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Avanços nas relações trabalhistas e na distribuição de renda caminham lado a lado

CTC CANAOESTE

Recente tema de fórum promovido pela Canaoeste, as relações trabalhistas no setor sucroenergético suscitam algumas ponderações, principalmente no que tange ao equilíbrio de toda cadeia produtiva.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar os relevantes avanços na relação entre capital e trabalho registrados no setor. Essa relação é marcada por desafios históricos, como a alta rotatividade da mão de obra, questões salariais e, em alguns casos, condições precárias de trabalho. No entanto, nos últimos anos, o setor tem registrado avanços significativos na área trabalhista.

Um dos principais avanços foi a mecanização da colheita da cana-de-açúcar. A mecanização reduziu a demanda por mão de obra braçal, o que contribuiu para a redução da rotatividade e da precariedade das condições de trabalho.

Outro avanço importante foi a melhoria da legislação trabalhista do setor. Em 2017, foi aprovada a Lei 13.467/2017, que trouxe importantes mudanças para a relação de trabalho no Brasil.

Recente estudo realizado pelo Cepea da Esalq/USP aponta que, na agroindústria da cana (usinas de açúcar e etanol), 95% dos ocupados são empregados com carteira assinada, enquanto, na agroindústria em geral, esse percentual é de 58%. No agronegócio como um todo, apenas 36% das pessoas ocupadas possuem carteira assinada. Tal resultado é um indicador do nível de qualidade mais elevado dos empregos gerados pela atividade sucroenergética.

Porém, para a manutenção e também para que haja mais progressos nessa relação, é importante lastrear a questão de responsabilidade na questão ética da divisão de renda, que, quando acontece de forma justa, dá lastro para condições equilibradas de toda a cadeia produtiva.

Por exemplo, quando eu quero “apertar um fornecedor de serviço” no preço, é preciso levar em consideração que, conscientemente, abrimos mão de algumas coisas, senão de qualidade, relação ou benefícios que esse dá aos seus empregados, certo? Afinal de contas, a lógica financeira determina que de algum lugar ele vai ter de tirar para realizar o serviço ou ofertar o produto no preço que lhe está sendo exigido.

Na cadeia da cana é a mesma coisa. Nós estamos falando de produtores que precisam estar regulares diante das normas, legislações e tudo o mais, o que, inclusive, é de grande interesse das unidades industriais, muito por conta da questão da rastreabilidade dos produtos, condição sine qua non para garantir acesso a certificações de qualidade.

Aí vem a indagação: como essa questão está sendo vista? Na hora da remuneração pela matéria-prima desses produtores, ela está sendo justa? Os produtores, que tanto são cobrados, têm sido lembrados na hora da repartição do bolo?

Fatos recentes têm demonstrado o desequilíbrio dessa relação. Vejamos, por exemplo, a revisão do Consecana parada, a participação no CBio parada, com casos, inclusive, de indústrias que não estão repassando esse valor. O benefício do ICMS é repassado apenas para as unidades industriais. Cadê a parte do produtor?

Vale lembrar que, se um dos agentes ficar com mais do que o outro, sem justiça e equidade, abre-se margem para o que se denomina exploração de um elo da cadeia. Isso acontece na cadeia de emprego, na cadeia do fornecimento, e por aí vai. É um ciclo que precisa ser combatido e, mais do que isso, rompido de forma definitiva.

Os avanços que, até então, vêm sendo registrados nas relações trabalhistas são inegáveis, mas ainda podemos e devemos avançar mais. E isso só será possível quando houver equilíbrio, justiça e ética na questão da divisão da renda, pois ambos devem caminhar literalmente juntos.

Almir Torcato, gestor corporativo da Canaoeste

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