Pequeno manual de identificação de uma mata atlântica caipira
Entenda como reconhecer um fragmento de floresta
Com a presença dos professores Rodrigo Polisel, Bruno Aranha e Paolo Sartorelli no segundo dia do workshop, os participantes (público formado por profissionais da área ambiental de associações de fornecedores, usinas e representantes do governo estadual) foram até a Mata de Santa Tereza onde, dentre outros objetivos, estava incluída na programação uma aula aberta de como identificar uma Floresta Estacional Semicidual, mais conhecida como Mata Atlântica Caipira.
Local melhor para transferir esse conhecimento dificilmente seria encontrado, isso porque, em decorrência do terrível incêndio que aconteceu em 2014, foi possível mostrar como é uma mata muito preservada e uma degradada pelo fogo, e que ainda enfrenta dois processos de regeneração distintos – um de maneira natural e o outro com intervenção humana.
Nesse sentido, os trabalhos começaram pela exploração na área preservada, que se baseou na representação prática dos especialistas sobre diversos pontos de diagnóstico para identificar a vegetação com a observação aliada ao conhecimento.
O primeiro ponto de atenção foi para a questão do “céu”, ou seja, ao olhar para cima é possível reconhecer se a floresta é aberta ou fechada por completo (dificilmente se são vistas clareiras de luz solar), fator importante para se identificar em qual estágio aquele fragmento se encontra.
Ainda com a cabeça levantada, e com o intuito de saber o nível de evolução da área, os palestrantes orientaram a perceber o tamanho médio das árvores maiores, que lá tinham cerca de 30 metros, e se também havia espécies emergentes, que se destacam da média, ou seja, um forte indicativo de preservação.
A dinâmica do trabalho foi baseada na divisão dos participantes em três grupos, dos quais cada um seguiria uma trilha mata adentro acompanhados de um orientador. Pouco antes da saída, os cipós despertaram um interessante debate entre todos.
Sobre eles, nas florestas em regeneração, é ponto pacífico de que sua presença não é boa. Isso porque, conforme explicaram os especialistas, como o seu desenvolvimento é muito mais rápido que o das árvores (por ter raízes mais profundas e conseguirem atingir mais água na época seca), eles acabam por roubar raios de sol valiosos para a unidade vegetal nativa.
Para o seu controle é recomendado apenas o corte do seu caule, próximo à terra e deixá-lo secar sozinho.
Contudo, um alerta foi dado. Dependendo da situação da floresta essa vegetação entra em equilíbrio com o ecossistema, fazendo com que o seu controle não seja mais necessário, como foi possível notar entrando mais profundamente na trilha. Sendo assim, a preocupação com sua presença em excesso deverá se dar sempre nas bordas das matas e também em áreas de regeneração.
“Cipó não é uma vegetação problemática para a floresta, o problema é que devido ao tamanho do fragmento, que às vezes é só borda e também por ele ter passado por um fator degradante, o ambiente entra em desequilíbrio e, como ele se desenvolve de maneira mais rápida, é preciso um manejo racional de controle”, disse Polisel.
Ainda na trilha foram encontradas diversas espécies que, se estiverem presentes num diagnóstico de área, é quase certeza de que lá se tratava de uma Mata Atlântica Caipira. E foi transferida aos participantes uma técnica fundamental de reconhecimento através das folhas.
Dentre as diversas espécies separadas estavam o Jequitibá, o Pau-d’alho, o Cedro Rosa, o Jatobá, o Pau-de-Cutia, o Alecrim de Campinas, entre outras dezenas de árvores.
Ao chegar na área que sofreu com o fogo, a primeira constatação evidente foi a presença de mato em grande parte, planta invasora que se desenvolveu após a eliminação da cobertura aérea e o recebimento de sol.
Num rápido bate-papo foram discutidas formas de manejar aquele capim, sendo a mais indicada, desde que possível legal e financeiramente, o seu combate químico e com posterior plantio de árvores pioneiras (de rápido crescimento) e controle da população de cipó.
No período da tarde, os grupos fizeram uma dinâmica e realizaram a contagem de espécies regenerantes através da formação de parcelas. Durante o exercício, muitas dúvidas surgiram em relação a como considerar árvores cujas copas estão muito altas e se realmente sombreiam a área o suficiente para inibir o crescimento da braquiária, o que, segundo a regulamentação, é preciso avaliar, mas,na prática, ficou evidente que pouco importa.
Escrito por: Marino Guerra
Fotos: Rodrigo Moisés
Fonte: Revista Canavieiros