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Tempo seco pode prejudicar a safra do ano que vem

cana de açucar cortada

Na economia mundial e brasileira

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aponta que a economia deve se recuperar mais rápido do que o esperado. A Organização melhorou a estimativa sobre a economia global, a qual deve retrair 4,5% em 2020 (antes projetada em -6%) e crescer 5% no próximo ano. A China deve ser o único país do G20 a crescer neste ano, com alta de 1,8%, enquanto que os EUA devem ter queda de 3,8%.

Estudo da Universidade Estadual de Nova York indica que a maior exposição à poluição do ar pode acarretar em agravamento de casos de Covid-19, podendo aumentar as mortes pela doença em até 9%.

A economia brasileira segue dando sinais de melhora, mesmo ainda em ritmo lento. O relatório Focus (Bacen) de 3 de outubro projeta redução do PIB em 5,02% em 2020, e crescimento de 3,5% para o ano seguinte. O IPCA deve fechar o ano em 2,23% e alcançar 3,02% em 2021. A Selic, por sua vez, deve ser de 2,0% e 2,5%, respectivamente. Finalmente, o dólar deve se manter em R$ 5,25 em dezembro deste ano e encerrar 2021 em R$ 5,00.

O terceiro trimestre de 2020 iniciou em ritmo de retomada da economia brasileira, segundo apontam os dados setoriais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A FGV (Fundação Getúlio Vargas) estima que o crescimento econômico de julho foi de 2,8% frente ao mês anterior, o qual já havia apresentado alta de 3,9%. Tal cenário está motivando recontratações no setor industrial.

Durante a pandemia, muitas empresas das cadeias do agronegócio foram forçadas a redirecionar suas vendas do food service para o varejo, visto que o primeiro apresentou queda de até 80% na demanda. Essa mudança de canal gerou reduções nas margens de muitas organizações, com incrementos de custos nas embalagens, logística e espaço nas gôndolas.
A Unilever anunciou que deve eliminar o uso de derivados de petróleo como fonte de matéria-prima em diversos produtos da companhia, investindo cerca de US$ 1 bilhão no projeto. A iniciativa reforça a ideia da economia circular, que vem ganhando grande espaço no mercado financeiro.

A B3 está em processo de atualização de seus índices de carbono e desenvolvimento sustentável, de modo a torná-los mais atrativos aos investidores. Há a expectativa do lançamento de um índice ESG (Environment, Social and Governance) com empresas listadas no mercado de capitais brasileiro, englobando aquelas elegíveis aos novos critérios ambientais, sociais e de governança. O ESG entrou com tudo na agenda das organizações em suas ações de sustentabilidade.

Segundo Pavan Sukhdev, presidente global da WWF, as movimentações do mercado financeiro para a economia verde estão crescendo exponencialmente e podemos esperar um tsunami de investimentos ESG. O executivo reconhece as iniciativas de organizações do Brasil e comenta que não há outro país com tanto capital natural como o nosso. De acordo com ele, existem muitas oportunidades para cobranças por serviços de compensação de carbono no país.

A exemplo disso, conforme o Valor Econômico, as emissões de títulos verdes da Zurich no Brasil chegaram a R$ 62 milhões em julho de 2020, 36% do total (R$ 170 milhões) previsto pela empresa para os próximos dois anos. O valor foi investido em projetos de geração e transmissão de energia renovável e de saneamento básico. A concessionária de energia EDP, por sua vez, passou a utilizar as cinzas produzidas pela termelétrica Pecém para produzir um tipo de cimento usado na pavimentação de estradas. A empresa tem planos de gerar 100% da energia que consome via fontes renováveis, em 10 anos.

Um programa criado pelo governo brasileiro e que envolve 20 países, a Plataforma para o Biofuturo, foi lançada recentemente com a intenção de promover estudos e replicar experiências sobre os projetos de transição energética. A iniciativa tem por objetivo fortalecer pautas de bioenergia, estimulando programas de sustentabilidade e a cooperação entre esses países.

De acordo com o PDE (Plano Decenal de Expansão de Energia), o Brasil deve aumentar sua demanda energética em 2,9% ao ano até 2029, com 380 milhões de toneladas equivalentes de petróleo. A participação das fontes renováveis poderia chegar a 48% desse total.

No agro mundial e brasileiro

A peste suína africana chegou ao maior produtor europeu de carne de porco. Os alemães identificaram um caso da doença no leste do país, e já começam a sofrer a consequências de embargos internacionais. A Coreia do Sul, a China e o próprio Brasil já suspenderam a entrada da carne alemã como medida preventiva.

Na Argentina, a produção de soja no ciclo 2020/21 está estimada em 50 milhões de toneladas, segundo a bolsa de Rosário. A área de produção deve crescer 0,6%, chegando a 17,3 milhões de hectares.

Já para os Estados Unidos, o USDA em seu relatório de setembro reduziu as estimativas de produção de soja e milho da safra 2020/21, as quais devem atingir 117,4 milhões e 378,5 milhões de toneladas, respectivamente. A diminuição é devido ao agravamento da seca com déficits de chuvas nas regiões Oeste, Meio-Oeste e Nordeste. A USDA estima a nossa produção de milho em 110 milhões de toneladas e de soja em 133 milhões na safra que está começando a ser plantada.

A agricultura de precisão deve movimentar US$ 7 bilhões no mercado global de 2020, crescendo 82,8% e atingindo US$ 12,8 bilhões em 2025, de acordo com a MarketsandMarkets. No Brasil, o mercado é atualmente de US$ 388,7 milhões.

Em seu último levantamento para a safra 2019/20, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) reforçou a estimativa de safra recorde de grãos, agora em 257,8 milhões de toneladas, 4,5% a mais que no ciclo passado. A área plantada aumentou 4,2%, enquanto que a produtividade 0,3%. Ainda restam as culturas de inverno para a confirmação desses dados. A safra de algodão também deve ser recorde, produzindo 2,93 milhões de toneladas de pluma (+4,2%) e com 90% da área já colhida. A colheita da soja já terminou, com 124,8 milhões de toneladas produzidas (+4,3%), enquanto que o milho aguarda a segunda e terceira safra, mas deve totalizar 102,5 milhões de toneladas (+2,5%). Nas culturas de inverno houve incremento de área plantada em 11,6%, com grandes expectativas para a produção de trigo com 6,8 milhões de toneladas.

Atualizações do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) apontam que o VBP da agropecuária para 2020 passou a ser calculado em R$ 771,4 bilhões, 10,1% superior ao ano passado e R$ 29 bilhões a mais que a estimativa de julho. Em comparação ao ano anterior, os destaques ficaram com a soja, que passou a R$ 194,2 bilhões (26,1% maior), os bovinos em R$ 110,9 bilhões (12,3% maior), o frango que passou a R$ 67,2 bilhões (8,3% maior) e a carne suína que foi a R$ 21,9 bilhões (10,4% superior). No total, as cinco cadeias da pecuária tiveram incremento de R$ 3,8 bilhões em comparação a julho, alcançando R$ 252,3 bilhões, e as 21 principais lavouras foram elevadas em R$ 25,2 bilhões, totalizando R$ 519,1 bilhões.

Com vistas à safra 2020/21, o Rabobank estimou a produção de soja brasileira em 130,1 milhões de toneladas em uma área de 37,9 milhões de hectares. O câmbio e as boas margens da cultura são os grandes motivadores desse aumento.

Enquanto isso, no cinturão citrícola, a safra 2020/21 de laranja, estimada pelo Fundecitrus, deve ser de apenas 287 milhões de caixas, 25,87% a menos que no ciclo anterior. O resultado foi agravado pelo período de estiagem prolongado (julho a setembro) que reduziu o tamanho dos frutos e favoreceu a incidência de doenças.

As vendas externas do agronegócio totalizaram US$ 8,91 bilhões em agosto, aumento de 7,8% frente ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Mapa. 50,2% de tudo que o Brasil exportou no mês veio do agro. Dentre os setores com maior contribuição nesse resultado destacamos: complexo soja com vendas de US$ 2,77 bilhões (+19,9%); carne bovina com recorde de US$ 753 milhões (+14,4%), suína também com recorde de US$ 196,09 milhões (+79,7%), e de frango com US$ 491 milhões (-17,2%); cereais, farinhas e preparações com US$ 1,14 bilhão (-12,2%); complexo sucroenergético com US$ 1,10 bilhão (+75,6%); e produtos florestais somando US$ 891 milhões (-13%). Por outro lado, as importações do agro atingiram US$ 912 milhões (-17,3%), gerando um superávit em sua balança de US$ 8,0 bilhões (+11,7%).
Levando em consideração o acumulado de janeiro a agosto, o agro já exportou US$ 69,63 bilhões (50,3% de tudo que país exportou), 8,3% a mais frente ao mesmo horizonte de 2019, consolidando saldo positivo em sua balança de US$ 61,50 bilhões.

Dentre outros produtos que vêm se destacando na pauta de exportações (acumulado de jan-ago) estão o café, com vendas de 26,4 milhões de sacas e US$ 3,4 bilhões (-0,8%); carne bovina com 1,3 milhão de toneladas e US$ 5,46 bilhões (+23,3%); e carne suína com 678,3 mil toneladas e US$ 1,49 bilhão (+54,5%).

Um levantamento realizado pelo Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal) revelou que, no acumulado de janeiro a julho, a área tratada com defensivos atingiu 64,3 milhões de hectares, o que representa um crescimento de 6% frente ao mesmo período de 2019. As culturas que tiveram o maior crescimento na utilização foram: soja com incremento de 33%, milho com 22% e algodão com 18%. Em termos de receita, o resultado do primeiro semestre foi de US$ 6,04 bilhões, ligeiro aumento frente aos US$ 6,03 bilhões de 2019.

45 entidades do agro assinaram um manifesto para renovação dos convênios que reduzem a base de cálculo sobre insumos agrícolas e operações com implementos agrícolas. A não renovação poderá gerar impacto direto estimado em R$ 16 bilhões e aumento da inflação em 9,5%.
A BrasilAgro registrou lucro líquido de R$ 119,5 milhões no ciclo 2019/20, 32% a menos que no anterior, apesar da receita líquida ter aumentado 4%, atingindo R$ 599,1 milhões. No entanto, as expectativas da empresa para o ciclo 2020/21 são positivas, com novos investimentos em conversão de áreas, intensificação da produção e aposta no milho safrinha. O grupo conta com 11 propriedades e soma 215,3 mil hectares.

Estimativas apontam que o potencial de geração de biogás no Brasil é de 82 milhões de metros cúbicos por dia, um total de 115 mil GWh/ano. O setor sucroenergético seria o responsável por 68% desse total, o aproveitamento de resíduos industriais 24,4%, e a reutilização de lixo urbano em 7,6%. Mais uma oportunidade que se abre.

As iniciativas de economia circular trazem expressiva redução dos custos de produção das empresas. Segundo a Exame, a CMPC (fabricante de celulose) tem reduzido em 50% seus custos de produção a partir da reutilização de 99,8% dos resíduos gerados pela fábrica na produção de outros 15 novos produtos. Uma outra prática interessante é a pirólise do plástico, que está sendo conduzida pela Braskem, processo que retorna o plástico velho à sua forma original, utilizando matérias-primas renováveis à base de cana-de-açúcar. A reutilização do material é algo essencial para evitar o seu descarte ao meio ambiente.

Visando contornar as dificuldades impostas pelo isolamento social, produtores e cooperativas investiram em novos canais de comercialização por meio das redes sociais, vendas on-line e delivery. São os locais que os setores de floricultura e hortifrúti vêm trabalhando, de modo a reduzir os prejuízos do início da pandemia com o cancelamento de eventos, feiras ao ar livre e restrições ao food service. As linhas especiais de crédito e prorrogação das amortizações também foram essenciais para a manutenção das atividades de produção.

As variedades de trigo desenvolvidas pela parceria entre a Embrapa e a iniciativa privada apresentaram ótimos resultados para produção no Ceará. A primeira colheita do cereal foi realizada com 75 dias, muito inferior à média de 140 a 180 dias em outras regiões produtoras. Além disso, a produtividade chegou a 5,4 toneladas por hectare, pouco inferior à região Centro-Oeste (5,5 t/ha), mas mais que o dobro da região Sul (2,4 t/ha). Atualmente, o Nordeste importa quase todo o trigo que consome.

Terminamos o mês de setembro com preços absolutamente altos em reais para os grãos. No fechamento desta coluna, a entrega de soja em cooperativa de São Paulo estava em R$ 145/saca e a safra 2020/21 já estava sendo negociada a R$ 135. No caso do milho, o valor estava em R$ 60/saca, e para entregas em agosto de 2021, R$ 50/saca. A arroba era negociada a quase R$ 260.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em outubro são:

As chuvas no Brasil e as expectativas de plantio. Previsões do clima para a safra 2020/21 de grãos;
O fechamento da safra nos EUA, performance da colheita e comportamento do clima neste mês final;
O comportamento da China nas importações de carnes e grãos e de outros países asiáticos principalmente, e os preços dos grãos no mercado interno com seus impactos no setor de carnes e ovos;
As dificuldades de acertos na política econômica brasileira e seus impactos no câmbio. Como esta anda derrapando em mostrar o caminho e a ação estratégica, errei minha previsão de câmbio feita no primeiro semestre, que viria abaixo de 1 US$ = R$ 5. Não creio que a valorização chegue a esse ponto neste ano;
Os resultados das ações do governo na questão do desmatamento ilegal e os impactos nas pressões contra o Brasil.

Reflexões dos fatos e números da cana em setembro e o que acompanhar em outubro

Na cana

Segundo a Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), o total de cana-de-açúcar processada até a primeira quinzena de setembro, no Centro-Sul, chegou a 44,39 milhões de toneladas, aumento de 12,08% ante o mesmo período do ano passado. No acumulado, a safra 2020/21 apresenta crescimento de 4,56%, totalizando 459,45 milhões de toneladas. Com os resultados, estima-se que tenham sido processados 80 585 a 600 milhões de toneladas. O banco ainda aponta uma tendência de consolidação do setor, visto que, de um lado existem usinas capitalizadas e com grande capacidade de estocagem, e por outro existem aquelas com saúde financeira preocupante.

O aumento na moagem de cana-de-açúcar na safra atual está relacionado principalmente ao avanço da colheita por parte das usinas, em função do clima seco dos últimos meses. Atualmente, 258 unidades encontram-se em operação, uma a mais que o registrado no mesmo período do ano anterior.
O setor sucroenergético exportou, em agosto, US$ 1,10 bilhão, registrando aumento de 75,6% em suas vendas em relação ao mesmo mês de 2019.

O governo brasileiro anunciou a renovação da cota de importação de etanol dos Estados Unidos em um volume de 187,5 milhões de litros, sem tarifas, para os próximos 90 dias. A medida seria uma moeda de troca para aumentar o acesso ao mercado do açúcar brasileiro no país norte-americano, visto que atualmente existe uma tarifa de 140% sob o adoçante vindo do Brasil. Caso o Brasil exporte todo o volume da cota de açúcar para os EUA, a receita seria de US$ 23 milhões, enquanto que o país americano poderia arrecadar três vezes mais em vista da cota de etanol concedida pelo governo brasileiro.

A meta de Cbios para 2020 foi reduzida pelo MME (Ministério de Minas e Energia) em 50%, ou seja, 14,5 milhões de créditos, em consequência dos impactos da pandemia. Já para 2021, houve redução de 41% com relação à proposta inicial, ficando estabelecida em 24,8 milhões de Cbios. Atualmente, há 8 milhões de Cbios disponíveis para venda. A meta de aquisição de cada distribuidora para 2020 foi divulgada: BR precisa comprar 3,93 milhões, Ipiranga 2,88 milhões e Raízen 2,6 milhões. Dados apontam que a Copersucar poderá emitir até 6 milhões de CBios por ano por meio de suas 34 usinas associadas. As vendas de Cbios foram recorde na primeira quinzena de setembro, com mais de 250 mil certificados sendo adquiridos pelas distribuidoras com preços variando entre R$ 23 a R$ 32.

A Raízen iniciou tratativas para a aquisição das operações da Biosev, subsidiária da Louis Dreyfus Company. As conversas ainda são preliminares, mas o mercado financeiro já respondeu positivamente à notícia com o aumento das ações da Biosev em quase 22%.

A BP Bunge espera fechar a safra 2020/21 com receita entre R$ 5 bilhões a R$ 5,5 bilhões. A companhia deve voltar seus esforços para os investimentos na produção agrícola, algo em torno de R$ 1,25 bilhão por ano, sendo que 80% desse valor devem ser direcionados aos tratos culturais e outros 20% a equipamentos e manutenções.

No açúcar

O consumo global de açúcar sofreu redução de 2,5 milhões de toneladas na temporada 2019/20 (out-set) em consequência da pandemia, segundo a S&P Global Platts. Assim, o déficit global deve ser de apenas 260 mil toneladas na atual temporada, e de 1,14 milhão na próxima.

A produção de açúcar na safra 2020/21 (Unica) chegou ao acumulado de 29,07 milhões de toneladas até a primeira quinzena de setembro, volume de 9 milhões de toneladas superior a safra anterior. O mix de produção alcançou 47,01%, frente a 35,43% do ciclo anterior.

O Brasil exportou, em agosto, 3,5 milhões de toneladas de açúcar, um incremento de 118,8% frente ao mesmo mês do ano anterior. Isso devido às quedas de produção na Índia e na Tailândia, abrindo a janela de oportunidades. Em volumes financeiros, atingiu-se o valor de US$ 960 milhões (+107%). Já em setembro, as vendas foram de 3,621 milhões de toneladas, 112% maiores que setembro de 2019.

O teor de ATR da matéria-prima chegou a 159,09 kg por tonelada em 2020, frente aos 154,23 kg do ano anterior (3,15% maior). No acumulado, têm-se na safra atual 141,5 kg de ATR por tonelada, 4,49% maior que no ciclo 2019/20.

Outra boa notícia para o açúcar foi a ampliação, pelos Estados Unidos, da cota de importação de açúcar do Brasil em 80 mil toneladas, apesar do volume significar apenas 0,3% das exportações brasileiras. A medida é considerada uma resposta do governo americano à concessão, pelo Brasil, de cota de importação de 187,5 milhões de litros do etanol isento de tarifa, por 90 dias. Porém, há argumentos que isto já seria automático nas relações do Brasil com os EUA, portanto, não foi uma concessão.

Todo o açúcar a ser comercializado pela BP Bunge nessa safra já teve o preço fixado. Segundo a empresa, 60% do total para a safra 2021/22 e 30% da safra 2022/23 também já tiveram seus valores definidos. Os preços negociados pelo grupo foram de 10% e 8% maiores para a próxima safra e a seguinte, respectivamente.

No etanol

Dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) dos oito primeiros meses do ano (janeiro a agosto) mostram um consumo de combustíveis no ciclo Otto em 30,8 bilhões de litros. É um número 12,3% menor que o mesmo período de 2019.

Interessante notar que o etanol tem participação de 47% neste total, mas chega a atingir 68% no MT, 62% em GO e 63% em SP. A participação é menor em MG (54%) e no PR (47%), dois estados produtores onde, se caso a participação fosse para mais de 60%, seria uma grande oportunidade.
A ANP mostrou que em agosto foi vendido de hidratado 1,56 bilhão de litros, sendo o quarto mês seguido de aumento de consumo. Mas neste ano o consumo caiu 16% de janeiro a agosto.

De acordo com a Unica, o volume produzido de etanol na primeira quinzena de setembro foi de 2,29 bilhões de litros, 4,65% menor que o mesmo período do ano passado. No acumulado, a produção chegou a 21,26 bilhões de litros, sendo que 70% (14,9 bilhões de litros) correspondem ao etanol hidratado e 30% (6,36 bilhões de litros) ao anidro.

Já as vendas externas de etanol em agosto caíram 13,3% frente ao mesmo mês do ano passado, chegando a US$ 141 milhões.

No total, o volume comercializado de etanol até a primeira quinzena de setembro de 2020 chegou a 11,82 bilhões de litros (19,5% menor). Nos primeiros 15 dias do mês, foi 1,33 bilhão de litros vendidos, mesmo volume registrado no ano anterior. As exportações alcançaram 1,25 bilhão de litros (34,05% maior).

A produção de etanol de milho na safra atual chegou a 1,01 bilhão de litros, volume 94,5% superior que o registrado em setembro de 2019.

A renovação da cota de importação do etanol dos EUA pode ser um problema para o setor sucroenergético, que já tem 43% dos estoques acima do ano anterior e aguarda o aumento do volume por conta da safra no Nordeste, de acordo com a Unica. A medida é encarada pelo setor com duas visões: uma seria a de buscar um equilíbrio entre as cotas do etanol americano e do açúcar brasileiro; e a outra seria uma medida para favorecer a campanha de eleição de Donald Trump. Entretanto, o etanol dos EUA, mesmo sem as tarifas de importação, perde competitividade por conta do dólar elevado. No Nordeste, principal região importadora, o etanol anidro importado pode chegar a R$ 2,49 o litro, segundo a Argus. Os dados do Cepea/USP, apontam que, nas usinas do Estado, o preço sem impostos e frete é de R$ 2,16.

Segundo a Datagro, o preço interno do etanol para a segunda metade de setembro deve ficar em US$ 85 o m³, valor inferior a um produto importado. A consultoria aponta que, entre janeiro e fevereiro, o etanol importado poderá apresentar preços US$ 50 superiores em comparação ao nacional. Outro fator registrado é o valor do dólar que, para tornar o produto importado competitivo, deveria cair a R$ 4,60, algo difícil neste momento.

Para se chegar a uma produção de 50 bilhões de litros até 2030, o setor estima investimentos adicionais de R$ 90 bilhões e geração de 400 mil postos de trabalhos direta ou indiretamente. Com uma produção total estimada em 33,5 bilhões de litros para 2020, estima-se que o país estaria deixando de produzir 85 milhões de toneladas de gases do efeito estufa. Grandes ganhos ambientais proporcionados pelo setor.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em outubro na cadeia da cana:

A recuperação do consumo no mercado interno com a volta da atividade econômica. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava R$ 2,28 com impostos nas usinas e o anidro a R$ 2,31. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 41,4 por barril e a Arábia Saudita declarou que acredita em preços médios de US$ 50 nos próximos três anos.
Acompanhar os impactos do coronavírus no consumo mundial do açúcar. Ao fechar a coluna, o açúcar estava em cerca de 13,1 cents/libra peso na tela de outubro. Com o câmbio atual, é um elevado preço em reais.

Os impactos desta seca e elevado calor no rendimento desta safra e, principalmente, no desenvolvimento da safra 2021/22.

O comportamento das exportações de açúcar do Brasil, que vêm surpreendendo as melhores apostas agora em outubro com a desvalorização do real.

Observar o que deve acontecer com as tarifas e cotas para o etanol americano entrar no Brasil e se teremos contrapartidas de acesso às necessidades de açúcar dos EUA, que seria a minha estratégia.

Valor do ATR: Começamos em abril com o ATR a R$ 0,70/kg. Em maio, caiu para R$ 0,6934, continuando a cair em junho para R$ 0,6765 e em julho para R$ 0,6588, trazendo o acumulado para a mínima do ano, em R$ 0,6761. A partir de então, os ganhos vêm sendo expressivos, com agosto fechando a R$ 0,6939 e setembro a R$ 0,7291. Com isso, o acumulado já chegou em R$ 0,6877.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).


**Vítor Nardini Marques é analista associado da Markestrat.

*** Vinícius Cambaúva

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