Canaoeste investe R$ 2,5 milhões em fábrica de insumos biológicos
Biofábrica em Sertãozinho (SP) vai praticar preços de 30% a 40% inferiores aos de mercado
A Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste) lança no dia 15 de agosto, em Sertãozinho (SP), sua fábrica de insumos biológicos visando atender os 1.900 associados. O investimento na biofábrica, com capacidade de produzir de 100 a 120 mil litros por ano, é de R$ 2,5 milhões.
Almir Torcato, gestor corporativo da Canaoeste, diz que a associação é pioneira na instalação de uma unidade biológica no modelo coletivo.
Segundo ele, sem apoio, o associado, especialmente o produtor rural mais tradicional, poderia não ter acesso aos biológicos ou não ter a iniciativa de buscar o produto que agrega sustentabilidade à produção.
“Com a biofábrica, a associação vai entregar a solução, ensinar como usar e incentivar a redução dos químicos por hectare, item fundamental para o produtor atingir a certificação.”
O agrônomo André Volpe, gestor da biofábrica que leva o nome de CanaoesteBio Tecnologia Sustentável, diz que já havia uma demanda de parte dos associados por biológicos e um aumento da produção on farm (nas fazendas).
“Nós pensamos: por que não ser a biofábrica dos nossos associados, com estrutura mais robusta do que eles poderiam ter na fazenda, com processos de produção bem definidos e custo reduzido?”
Pragas
Inicialmente serão produzidos dois bioinsumos que já estão consolidados no mercado. Por meio da multiplicação dos fungos, Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, em parceria com o Instituto Biológico, os produtos vão combater a cigarrinha das raízes (Mahanarva fimbriolata) e o bicudo da cana (Sphenophorus levis), duas pragas que estão entre as que mais causam danos ao canavial.
A venda é exclusiva para os associados da Canaoeste. A definição do preço, segundo Volpe, ainda aguarda a finalização do registro dos produtos, mas deve ser cerca de 30% ou 40% inferior ao de mercado porque vai cobrir apenas o custo de produção e a margem operacional.
Cada produtor terá acesso ao volume necessário para sua área de cultivo. O agrônomo explica que a recomendação é integrar os biológicos com os produtos químicos no manejo integrado de pragas, acompanhar os níveis de infestação e reduzir gradualmente o volume dos químicos.
Certificação
A Canaoeste já é certificada Bonsucro, mas tem o desafio de estender a certificação para todos os associados. Em setembro, o grupo que está mais adiantado nos processos, formado por 13 agricultores que produzem 1 milhão de toneladas de cana, vai passar pela auditoria.
Em 7 anos, o plano é triplicar ou quadruplicar o número de certificados, atingindo 50% da produção total dos associados de 7 milhões de toneladas.
Torcato destaca que a certificação, que antes só era concedida às usinas, além de melhorar a gestão da fazenda na questão ambiental, trabalhista, manejo, registro de consumo de insumos, entre outros, também abre a oportunidade de venda de créditos na plataforma da Bonsucro.
O produtor não recebe atualmente nenhum bônus na venda de sua cana certificada para a usina, mas o açúcar produzido com aquela cana pode render um crédito ao agricultor na plataforma pago por empresas que querem fomentar a produção de cana sustentável. É o que faz hoje a indústria de chocolates Barry Callebaut, segundo Torcato.
“O terceiro e principal benefício da certificação é que a fazenda vira modelo e seu proprietário pode conseguir crédito a taxas menores”, afirma o gestor corporativo.
Consecana e Renovabio
Fundada há 78 anos, a Canaoeste tem sede em Sertãozinho e associados que cultivam cerca de 125 mil hectares em 100 municípios. Atualmente, a associação defende uma revisão nos modelos do Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana) e do Renovabio.
O primeiro determina o preço da tonelada de cana paga ao produtor, que está defasado segundo a Canaoeste. O segundo estabelece o pagamento de créditos de descarbonização (CBios), que visam incentivar o uso de combustíveis renováveis.
“Quando a lei do CBio foi criada não incluiu o produtor, só a indústria. Então, legalmente, o produtor não tem direito a nada. Hoje, cada indústria paga o percentual que acha justo, com o máximo de 50%. Apoiamos o projeto de lei que tramita no Congresso com pagamento de 80% ao produtor, afinal a descarbonização acontece no campo”, finaliza Torcato.
Fonte: https://globorural.globo.com/agricultura/cana/noticia/2023/08/canaoeste-investe-r-25-milhoes-em-fabrica-de-insumos-biologicos.ghtml