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Luiz Carlos Corrêa Carvalho vê “dois Brasis” na cana e alerta: etanol supera açúcar em rentabilidade

Presidente da Canaplan avalia que a safra 2025/26 expõe disparidades regionais e reforça a necessidade de gestão realista diante da volatilidade de preços

O presidente da Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, afirmou que a safra 2025/26 escancara a desigualdade produtiva do setor canavieiro, com resultados tão distintos que “parecem dois países diferentes”. A avaliação foi feita no dia 16, durante a 2ª Reunião Canaplan 2025, realizada no Resort Royal Tulip JP, em Ribeirão Preto – SP.

“É fácil montar uma planilha e projetar 670 milhões de toneladas para a temporada, mas a realidade mostra outra coisa. Temos regiões de alta eficiência e outras com produtividade crítica. Essa diferença é estrutural e define o desempenho da safra”, afirmou. Segundo ele, a colheita está acelerada pelos períodos de seca, enquanto a volatilidade climática acentuou as disparidades entre áreas.

Carvalho também destacou a recente inversão no mercado, com o etanol ultrapassando o açúcar em preço. “Não é que o etanol esteja excepcional, é que o açúcar recuou. Mas esse cruzamento de preços muda completamente o ambiente de decisão das usinas”, observou.

Ele lembrou que, embora o preço dite as estratégias de curto prazo, fatores técnicos seguem pesando na produção. “Na safra de 2004 o problema foi a pureza do caldo; agora, é o preço. E quando o preço muda, ele muda tudo”, afirmou.

Ao comparar o custo do açúcar brasileiro com o de países como Índia, Tailândia, Europa e China, Carvalho reforçou que o Brasil continua competitivo, mas com margens cada vez mais estreitas. “Somos eficientes, mas operamos sob forte pressão de custos. O desafio é manter produtividade e equilíbrio financeiro nesse novo ciclo de volatilidade”, disse.

Ociosidade e margens comprimidas no Centro-Sul

O dirigente alertou para a ociosidade agrícola no Centro-Sul, que ultrapassa 1,2 milhão de hectares sem uso efetivo, volume comparável à produção total da Tailândia. A safra 2025/26, segundo ele, reflete uma forte disparidade entre regiões e unidades industriais. “A distribuição de produtividade é chocante. Há usinas com ótimo desempenho e outras operando no limite”, afirmou.

Mesmo com o ritmo de colheita elevado, o aumento de custos, a queda de preços e a desvalorização cambial comprimem os resultados. “A margem do açúcar está muito apertada. O Brasil melhorou, mas o cenário ainda exige ajustes estruturais e disciplina financeira”, ressaltou.

Carvalho também citou riscos externos, como acordos comerciais entre Estados Unidos e China, que podem deslocar fluxos globais e afetar as exportações brasileiras. “Há risco de redução da demanda por commodities e reflexos sobre crédito e rentabilidade do produtor”, alertou.

Apesar das dificuldades, ele vê avanços em novas variedades e evolução tecnológica. “Há um movimento genético importante, embora ainda falte diversificação regional. É algo que precisa continuar”, afirmou.

O presidente da Canaplan recomendou cautela com o otimismo em relação às próximas safras e previu uma possível redução na produção de açúcar em 2026. “Alguns acreditavam ser impossível ver menos de 39 milhões de toneladas, mas é essa a tendência. É hora de voltar ao mundo real”, disse.

Carvalho concluiu destacando que o setor deve adotar gestão eficiente e prudência nas projeções, evitando decisões baseadas apenas em preços momentaneamente favoráveis. “O entusiasmo é natural, mas só o equilíbrio entre otimismo e realidade garante sustentabilidade no longo prazo”, finalizou.

Safra mediana: alerta para envelhecimento dos canaviais

O consultor Ciro Sitta, da Canaplan e da AGROCS, classificou a safra 2025/26 como “mediana”, apontando queda na produtividade e na qualidade da cana após dois anos de desempenho elevado.

A produtividade média está em 77,7 toneladas por hectare, o que coloca o ciclo atual apenas na terceira posição entre os últimos cinco anos. “Depois da recuperação iniciada em 2021 e dos recordes de 2023 e 2024, voltamos a observar declínio. O clima ajudou a evitar um resultado pior, mas a tendência é de leve queda”, afirmou.

O ATR médio acumulado está em 104 kg por tonelada, abaixo dos ciclos anteriores. “A safra começou fraca e só apresentou recuperação em setembro. Mesmo assim, a qualidade geral segue inferior”, explicou.

Sitta destacou que o envelhecimento dos canaviais impacta diretamente a produtividade: a idade média da cana no Centro-Sul já chega a 3,3 anos, refletindo o menor ritmo de renovação. “Quando o setor reduz o plantio, o reflexo aparece rapidamente no campo”, disse.

Ele apontou ainda grande variação regional de resultados, com diferenças de até 100% entre os melhores e piores desempenhos. “Essa heterogeneidade mostra os desafios de manejo e eficiência que o setor precisa enfrentar”, concluiu.

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