Incêndios em SP: por que o fogo se alastra mais rapidamente em canaviais?
Os incêndios registrados no interior de São Paulo nos últimos dias foram responsáveis pela destruição de aproximadamente 60 mil hectares de plantações de cana-de-açúcar, de acordo com a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana). O prejuízo para os agricultores foi estimado em cerca de R$ 350 milhões. Especialistas explicam que a rápida devastação dos canaviais acontece devido à densidade da lavoura e à proximidade dos caules das plantas, fator que cria uma continuidade da combustão e facilita a propagação do fogo.
— Além de os canaviais serem um tipo de plantação bem densa, também tem alta quantidade de biomassa. O material todo muito próximo um do outro e bem seco, ainda mais com resíduos no chão se for após a colheita, cria uma faixa de continuidade fazendo com que o fogo se propague de forma muito rápida e intensa, especialmente em condições de baixa umidade e ventos fortes — explica Fernando Rodovalho, especialista em manejo integrado do fogo do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê).
Segundo o coronel da reserva dos Bombeiros do Mato Grosso, Paulo Barroso, especialista em prevenção e controle de incêndios florestais, é mais difícil controlar o fogo em canaviais porque as áreas de plantação são muito extensas. Depois de queimadas, as lavouras viram palha.
— Poderia usar algum tipo de produto químico retardante ou bloqueador do fogo, mas a ação precisaria acontecer assim que o incêndio fosse iniciado. Também seria necessário um caminhão e aeronave para lançar o produto, e nem todas as usinas de cana têm estrutura para atender esse tipo de emergência — afirma Barroso.
O governo do estado de São Paulo declarou situação de emergência em 48 cidades devido à quantidade devastadora de incêndios florestais registradas nos últimos dias.
A Orplana contabilizou 1,8 mil focos de incêndio na sexta-feira e 305 focos de incêndio no sábado. Em São Paulo, foram registrados 3.480 pontos no mês, um recorde para o estado desde que os dados começaram a ser medidos, há quase três décadas. Minas Gerais também enfrenta incêndios, sobretudo no entorno de Belo Horizonte.
Nos últimos dias, a Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste) divulgou imagens e relatos de agricultores de Sertãozinho, no interior de São Paulo, afetados pelas queimadas. O clima seco e os ventos fortes fizeram o fogo se espalhar rapidamente em uma área de plantação próxima à Rodovia Armando de Sales Oliveira (SP-322), dificultando o trabalho dos bombeiros e exigindo movimentação rápida dos proprietários das terras.
— A nossa cana estava em palha e, por conta da seca, estava difícil de brotar. Agora, com o fogo, é impossível. Este ano, o custo médio por alqueire foi de R$ 24 mil, e no ano que vem, não sei como será — lamentou o produtor rural Marcos Paulo Meloni.
Autoridades estaduais e federais têm dito que suspeitam que os incêndios estão sendo provocados por criminosos. Foram abertos inquéritos para investigar as causas do incêndio, mas as autoridades não revelaram possíveis motivos. Três pessoas já foram presas.
Fonte: O Globo