Pragas da cana: monitorar é evitar prejuízos!
A cana-de-açúcar é afetada por diversas pragas desde sua implantação até a reforma. Dentre as que ganharam importância nos últimos anos estão a Broca, as Cigarrinhas e o Sphenophorus. Devido aos prejuízos que causam, estas pragas da cana são consideradas limitantes para a cultura se não forem corretamente manejadas. O dano causado reduz a produção agrícola e afeta diretamente a qualidade da matéria-prima que é entregue à indústria, reduzindo, também, o rendimento dos processos de produção de açúcar e etanol. Portanto, escrevo este artigo com o objetivo de discorrer resumidamente sobre elas e chamar a atenção do produtor de cana para que ele possa entender o porquê é tão importante manejá-las de forma adequada.
A broca da cana, Diatraea saccharalis, é uma mariposa cujas larvas causam a morte da gema apical e danos no interior do colmo da cana-de-açúcar. A seca dos ponteiros, conhecida também como “coração morto”, pode ocorrer na lavoura, principalmente nas plantas mais novas. Através dos orifícios abertos pelas larvas, ocorre penetração de fungos dos gêneros Fusarium e Colletotrichum, que causam a podridão vermelha. As perdas causadas pela broca são altamente significativas e os índices de danos têm aumentado nas últimas safras. Dados recentes demonstram que as perdas para cada 1% de intensidade de infestação de broca são próximas a 1,50%, em relação à produtividade agrícola, 0,49% na produtividade de açúcar e 0,28% na produtividade de etanol.
A ocorrência das lagartas da broca é mais frequente no início das chuvas (setembro/outubro), atingindo o pico populacional em janeiro/fevereiro, no verão. Existe a tendência das populações diminuírem nos períodos frios e secos e aumentarem nos períodos quentes e úmidos, entretanto podem ser encontradas lagartas na lavoura o ano todo.
Para adotarmos práticas de manejo adequadas é muito importante conhecermos, através de levantamentos de campo, o índice de intensidade de infestação de broca (II) e os níveis populacionais da broca no campo. Estes levantamentos são estratégicos porque subsidiam a tomada de decisão.
As cigarrinhas-das-raízes (Mahanarva fimbriolata) devido à mudança do sistema de colheita para cana crua tiveram suas populações aumentadas. Atualmente, as cigarrinhas estão presentes em diversas regiões canavieiras do Brasil causando danos expressivos à produtividade e à qualidade da matéria-prima.
A infestação da cigarrinha-da-raiz é identificada pela presença de uma espuma esbranquiçada na base da touceira. As ninfas não sobrevivem sem esta proteção. Elas não suportam os raios solares. Sendo assim, a colheita da cana-de-açúcar crua favorece o crescimento populacional das cigarrinhas porque o acúmulo de palha sobre o solo contribui para manter a umidade.
O clima apresenta grande influência na dinâmica populacional. No período seco, pela ausência de umidade do solo, os ovos ficam em diapausa. Com o início das chuvas, na primavera, pelo aumento da umidade e temperatura, ocorre a eclosão dos ovos, aumentando o número de indivíduos. Portanto, no período de outubro a março, devemos nos atentar aos levantamentos de campo com o objetivo de monitorar as populações e obter informações para a decisão de controle.
As cigarrinhas-das-raízes podem acarretar sérios danos e prejuízos ao canavial. Alguns autores citam reduções altas de produtividade e na qualidade da matéria-prima.
Os primeiros relatos do bicudo da cana, o Sphenophorus, datam do final da década de 1970 na região de Piracicaba, mas atualmente são encontrados em quase todas as regiões produtoras de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo e outros Estados como Paraná e Minas Gerias.
Eles são considerados uma praga primária e hoje é uma grande preocupação e desafio. Os danos são causados pelas larvas que atacam os rizomas e o primeiro entrenó basal, abrindo galerias e deixando serragem fina como sinal de sua alimentação. Atacam em reboleiras e podem reduzir a produtividade e a longevidade dos canaviais. Sob infestação severa, as touceiras morrem e são observadas muitas falhas na rebrota. Os seguidos ataques nas áreas de soqueiras acarretam a redução do “stand” da cultura (número de perfilhos por metro linear), causando perdas significativas, obrigando muitas vezes a reforma precoce do canavial. Estes sintomas são mais frequentemente visualizados na época seca do ano, entre junho a agosto, quando são geralmente encontradas as maiores populações de larvas.
Monitoramento e controle de pragas da cana
A garantia do sucesso do manejo de pragas da cana é o monitoramento através dos levantamentos de campo para detecção de populações infestantes, enfatizando que a eficiência do controle da praga está associada ao monitoramento de campo bem realizado, controle imediato e aplicação bem-sucedida.
Como ferramenta estratégica de manejo, o MIP (Manejo Integrado de Pragas) é uma prática que integra o controle biológico, o controle químico, o controle cultural, o controle através do uso de armadilhas, feromônios e outros, com o propósito de diminuir o consumo de agroquímicos, utilizando-os somente quando necessário, de forma a evitar o uso indiscriminado. Dessa forma minimizamos os impactos negativos como, por exemplo, a resistência de insetos, a contaminação de pessoas e do meio ambiente.
Embora o controle biológico, através da aplicação de parasitoides, ser um exemplo de eficiência, principalmente para o controle da broca, outras práticas de controle podem ser adotadas de maneira integrada para o controle de pragas. O controle químico através da aplicação correta de inseticidas muitas vezes se faz necessário e pode ser associado ao controle biológico. Moléculas e ingredientes ativos modernos, seletivos e com baixa toxicidade para o homem e seguros para o meio ambiente são soluções práticas para uma agricultura produtiva e sustentável.
Broca
O controle biológico com a utilização principalmente da vespa Cotesia flavipes é exemplo de eficiência e opção inteligente que deve ser considerada. Em situações de altas infestações, o controle químico é necessário e deve ser realizado de forma integrada com o controle biológico. Os inseticidas químicos devem ser aplicados enquanto as larvas ainda são jovens e antes delas entrarem no colmo, direcionados para as áreas onde as infestações estiverem altas. Podemos indicar o Clorantraniliprole, Clorantraniliprol+Lambda-Cialotrina, Flubendiamida, Metoxifenozid, Thiametoxam+Lambda-Cialotrina, Triflumuron, entre outros.
Cigarrinhas
Existem no mercado produtos químicos eficazes para o controle da cigarrinha-das-raízes: Ethiprole, Imidacloprido, Thiametoxam e Thiametoxam+Lambda-Cialotrina. As melhores aplicações são obtidas com o uso de pingentes no sistema 70/30, ou seja, 70% da calda aplicada nas folhas e 30% da mesma aplicada na base (colo) das touceiras, mas também pode-se fazer a aplicação dos produtos em área total.
O corte da soqueira, visando ao controle da praga Sphenophorus levis, dependendo da época e do produto utilizado, tem-se mostrado eficiente no controle das primeiras gerações de cigarrinhas.
Outras alternativas de controle da praga são o controle biológico, com a aplicação do fungo Metarhizium anisopliae, que deve ser recomendado em canaviais com baixa infestação (1 ninfa/metro) e a retirada da palha da linha da cana-de-açúcar para a entrelinha ou retirada total do resíduo, onde têm-se observado resultados favoráveis em relação a diminuição das populações por manter as linhas de cana mais secas devido à maior incidência dos raios solares e a consequente diminuição da umidade sobre elas. Salientamos que o manejo integrado (associação de métodos) é sempre recomendado.
Sphenophorus
Por conta da baixa eficiência do controle e dos danos severos, recomendamos que a decisão pelo controle seja atrelada simplesmente à presença da praga na área.
Para o controle deste inseto tem sido recomendada a destruição mecânica da soqueira por meio de gradagens, arações ou destruidores de soqueiras, preferencialmente na época seca do ano, e aplicação de inseticidas químicos no sulco de plantio nas áreas de reforma do canavial. Nas soqueiras infestadas, recomenda-se a aplicação de inseticidas cortando as touceiras de cana. A recomendação de controle químico pode ser feita com os produtos: Fipronil, Fipronil+Alfacipermetrina, Imidacloprid, Thiametoxan+Lambda-Cialotrina.
Vale citar que a orientação fundamental para a formação de novos canaviais é utilizar mudas de viveiros sadios, já que uma das formas de dispersão deste inseto acontece através das mudas retiradas de local infestado. Por esta razão, o plantio com mudas sadias e certificadas se faz extremamente necessário para evitar a sua disseminação.
Muita atenção também com a limpeza de maquinários e implementos porque eles também são disseminadores desta praga.
Conclusão
Salientamos que as pragas da cana citadas são de grande importância devido aos prejuízos que têm causado à cultura da cana e, como já falamos, são fatores limitantes para a produção. São pragas agressivas que devem ser monitoradas corretamente através de levantamentos de campo e controladas sempre que necessário para que os efeitos negativos sobre a produtividade agrícola e a qualidade da matéria-prima sejam minimizados e, consequentemente, a rentabilidade financeira não seja comprometida.
É muito importante que o produtor fique atento e monitore as populações infestantes a fim de não perder o “time” do controle, se necessário for.
Para o controle químico devemos consultar um engenheiro-agrônomo e utilizar apenas produtos com registro no Ministério da Agricultura e Pecuária para a cultura e praga em questão.
Lembramos que a Canaoeste possui uma equipe treinada e capacitada para o monitoramento e levantamento de pragas da cana no campo para atender aos produtores associados. Consulte nossa equipe técnica para mais informações.
Fique atento, cuide do seu canavial!
Fonte: Revista Canavieiros
Escrito por: Alessandra Durigan – Gestora técnica da Canaoeste
Emerson Zago, enviado em 04/12/2021
Muito Bo. a Materia