Mercado de açúcar recua em NY mesmo após dados positivos da safra

Em mais uma semana encurtada por feriado, o mercado futuro de açúcar em Nova York teve um comportamento marcadamente negativo, reforçando como narrativas construídas no mercado financeiro podem se sobrepor aos próprios fundamentos. O contrato com vencimento para julho/25 encerrou a sexta-feira cotado a 17.27 centavos de dólar por libra-peso, após ter rompido, ainda durante a sessão, o patamar de 17.00 centavos — uma queda semanal acumulada de 91 pontos, equivalente a 91 dólares por tonelada conforme relatório da Archer Consulting.
A tendência de baixa se estendeu para os demais vencimentos, de outubro/25 a março/28, que fecharam em território negativo com variações entre 30 e 84 pontos, o que representa perdas de 7 a 18 dólares por tonelada. Como de costume, os contratos com vencimentos mais curtos sofreram maiores ajustes, enquanto os mais longos foram menos afetados — reflexo direto da máxima tradicional do mercado futuro: “quanto mais distante o vencimento, menor o pânico”, pontua Arnaldo Corrêa, CEO da consultoria.
Narrativas dominam o cenário: fatos positivos, reação negativa
Curiosamente, a movimentação negativa dos preços se deu a despeito de dados surpreendentemente positivos divulgados pela UNICA (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). Os números referentes à primeira quinzena de abril mostraram avanço de 3% na moagem de cana em relação ao mesmo período do ano anterior, além de um ATR médio acima das expectativas e um mix de produção de açúcar superior ao de 2023.
Na prática, esses dados sugeririam um desempenho promissor no início da safra 2024/25. No entanto, o mercado reagiu em direção oposta. A expectativa de números piores — já precificada pelos agentes — foi frustrada, e a divergência entre projeções negativas e resultados positivos reais gerou ajustes de posição e movimentos de venda, refletindo mais uma vez o quanto o mercado pode ser guiado por sentimentos, versões e especulações, em detrimento de fatos concretos.
“Os fatos, por vezes, importam menos que as versões. Em momentos como esse, o mercado adota comportamentos desconectados da lógica e dos fundamentos, reagindo com base naquilo que esperava — e não no que realmente aconteceu”, comenta o consultor.
O peso dos 2%: cautela com projeções antecipadas
De acordo com a Archer Consulting, apesar da relevância dos números apresentados, é importante contextualizá-los. Historicamente, a primeira quinzena de abril representa, em média, apenas 2% do volume total de cana moída ao longo de toda a safra, com base nos últimos cinco anos. Isso significa que, embora positivos, esses dados refletem apenas o início do ciclo, com peso estatístico reduzido no cenário completo da produção anual.
“Projetar os rumos de uma safra inteira com base nesse fragmento inicial é equivalente a julgar um livro inteiro apenas pela contracapa. Trata-se de um indicador, sim — mas ainda insuficiente para conclusões definitivas sobre produtividade, disponibilidade de oferta ou equilíbrio de mercado para o restante do ciclo 2024/25”, ressalta Corrêa.
Expectativas, volatilidade e distorções de curto prazo
Segundo o consultor, a distorção observada nesta semana reforça um comportamento recorrente no mercado de commodities: a volatilidade provocada por expectativas não atendidas, mesmo que os resultados objetivos sejam bons. Quando os operadores precificam um cenário pessimista e se deparam com dados menos negativos ou até positivos, o ajuste de posição pode vir com vendas abruptas, liquidação de contratos e reações automáticas — muitas vezes descoladas da lógica produtiva.
Além disso, em semanas encurtadas por feriado, como esta, o volume menor de negociações pode acentuar movimentos de baixa, já que a liquidez reduzida amplia a sensibilidade a boatos, interpretações e decisões especulativas.
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