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Brasil acelera agenda do SAF e busca consolidar posição entre líderes globais

Nova análise da EPE projeta demanda de até 9,1 bi de litros em 2037 e indica que projetos anunciados cobrem 27% das necessidades

O Brasil deu um passo adicional para estruturar seu mercado de Combustíveis Sustentáveis de Aviação (SAF) e ampliar sua relevância na descarbonização do transporte aéreo. A publicação do novo Caderno de Combustíveis Sustentáveis de Aviação no Brasil, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ocorreu simultaneamente à abertura da consulta pública do decreto que regulamentará o ProBioQAV, programa do Ministério de Minas e Energia (MME) que define metas nacionais de uso do produto.

O alinhamento entre diagnóstico técnico e arcabouço regulatório reforça a intenção do país de atrair investimentos, reduzir incertezas e ganhar espaço nas rotas globais de baixo carbono.

Segundo o documento, a demanda doméstica por SAF pode alcançar entre 3,2 bilhões e 9,1 bilhões de litros em 2037, dependendo da rota tecnológica e da intensidade de carbono do combustível. Desse total, 82% estão associados ao cumprimento das obrigações internacionais previstas no CORSIA, mecanismo da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO).

Oferta avança, mas ainda cobre apenas parte da necessidade

A EPE aponta que o potencial de oferta praticamente dobrou desde a última edição do estudo. Os projetos já anunciados somam capacidade estimada de 2,1 bilhões de litros em 2030 e 3,6 bilhões em 2035. Ainda assim, essa produção supriria cerca de 27% da demanda projetada para o período de 2027 a 2037. No ponto de maior volume, previsto para 2034, a participação chegaria a 36%.

Mesmo cobrindo apenas parte do consumo futuro, a oferta mapeada seria suficiente para atender integralmente as metas do ProBioQAV e as obrigações brasileiras no CORSIA. O espaço restante cria margem para novos investimentos, ampliação de exportações e abastecimento de companhias aéreas estrangeiras.

Outro destaque é a velocidade do interesse do setor privado. Na chamada pública lançada por BNDES e FINEP em 2024, com orçamento de R$ 6 bilhões, o pipeline apresentado somou R$ 75 bilhões em projetos e 8,6 bilhões de litros de capacidade potencial até 2030, volume próximo da demanda máxima estimada pela EPE para 2037.

Movimento internacional pressiona oferta e cria janela de oportunidade

O avanço brasileiro ocorre enquanto outras regiões aceleram sua expansão de capacidade. A América do Norte, que hoje opera cerca de 2,8 milhões de m³ ao ano, tem projetos que podem elevar esse volume a 17,7 milhões. A Europa pretende avançar de 2 milhões para 16,8 milhões de m³, enquanto a Ásia mira salto de 3,4 milhões para 14,2 milhões. Essa corrida é sustentada por metas climáticas mais rígidas e por instrumentos regulatórios como RFS e LCFS nos Estados Unidos.

Integração com diesel verde reforça estratégia de transição

A complementaridade entre SAF e diesel verde (HVO) é apontada como um dos pilares da estratégia brasileira. As rotas baseadas em óleos vegetais, resíduos gordurosos e biomassa lignocelulósica permitem a produção conjunta dos dois combustíveis, além de coprodutos como nafta renovável e BioGLP. Com a implementação do Programa Nacional do Diesel Verde (PNDV), que prevê mistura obrigatória de até 3% a partir da segunda metade da década, o alinhamento entre os dois mercados ganha peso.

Com as plantas de SAF já anunciadas, seria possível produzir cerca de 850 milhões de litros de HVO em 2034. Somando projetos em análise, a oferta poderia atender até 55% da demanda máxima estimada pelo PNDV em 2037. O potencial de abatimento é de até 3 MtCO₂ ao ano, o equivalente ao plantio de cerca de 21 milhões de árvores.

Logística, custo e regulação seguem como desafios centrais

O relatório também ressalta entraves logísticos: a maior parcela da produção tende a se concentrar no Sudeste, enquanto a demanda está distribuída em hubs como São Paulo, Brasília e Recife. Nesse cenário, o modelo Book & Claim surge como alternativa eficiente, permitindo que o transporte físico seja substituído por certificados digitais que garantam a rastreabilidade do volume sustentável produzido. A adoção, porém, depende da criação de padrões regulatórios sólidos e sistemas específicos que evitem dupla contagem.

Além de biomassa abundante, matriz energética limpa e cadeia consolidada de biocombustíveis, o país ainda enfrenta barreiras como o custo das matérias-primas, a ausência de plantas dedicadas exclusivamente ao HVO e a competição por insumos entre rotas de SAF e diesel verde. Superar esses pontos será decisivo para que o Brasil transforme potencial em liderança efetiva no mercado global de combustíveis de aviação de baixo carbono.

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