Empresas fora das grandes rotas, com gestão profissionalizada e visão de longo prazo, ganham destaque em fusões e aquisições

O agronegócio brasileiro vive um novo ciclo de protagonismo, desta vez, no mercado de fusões e aquisições (M&A). Em 2024, o setor registrou 12 operações, o maior número dos últimos cinco anos, representando um crescimento de 140% em relação a 2023, segundo levantamento da KPMG. O dado confirma uma tendência: empresas regionais, muitas delas fora dos grandes centros financeiros, começam a atrair o interesse de investidores ao combinar gestão profissionalizada, tecnologia e visão de longo prazo.

Para José Loschi, fundador da SRX Holding’s, esse movimento reflete uma transformação estrutural no agro. “Empresas do interior, que sempre conheceram de perto o produtor e a dinâmica local, agora também operam com a mesma estrutura, tecnologia e governança das grandes. Essa combinação muda a percepção sobre elas e as transforma em ativos muito valiosos para o mercado”, afirma.

Interior ganha protagonismo

O avanço das fusões e aquisições em regiões tradicionalmente distantes das capitais sinaliza uma mudança de paradigma. O setor rural, historicamente associado à informalidade e à gestão familiar, passa a ser reconhecido pela profissionalização e estabilidade operacional. Esse novo perfil desperta o interesse de fundos e grupos estratégicos que buscam empresas com crescimento sustentável e forte conexão com o território onde atuam.

Além disso, a consolidação de novos polos agroindustriais no interior tem atraído investidores interessados em negócios integrados à cadeia produtiva — de insumos a distribuição. “O agro regional vem mostrando que eficiência e governança não são exclusividade das grandes corporações. A nova geração de gestores do setor está mais preparada, conectada e consciente do valor que cria”, observa Loschi.

M&A em alta no país

O movimento de fusões e aquisições no Brasil como um todo também mostra sinais de retomada. De acordo com levantamento da consultoria Kroll, 1.426 operações foram anunciadas em 2024, um crescimento de 1,9% frente ao ano anterior. Os setores de tecnologia, infraestrutura e saúde continuam entre os mais ativos, mas o agronegócio vem ganhando espaço com operações voltadas à inovação, sustentabilidade e integração de cadeias produtivas.

O fortalecimento do agro regional no mercado de M&A é, para especialistas, um indicativo de maturidade e reposicionamento estratégico do setor.

“O agro que se reinventa, com gestão moderna e clareza de propósito, torna-se protagonista das fusões e aquisições. É o agro que reposiciona o Brasil no mapa global do M&A”, conclui Loschi.