Nova gestão Trump provoca mudanças geopolíticas e reações do mercado de açúcar

A postura mais branda do presidente americano sobre tarifas comerciais levou a uma queda de 1,7% no índice do dólar, beneficiando moedas emergentes
A reeleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2025 trouxe surpresas ao cenário global. Sua postura mais moderada em relação às tarifas comerciais provocou impactos imprevistos nos mercados financeiros e de commodities. A queda de 1,7% no índice do dólar (DXY), que encerrou a semana em 107,4, impulsionou moedas emergentes e redefiniu tendências econômicas.
No Brasil, o Real apresentou uma expressiva valorização, alimentada pela entrada de capital estrangeiro até o dia 22 de janeiro e pelas diretrizes econômicas de 2025 apresentadas pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Este cenário também impactou positivamente o mercado de açúcar, que iniciou a semana em queda, mas encerrou com recuperação significativa, fechando em 19 c/lb na sexta-feira (24).
De acordo com Lívea Coda, coordenadora de Inteligência de Mercado da Hedgepoint, o mercado de açúcar enfrentou oscilações ao longo da semana. A combinação de um dólar forte e a permissão de exportações indianas de 1 milhão de toneladas para a safra 2024/25 pressionou os preços, que atingiram a mínima de cinco meses (17,51 c/lb) na terça-feira (21). Entretanto, fatores técnicos e o fortalecimento do Real impulsionaram a recuperação.
A valorização do Real desestimulou vendas por parte dos produtores e exportadores brasileiros, que preferiram adotar uma postura mais cautelosa diante da possibilidade de maiores ganhos futuros. Paralelamente, o índice de força relativa (RSI) indicou condições de sobrevenda, incentivando a retomada de compras especulativas. Esses elementos, somados à inflação acima do esperado (4,5% contra 4,36%), aumentaram as expectativas de elevação da taxa de juros brasileira para 13,25%, favorecendo ainda mais a valorização do Real.
Fundamentos e perspectivas para o primeiro trimestre de 2025
Analisando os fundamentos, os fluxos comerciais do primeiro trimestre estão bem equilibrados. A demanda projetada para o Ramadã e a limitada oferta brasileira até o início da safra 2025/26 sustentam os preços atuais em torno de 19 c/lb. Segundo Lívea, “a paridade de importação chinesa e a menor disponibilidade de produto brasileiro são fatores-chave para justificar os níveis atuais de preços”.
No âmbito internacional, a paridade de exportação da Índia favorece o açúcar branco, que apresenta lucro estimado de pelo menos $30 USD/t. Entretanto, o açúcar bruto enfrenta resistências com preços internos elevados, o que limita a viabilidade de exportações. Esse equilíbrio sugere que os impactos imediatos das exportações indianas serão limitados ao mercado de açúcar branco, enquanto o açúcar bruto deve se manter em níveis estáveis.
Apesar das tensões comerciais envolvendo os Estados Unidos, os impactos no mercado de açúcar devem ser modestos, uma vez que o país tem participação reduzida nos fluxos globais, com importâncias médias de 2,5Mt sob regimes de cotas e tarifas. No caso da China, tarifas podem afetar marginalmente a demanda, mas sua produção interna acima da média reduz a dependência de importações.
No setor de energia, o Brasil permanece relativamente imune a essas tensões. O mercado de etanol, por exemplo, tem mostrado estabilidade devido a estoques equilibrados e à ausência de volatilidade externa, principalmente após o fim da PPI (Política de Paridade de Importação).
Embora fatores altistas sustentem os preços no curto prazo, a perspectiva de médio e longo prazo para o mercado de açúcar permanece baixista. O clima favorável durante o desenvolvimento da safra brasileira 25/26 e a predominância do mix voltado ao açúcar devem resultar em excesso de oferta global, pressionando os preços.
“A oferta abundante prevista para a próxima safra deve limitar ganhos adicionais no mercado, reforçando a necessidade de cautela por parte dos participantes”, conclui Lívea Coda.
Além disso, novos eventos geopolíticos, como possíveis negociações comerciais entre os Estados Unidos e outras grandes economias, podem criar incertezas adicionais. O mercado segue em observação, com os próximos meses sendo decisivos para definir o equilíbrio entre oferta e demanda no cenário global.
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