Mercado de açúcar esboça reação em meio às incertezas e pressões externas

Após uma semana marcada por intensas quedas nos preços, alimentadas pelo desempenho acima das expectativas da moagem inicial da safra 2025/26, o mercado de açúcar começa a dar sinais de estabilização e possível reação. Ainda sob um cenário de forte volatilidade e carência de dados consistentes, analistas alertam que o ambiente permanece vulnerável à especulação e manipulação, como destacou Arnaldo Corrêa, da Archer Consulting.
Segundo o consultor, conversas mantidas com diversas usinas reforçam um quadro preocupante no campo. “A produtividade agrícola já apresenta queda de 15% em relação ao esperado, com o TCH (Tonelada de Cana por Hectare) despencando próximo aos 19% e o ATR (Açúcar Total Recuperável) retraindo quase 4%. A perspectiva de chuvas abaixo da média adiciona mais incerteza à real dimensão da safra, reforçando a cautela dos agentes do setor”, explicou.
Embora os próximos dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), esperados para a segunda quinzena, possam não ser suficientes para uma reação imediata de alta, a divulgação contínua dos volumes colhidos ao longo dos próximos meses deverá consolidar a percepção de uma safra que começa devagar e, possivelmente, aquém do esperado.
“Historicamente, entre julho e agosto, o mercado costuma reagir com maior intensidade diante da confirmação de moagem mais lenta. Nas últimas duas décadas, 60% das safras atingiram a metade da moagem até julho, e em todas as vezes esse patamar foi superado até agosto”, reforça Corrêa.
Além disso, o clima na Índia segue como fator chave que pode antecipar esse movimento, caso ocorram adversidades na safra daquele país, ampliando a percepção de aperto na oferta global.
O peso dos fundos e as movimentações em Nova York
A movimentação recente em Nova York, onde os preços encerraram a semana com alta de 55 pontos no contrato de julho (17.82 centavos de dólar por libra-peso), traz um alento temporário ao mercado. O avanço representa um ganho de US$ 12 por tonelada, acompanhado de ganhos em vencimentos posteriores, que variaram de 6 a 11 dólares por tonelada.
A semana também será marcada por eventos de peso no setor, como o tradicional jantar de gala do açúcar em Nova York, que poderá influenciar o humor do mercado, especialmente caso as próximas divulgações da UNICA confirmem o cenário agrícola mais fraco.
Entretanto, um fator de atenção continua sendo a elevada posição vendida dos fundos especulativos. De acordo com o relatório do CFTC (Commodity Futures Trading Commission), os fundos mantêm uma exposição de 55.460 lotes vendidos, o que equivale a cerca de 2,8 milhões de toneladas de açúcar.
Esse cenário aumenta a volatilidade, pois qualquer sinal de escassez pode forçar esses fundos a recomprar rapidamente suas posições, o que tende a pressionar os preços para cima em curto prazo.
“Vale lembrar que as usinas estão praticamente com sua produção fixada. Portanto, caso os fundos precisem sair de suas posições, a liquidez não virá das usinas, mas talvez das tradings”, alerta o consultor.
Moeda, câmbio e as decisões de risco
O dólar encerrou a semana inalterado em R$ 5,6500, dentro de um patamar que, nos últimos cinco anos, foi registrado em 60% das vezes entre R$ 5,0000 e R$ 5,6500. Apenas em 10% das ocasiões a moeda ultrapassou R$ 5,7268.
Muitas usinas aproveitaram os momentos de estresse do real para fixar apenas o câmbio, com algumas posições vendidas chegando a R$ 7,5000 para maio de 2027.
Se essas mesmas usinas optassem por fixar o açúcar atualmente, o resultado seria superior a R$ 3.000 por tonelada. A questão que fica é: a política de risco da sua empresa permitiria essa estratégia?
Análise técnica aponta viés de alta no curto prazo
Na visão técnica, o contrato Julho/25 fechou em 17.78 centavos de dólar por libra-peso, com o indicador estocástico sinalizando tendência de alta no curto prazo.
As resistências mais próximas estão posicionadas em 18.05/18.26/18.47 centavos, com possibilidades de buscar 19.00 e 19.50 centavos caso o movimento ganhe força.
Já os suportes aparecem em 17.39/17.05/16.82 centavos.
O spread Outubro/25-Março/26 (V5/H6) recuou 4 pontos, encerrando a semana cotado a 35 ponto
Compartilhe este artigo:
Veja também:
Você também pode gostar
Confira os artigos relacionados: