Fundos esticam posição vendida enquanto açúcar opera abaixo da paridade
Pressão técnica em NY contrasta com fundamentos mais firmes no mercado interno
O mercado futuro de açúcar em Nova York fechou a semana em alta moderada, com o vencimento março 26 a 15.10 centavos de dólar por libra peso, avanço de 28 pontos. A curva entre maio 26 e março 28 também subiu entre 28 e 32 pontos, pouco acima de 6 dólares por tonelada. Enquanto isso, o real teve leve apreciação para R$ 5.4188, favorecendo a remuneração dos açúcares 26/27 e 27/28, que subiu entre 24 e 31 reais por tonelada.
A Índia segue no centro das atenções. Após semanas de impasse, a moagem ganhou ritmo, com expectativa mantida em 35 milhões de toneladas de açúcar. Mesmo assim, a pressão financeira é evidente. O custo de produção gira ao redor de 39,000 rúpias por tonelada, bem acima dos preços domésticos, hoje próximos de 36,200 rúpias. “O setor indiano enfrenta um desequilíbrio estrutural entre custo e preço que só deve ser contornado com reajuste do MSP ou subsídios adicionais” avaliou Arnaldo Luiz Corrêa, consultor de riscos em commodities agrícolas e diretor da Archer Consulting.
No mercado externo, as exportações indianas continuam praticamente paradas. Apenas 40 mil toneladas foram embarcadas das 1.5 milhão liberadas. O açúcar branco de baixa qualidade está ofertado a 450 dólares FOB, cerca de 20 centavos por libra peso, melhora marginal que ainda não atrai fluxo relevante.
Segundo o consultor, o ponto mais sensível, porém, está na atuação dos fundos em Nova York. Dados do CFTC mostraram 207,019 lotes vendidos a descoberto em 18 de novembro, cerca de 22% da posição em aberto. Historicamente, níveis próximos costumam anteceder viradas de preço. “Os fundos carregam uma posição vendida acima do bom senso, e qualquer movimento de recompra pode gerar volatilidade expressiva” afirmou Corrêa. A recompra de 12,850 lotes entre 11 e 18 de novembro elevou os preços em 45 pontos, “lembrando que movimentos maiores já ocorreram em ciclos anteriores”, comentou.
Se a posição for liquidada, a pressão tende a migrar para vencimentos a partir de julho, onde o cash-and-carry está mais atrativo para vendidos. Já uma permanência prolongada entre 14.50 e 15.50 centavos amplia o risco estrutural para a safra 27/28, pela redução de tratos, insumos e expansão de área, dinâmica semelhante à que levou a um recuo de 17% na produção em 1999.
No front macro, projeções de petróleo mais baixo pressionam o RBOB e afetam a paridade do etanol, enquanto o câmbio permanece sensível ao ambiente político. Movimentos do dólar alteram o custo FOB Santos das usinas: a 5.2500 reais o custo sobe para 17.75 centavos; a 5.0000, ultrapassa 18 centavos.
Já o mercado interno mostra firmeza. O índice Esalq avançou mais de 6% em poucos dias, impulsionado por estoques apertados e perspectiva de menor oferta global, com Tailândia e União Europeia projetando quedas fortes. Caso as exportações indianas permaneçam limitadas, a demanda internacional deve se concentrar no açúcar brasileiro já no primeiro trimestre.
Enquanto isso, as usinas brasileiras avançam na fixação da safra 26/27. A Archer estima 41% fixados a 16.55 centavos, cerca de 160 pontos acima da média atual dos vencimentos julho e outubro. Esse volume cria um teto técnico de curto prazo, já que cada melhora de preço estimula novas fixações.
Etanol mantém prêmio e reforça pressão artificial sobre o açúcar
De acordo com informações da consultoria, o etanol segue negociado entre 150 e 250 pontos acima de Nova York. Corrêa avalia que o diferencial reflete não um etanol excepcionalmente caro, mas um açúcar operando abaixo da paridade. Estoques historicamente baixos devem levar as usinas a uma entrada de safra alcooleira, reduzindo a oferta de açúcar no início da temporada e afetando vencimentos de março e abril.
Apesar da defasagem de cerca de 11% entre gasolina Petrobras e mercado internacional, o reajuste de ICMS em janeiro deve neutralizar eventual queda no preço da gasolina, preservando a competitividade do etanol.
No campo técnico, conforme análise de Marcelo Moreira, o março 26 encerrou acima da média móvel de 50 dias, fato que não ocorria desde 8 de outubro. Suportes estão em 15.03, 14.91, 14.88 e 14.04 centavos, enquanto resistências aparecem em 15.75, 15.88, 16.39 e 16.96 centavos.
Para Corrêa, o quadro geral permanece desequilibrado. “O mercado está preso entre a pressão artificial dos fundos e fundamentos que indicam que os preços atuais não são sustentáveis. Qualquer gatilho, Índia, câmbio, energia ou desempenho da cana, pode acelerar uma correção mais rápido do que o mercado imagina”.
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