colheita

Colheita mecânica: operação eficiente, mas exige cuidados

Os dados gerados devem ser criteriosamente analisados, auxiliando nas tomadas de decisão.

04/07/2019 08:56

Atendendo a exigências sociais e ambientais, a colheita mecanizada é atualmente uma prática que solidifica a sustentabilidade da cultura de cana-de-açúcar. A colheita mecanizada de cana-de-açúcar cresceu de forma acelerada na última década passando de 25% para praticamente 95% de adoção desse sistema em relação à colheita manual. Porém, ainda são muitos os problemas decorrentes de pisoteio na linha de cana pelos maquinários envolvidos nessa operação que provocam muitas vezes falhas de brotação, arranquio de soqueira, redução de vigor e, principalmente, a compactação do solo.A compactação do solo tem afetado a produtividade e a longevidade da cultura da cana-de-açúcar.

No sistema de colheita mecanizada é comum a utilização de colhedoras e transbordos com massa entre 20-30 t, cujo tráfego é repetido a cada corte durante todo o seu ciclo (BRAUNACK et al., 2006). Como consequência, ocorre a redução da qualidade física do solo, comprometendo o crescimento das raízes e o desenvolvimento das plantas. Para que a colheita mecanizada seja eficiente é importante que a operação seja realizada de maneira que não comprometa a produtividade agrícola e a qualidade da matéria- prima.

Vários fatores devem ser considerados: sistematização da área, características varietais, homogeneidade do canavial, qualidade da operação, maquinários envolvidos, treinamento de equipes, entre outros. A sistematização é a etapa mais importante e envolve a preparação inicial do terreno. São retirados os tocos, pedras e restos de materiais estranhos, realizado o nivelamento da área, dimensionados o formato e comprimento dos talhões, locação de estradas e carreadores, sistemas conservacionistas e planejamento de sulcação.

Vale citar que a transição da colheita manual para colheita mecanizada acarretou mudanças e adaptações ao processo de colheita e algumas peculiaridades relacionadas às interações solo-máquina-planta têm causado preocupações como perdas altas de matéria-prima e o aumento das impurezas minerais e vegetais na indústria. Na cana crua, por exemplo, a quantidade de matéria vegetal (ponteiros, palha e folhas verdes) é bem maior quando comparada à cana queimada. Esse índice, se não monitorado e controlado, pode interferir negativamente na qualidade da matéria-prima.

Abaixo descreveremos sucintamente o que são e o que acarretam as perdas de cana e impurezas.

Perdas na colheita mecanizada

As perdas podem ser classificadas em visíveis e invisíveis. As perdas visíveis podem ser vistas no campo na forma de cana inteira, cana ponta, toletes, tocos, pedaços de cana e lascas. São facilmente identificadas, coletadas e quantificadas. As invisíveis (caldo, serragem, pequenos estilhaços) envolvem o processamento interno da cana na colhedora provenientes de impactos mecânicos do sistema de corte, picagem, transporte e limpeza.

A quantificação das perdas é uma ferramenta importante para subsidiar e garantir a qualidade do processo de colheita. Permite a correção de falhas operacionais e humanas e também a redução de custos diante de um cenário onde se encontram altos índices de preços de CCT (corte, carregamento e transporte).

Impurezas minerais e vegetais

A cana-de-açúcar que chega às usinas resultante da colheita mecanizada apresenta materiais indesejáveis denominados de impurezas. Pode ser de origem mineral e vegetal. A presença desse tipo de material prejudica o processo de fabricação de açúcar e etanol, interfere significativamente na qualidade final do produto, causa desgastes de equipamentos e aumentos dos custos de produção.

A impureza mineral é composta de pedras e terra e a vegetal de palhas, folhas verdes e ponteiros oriundos da matéria-prima. A impureza vegetal causa um menor peso de carga e perda de eficiência na extração de caldo na indústria, interferindo, principalmente na qualidade da matéria-prima (teor de sacarose). As impurezas também são quantificadas e apresentadas percentualmente ou em kg/tonelada de cana colhida, também com o objetivo de dar suporte para a melhora contínua do processo de colheita.

Considerações:

A colheita mecanizada é um sistema integrado que, quando bem conduzido e monitorado, apresenta ótimos resultados e atende às exigências legais e ambientais do setor. Evitar a formação de zonas de compactação no solo devido ao trânsito de maquinários é fator fundamental para alcançar bons níveis de produtividade e retomar a longevidade dos canaviais.

Solos altamente compactados sofrem grande alteração na dinâmica de água e nutrientes, ocasionando baixo aproveitamento desses indispensáveis fatores, portanto a prevenção da compactação mostra-se o melhor caminho. Para otimização dos custos e garantia da produtividade e qualidade da matéria-prima devemos estar atentos às perdas e às impurezas decorrentes do processo que acarretam diminuição de eficiência operacional e logicamente comprometem os rendimentos financeiros.

Quanto maiores forem os números de perdas e impurezas, menores serão os lucros. É muito importante que ocorra o acompanhamento da operação no campo, seja pelo produtor de cana ou por equipes especializadas de levantamento de campo, a fim de evitar problemas decorrentes principalmente de pisoteio, velocidade inadequada das colhedoras, desgaste de facas de corte de base e facões dos despontadores,entre outros.

O monitoramento da qualidade das operações agrícolas é de extrema importância para o aperfeiçoamento das mesmas, e dessa forma, seus dados nos dão subsídios para intervir nas operações, garantindo melhores resultados e máxima eficiência operacional e econômica. Os dados gerados devem ser criteriosamente analisados, auxiliando nas tomadas de decisão.

A Canaoeste conta com uma equipe técnica para auxiliar os associados no esclarecimento de dúvidas e acompanhamentos diários no campo a fim de assegurar a qualidade das operações e dos processos de produção de cana. No seu portfólio estão disponíveis, entre outros, os serviços de conservação de solos e sistematização de áreas que contemplam os projetos de campo para a otimização e viabilização do processo de colheita mecanizada.

Literaturas Consultadas

BRAUNACK, M.V.; ARVIDSSON, J. & HÅKANSSON, I.

Effect of harvest traffic position on soil conditions and sugarcane

(Saccharumofficinarum) response to environmental conditions

in Queensland, Australia. SoilTillage Res., 89:103-121, 2006

Escrito por: Alessandra Durigan, gestora Técnica da Canaoeste.

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Comentários
José Carlos Antonio, enviado em 13/12/2019

Vamos cuidar mais do canavial