Tensões geopolíticas: possíveis sanções da OTAN à Rússia podem encarecer insumos agrícolas no Brasil

Dependência de fertilizantes russos coloca produtores brasileiros em alerta; cenário de custos mais altos pressiona especialmente o setor de grãos
O setor agropecuário brasileiro enfrenta um novo risco com potencial impacto direto sobre sua competitividade. O secretário-geral da OTAN, com apoio dos Estados Unidos, sinalizou a possibilidade de impor sanções secundárias a países que mantêm relações comerciais com a Rússia. A medida, se concretizada, pode atingir em cheio o Brasil, que depende do país europeu para 26% de suas importações de fertilizantes.
Caso haja restrições, produtores brasileiros terão que buscar fornecedores alternativos, provavelmente mais caros, o que ampliaria os custos de produção agrícola em um momento já delicado. A relação de troca entre produtos agrícolas e insumos fertilizantes está menos favorável, prejudicando sobretudo o setor de grãos, mais exposto ao uso intensivo desses insumos.
Mercado de fertilizantes em alta
De acordo com o relatório Agro Mensal, da Consultoria Agro do Itaú BBA, os nitrogenados seguem em tendência de valorização. A ureia subiu 5,2% em julho, chegando a USD 455/t nos portos brasileiros.
MAP (fosfato monoamônico): leve queda de 0,3%, para USD 757,5/t;
KCl (cloreto de potássio): estabilidade em USD 362,5/t.
A Rússia, em particular, se destaca como um dos fornecedores mais competitivos. Em 2024, o Brasil importou 53% do MAP e 40% do KCl de origem russa, além de 20% da ureia.
Oferta pressionada e incertezas globais
Mesmo antes da ameaça de novas sanções, a oferta de nitrogenados já sofria com interrupções em várias regiões:
Egito: paralisação de fábricas de ureia;
Irã: redução da produção devido à guerra com Israel;
Rússia: em julho, uma planta de nitrogenados foi atingida por drone.
Esse quadro levou países com compras centralizadas, como a Índia, a antecipar aquisições por precaução. Assim, apesar da queda nos preços internacionais do gás natural – principal insumo da produção de nitrogenados –, a trajetória de alta da ureia e de outros fertilizantes continua firme.
Se confirmadas, as sanções da OTAN à Rússia podem provocar um redesenho no comércio global de fertilizantes, forçando o Brasil a diversificar origens e possivelmente encarar preços mais elevados. Para o produtor rural, o resultado tende a ser maior pressão nos custos, em um cenário de margens já reduzidas.
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