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Murcha da Cana: uma ameaça à sustentabilidade da lavoura canavieira

Pesquisas revelam impactos devastadores da síndrome, com perdas de até 60% na produção

A Síndrome da Murcha da Cana-de-Açúcar (SMC), uma doença que tem afetado canaviais em todo o Brasil, pode resultar em perdas de até 60% na produção, comprometendo não só a produtividade, mas também a qualidade do produto final. Este problema, causado por uma combinação de fungos patogênicos e fatores climáticos extremos, foi tema do I Simpósio Nacional da Síndrome da Murcha da Cana-de-Açúcar, realizado no Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC), em Ribeirão Preto – SP, no dia 30 de setembro.

O evento, pioneiro no país, reuniu pesquisadores, universidades, empresas de biotecnologia e defensivos, usinas e produtores rurais para debater estratégias e soluções para enfrentar a doença.

De acordo com os especialistas, a Síndrome da Murcha da Cana não é uma doença única, mas um complexo patogênico causado por fungos como Colletotrichum falcatum, Phaeocytostroma sacchari e Fusarium spp. Esses fungos se tornam agressivos em períodos de estresse climático, como secas extremas ou variações bruscas de temperatura, afetando os colmos da planta e, consequentemente, a produtividade.

A síndrome não só impacta a produção de açúcar e etanol, mas também compromete a qualidade do produto. A cana infectada apresenta aumento de dextrana, uma substância que torna o caldo mais viscoso, dificultando a produção de açúcar e reduzindo o rendimento do etanol. Para mitigar esses efeitos, os produtores são obrigados a usar antibióticos, o que aumenta os custos de produção.

No evento, o pesquisador do IAC – Divisão de Cana, Dr. Ivan do Anjos, explicou que a síndrome é desencadeada por uma infecção combinada de fungos, que se desenvolvem principalmente durante o verão e se tornam mais agressivos sob condições de estresse. “O murchamento dos colmos é o principal sintoma, afetando tanto a produtividade quanto a qualidade da matéria-prima”, afirmou.

Estratégias antecipadas de manejo e monitoramento

O consultor da MSFernandes, Michel Fernandes, apresentou resultados de estudos sobre os impactos da murcha da cana e estratégias de manejo. Ele destacou que tanto o Fusarium quanto o Colletotrichum têm se mostrado agentes agressivos e exigem decisões criteriosas dos produtores.

Fernandes relatou que pesquisas conduzidas em diferentes períodos do ciclo da cana mostraram perdas significativas: em alguns casos, até meia tonelada por hectare para cada 1% de infestação. Essa constatação reforça a necessidade de estratégias antecipadas de manejo e monitoramento.

Ele salientou que o tipo de variedade utilizada também pesa no resultado: CTC4, IACSP955094 e CTC9002 estão entre os materiais que mais demandam atenção. O consultor ainda ressaltou a importância da integração entre diferentes ferramentas de manejo, desde o monitoramento até o uso criterioso de biológicos e fungicidas, para que os produtores consigam enfrentar a doença de forma sustentável e reduzir perdas.

O manejo recomendado por Fernandes consiste em uma primeira aplicação com sulfato de cobre em união com o agente biológico bacillus amyloliquefaciens sobre a palhada. A segunda aplicação deve incluir sulfato de cobre com trifloxistrobina e tebuconazol (terrestre ou aéreo). Após o fechamento do dossel, é recomendada uma nova rodada de aplicação com bacillus amyloliquefaciens. “O controle total da murcha é praticamente impossível. No entanto, com esse método, é possível reduzir a infestação em até 60%”, afirmou.

Embora a murcha tenha sido identificada em todas as variedades analisadas, o pesquisador Antônio de Goes destacou que a resistência não é absoluta e varia de acordo com as condições ambientais. “A resistência das variedades é quantitativa, e os sintomas só se manifestam em condições ambientais favoráveis ao patógeno”, afirmou.

Mudas sadias evita a propagação da doença

Outro ponto crucial discutido foi o uso de mudas sadias, uma técnica fundamental para evitar a propagação da doença. A especialista Conny Maria de Wit apontou que a persistência de práticas inadequadas, como o uso de mudas de qualidade duvidosa, tem contribuído para o aumento das infestações de murcha. Ela afirmou que, apesar de ser um conhecimento antigo, a prática de utilizar mudas certificadas ainda não é amplamente adotada pelas usinas e produtores brasileiros.

No que diz respeito à aplicação de técnicas de manejo, Conny ressaltou que o custo de produção de mudas de meristema, por exemplo, não é mais uma barreira, uma vez que o preço por muda já foi reduzido a R$ 0,65. “Formar uma boa base para o canavial é fundamental para prevenir ou mitigar problemas com pragas e doenças. É como uma vacina que confere resistência interna contra patógenos e adversidades climáticas”, disse a especialista.

O manejo cultural, que inclui práticas como rotação de culturas, controle de pragas e a utilização de fungicidas, também foi enfatizado pelos consultores da AgrocomCiência, Cleber Hervatin e Aníbal Prado Filho. Eles alertaram para a necessidade de um monitoramento contínuo das lavouras para detectar rapidamente os primeiros sinais da doença e permitir uma intervenção eficaz.

Já o engenheiro agrônomo e consultor, João Ulisses de Andrade, ressaltou que a percepção de que a síndrome da murcha da cana-de-açúcar ocorre apenas no final da safra pode trazer riscos ao produtor.

De acordo com o especialista, algumas regiões do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul já registram maior pressão da doença logo no início da safra. “Quem achar que a murcha vai chegar só no final do ciclo pode ser surpreendido negativamente. Existem áreas em que o problema aparece mais cedo”, explicou. O palestrante também destacou a importância de ampliar o olhar sobre o ciclo produtivo para não restringir o manejo a apenas uma fase.

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