos principais destinos da entrega de maio, aproveitando os preços mais baixos. No entanto, há uma clara tendência de contenção nas compras externas, já que formação de estoque não parece ser prioridade dentro da atual política econômica chinesa.
Centro-Sul do Brasil ainda inspira confiança, apesar do início lento
De volta ao Brasil, os dados revelam um início de safra abaixo da média em termos de produtividade, mas há fatores explicativos. A cana colhida neste primeiro momento é a mais impactada pelas adversidades climáticas do ciclo anterior, e os bons números do começo da safra 2024/25 — inflados pelo processamento de cana bisada da safra 2023/24 — criam uma base de comparação artificialmente elevada.
“O momento atual requer cautela na leitura dos números, pois a comparação com um período atípico pode distorcer a percepção da performance atual”, esclarece Lívea.
Apesar disso, os fundamentos continuam relativamente estáveis e os sinais do campo são promissores. A recuperação de produtividade ao longo da safra ainda é possível, desde que as condições climáticas colaborem.
Fatores macroeconômicos seguem sendo o principal vetor dos preços
Na ausência de eventos estruturais relevantes no mercado físico, os preços do açúcar continuam a responder mais aos movimentos macroeconômicos do que aos fundamentos da commodity em si. A recente valorização observada no mercado, por exemplo, foi atribuída a uma correção do índice do dólar, e não a mudanças de oferta ou demanda no setor sucroenergético.
“Os fundos permanecem vendidos e pouco reativos, e o mercado aguarda um novo gatilho para definir direção”, pontua a analista da Hedgepoint.
À medida que as atenções se voltam para a safra do Hemisfério Norte, especialmente na Índia, Tailândia e China, cresce a percepção de que qualquer recuperação consistente nos preços poderá ser adiada. Caso as condições climáticas permaneçam positivas, o mercado encontrará maior resistência para justificar um novo rali de preços, mesmo diante de eventuais restrições vindas do Brasil.