Meritocracia também entra em jogo
Vantagens competitivas do produtor entrarão na mesa de negociação
Meritocracia é um dos termos mais utilizados dentro do mundo da gestão. É praticamente um mantra de todo administrador que consegue remunerar sua equipe de acordo com seu mérito, o que está diretamente ligado ao esforço, dedicação, experiência e inteligência. Resumindo: quem está melhor preparado consegue chegar lá. Porém, alguns pensadores criaram uma problemática para a definição.
Se for considerada somente a atitude do indivíduo como elemento para o sucesso, como explicar que um centroavante talentoso ganhe infinitamente mais que um dono de uma padaria que levanta às quatro da manhã, todos os dias, e fecha o seu estabelecimento à meia-noite, depois de atender os clientes que vão até lá para jantar?
Diante disso, o conceito foi alterado, mostrando que o esforço, a dedicação, a virtude, o talento, a inteligência, enfim, os méritos individuais são até elementos importantes, mas o fator primordial para o sucesso é a criação de valor. A ideia é a de que quanto mais imprescindível alguém é para os outros, mais estes estarão dispostos a servi-lo e, principalmente, remunerá-lo. Inspirado nesse conceito, a circular histórica do Consecana-SP do dia 25 de março também fala sobre o compartilhamento de valor por meio do reconhecimento de indutores de maior eficiência e sinergia.
Em outras palavras, significa que a partir de agora, aos contratos celebrados através do sistema de pagamento poderão ser inseridas premiações ou bonificações em razão de valores individuais que cada fornecedor gera para a usina.
Não há no texto uma especificação do que seriam esses valores, até porque muito complicaria defini-los de maneira específica em decorrência da particularidade que cada fazenda fornecedora tem em relação com a usina. Seria mais ou menos se o Consecana decidisse a hora que os pais precisam colocar seus filhos para dormir, ou, então, se é melhor comprar um carro esporte ou uma caminhonete.
No entanto, através do conhecimento da dinâmica da operação, dá para enumerar algumas cartas na manga interessantes que o produtor deve levar à mesa de negociação na hora de fechar o contrato. Umas relacionadas ao mérito individual como a assertividade de data e quantidade da cana que será entregue, o fechamento de contratos longos (demonstrando fidelidade) ou a criação de carreadores que beneficiem logisticamente o transporte de cana para a usina.
Há também a geração de valor por condições geográficas como proximidade da usina ou declividade (se o caminhão que irá buscar a cana sobe vazio e desce cheio, gerando generosas vantagens observando a economia de diesel e tempo da operação). Dessa maneira, o fornecedor terá que pensar sua atividade valorizando atitudes colaborativas, associativas e cooperativistas, pois, unidos, é possível criar mais valores.
Um exemplo simples é que através da formação de um condomínio para realizar a colheita, a assertividade de quantidade e, principalmente, a data de entrega da matéria-prima na usina são muito maiores. Diante disso, conclui-se que não é o suor que remunera, ele é um elemento importante na composição da receita, mas o que o mercado recompensa e recompensará muito mais é a criação de valor.
Escrito por: Marino Guerra