O fenômeno La Niña deve atuar de forma breve e fraca, com tendência à neutralidade dominando o ciclo
Boletim da Esalq mostra melhora no solo, reforça riscos regionais e aponta divergências entre modelos climáticos
O boletim de dezembro do Sistema Tempocampo, da Esalq/USP, mostra que a regularização das chuvas em novembro mudou o quadro hídrico em grande parte das regiões produtoras brasileiras, embora persistam bolsões de déficit no Matopiba e no extremo Sul. A análise, conduzida pelo professor Fábio Marin, também destaca que a safra 2025/26 deve atravessar a virada do ano sob um quadro de neutralidade no Pacífico, com a La Niña permanecendo fraca e de curta duração.
O avanço das precipitações em novembro elevou a umidade do solo em praticamente todo o Centro-Sul. Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul apresentam níveis considerados adequados, enquanto Goiás ainda demanda reposição adicional de água. Já Maranhão e Piauí seguem registrando acumulados significativamente abaixo da média, padrão que tem marcado a atual safra.
Apesar dos volumes expressivos, Marin destacou que as chuvas vêm ocorrendo de forma irregular, em “manchas”, deixando lavouras próximas em situações contrastantes, algumas bem abastecidas, outras ainda sob restrição hídrica.
Modelos divergem para janeiro e acendem alerta para fevereiro
Para dezembro, tanto o modelo brasileiro quanto o norte-americano convergem na expectativa de chuvas acima da média no Sudeste e Centro-Oeste. Entretanto, essa sintonia se rompe em janeiro: enquanto o modelo brasileiro prevê forte favorecimento hídrico em São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul, o modelo da NOAA indica volumes mais modestos, especialmente no Triângulo Mineiro, Goiás e parte do Sudeste.
O mês de fevereiro, por sua vez, traz o principal ponto de atenção. Os dois modelos mostram tendência de chuvas abaixo da média em Minas Gerais, Goiás, Bahia, Tocantins, sul do Pará e parte do Mato Grosso. No interior de São Paulo há divergência, sendo que o modelo brasileiro aponta situação mais confortável, mas o americano indica um possível recuo das precipitações. O boletim recomenda que produtores considerem práticas de manejo que reforcem a resiliência das lavouras nesse período.
Neutralidade climática deve predominar na safra
A análise das temperaturas do Pacífico indica que a La Niña já está estabelecida, mas deve se dissipar rapidamente, sem características clássicas de impacto intenso. A equipe da Esalq projeta que a neutralidade dominará a maior parte da safra 2025/26, reduzindo riscos típicos de extremos climáticos associados a El Niño ou La Niña fortes.
Em relação às temperaturas, dezembro, janeiro e fevereiro devem registrar leves desvios positivos, mas dentro de um patamar considerado adequado para o desenvolvimento das culturas tropicais.
Culturas perenes entram em 2026 menos estressadas
O boletim também traz uma análise especial para culturas perenes, como cana-de-açúcar, café, citros e pastagens. Segundo Marin, as temperaturas observadas entre abril e setembro ficaram mais próximas da média em 2025, ao contrário do ano anterior, quando permaneceram persistentemente altas. O estresse hídrico também caiu 16% nesse período.
Com isso, essas culturas iniciam o período chuvoso em condição fisiológica mais favorável, o que pode impulsionar a produtividade caso as chuvas de verão se mantenham dentro da normalidade.
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