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Cenário climático e produtivo obriga revisão da safra de cana e açúcar no Centro-Sul

As incertezas climáticas e os desafios agronômicos enfrentados pela cadeia da cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil levaram a uma nova reavaliação nas projeções da Hedgepoint Global Markets sobre a safra 2025/26. O cenário, marcado por geadas leves, queda no TCH (toneladas de cana por hectare) e baixa eficiência industrial, aponta para uma redução relevante nas estimativas de produção de açúcar e etanol, afetando também o saldo exportável do país e o comportamento dos preços no mercado internacional.

A movimentação ocorre em um contexto de instabilidade geopolítica, com reflexos sobre o mercado de energia. Entre os dias 23 e 24 de junho, um anúncio de cessar-fogo feito pelo presidente dos EUA, Donald Trump, promoveu uma correção técnica no setor energético, com o petróleo e ativos correlacionados caindo entre 2% e 4%. Essa retração reduziu o suporte que a energia vinha oferecendo ao restante do mercado de commodities, provocando perdas em setores como soja, milho e açúcar, este último oscilando em torno de 16 centavos de dólar por libra-peso.

No entanto, segundo Lívea Coda, coordenadora de inteligência de mercado da Hedgepoint, o fator determinante para a revisão de cenários foi a produtividade abaixo do esperado em maio, combinada com geadas recentes e o início precoce do inverno, que aumenta a incerteza sobre os próximos meses. “Apesar do Índice de Saúde da Vegetação ainda apontar condições razoáveis, o TCH permanece aquém das expectativas, resultado, em parte, do estresse hídrico vivido entre agosto e setembro de 2024”, explica.

Revisão nas estimativas da safra e impactos no mercado

Com base nesses fatores, a Hedgepoint revisou sua estimativa de ATR (Açúcar Total Recuperável) para 139,8 kg/t e projeta um mix açucareiro de 51,3%, mantido graças ao ritmo atual das usinas. A previsão de produção total de açúcar no Centro-Sul caiu de 42,4 milhões para 41,6 milhões de toneladas, o que gerou uma redução direta na estimativa de exportação: de 33,4 milhões para 32,7 milhões de toneladas.

Esse ajuste fez com que o excedente global no fluxo comercial entre o segundo trimestre de 2025 e o terceiro de 2026 fosse reduzido de 3,5 milhões para 2,8 milhões de toneladas. Esse novo cenário mais apertado pode estimular uma recuperação dos preços do açúcar para acima de 16 c/lb, com possibilidade de retorno até 17 c/lb caso o risco climático se concretize.

Etanol: estoques e demanda sob nova perspectiva

A revisão da Hedgepoint também tocou os estoques e a demanda de etanol anidro e hidratado. Como a empresa inicialmente projetava que o mandato do E30 (mistura de 30% de etanol anidro na gasolina) entraria em vigor já em junho, o anúncio oficial de que a medida só passa a valer em 1º de agosto provocou um recuo nas projeções de demanda imediata.

Além disso, os dados da ANP apontaram que o etanol hidratado respondeu por apenas 38% do volume total de combustíveis em abril, um ponto percentual a menos que no mesmo período do ano anterior, influenciado pela piora na paridade de preços nas bombas. Isso forçou a Hedgepoint a reduzir sua previsão de participação do hidratado na demanda de combustível para esta safra, o que trouxe alívio aos estoques previstos.

Cenário global mantém pressão sobre os preços

Apesar do estreitamento no saldo exportável e da possibilidade de recuperação dos preços, o sentimento no mercado global continua predominantemente baixista. Segundo a analista da Hedgepoint, há pelo menos quatro fatores que continuam a limitar a retomada das cotações do açúcar:

Safras robustas no Hemisfério Norte, especialmente em Índia, China e Tailândia, com boas condições de cultivo.

Atividade do mercado enfraquecida, refletindo um sentimento geral de risco e cautela entre os investidores.

Apoio limitado do setor energético, impactado pelas incertezas geopolíticas e pelas dúvidas sobre a nova política da Petrobras de repasse de custos.

Vendas de última hora, que têm sistematicamente barrado a recuperação dos preços desde o final de maio.

Visão de médio prazo e recomendações

Apesar do panorama desafiador, a analista observa que os atuais preços de açúcar podem ter espaço para valorização no médio prazo, especialmente se novos eventos climáticos adversos impactarem a produção no Brasil. A Hedgepoint mantém, no entanto, uma postura conservadora, destacando que o equilíbrio do mercado global ainda depende de múltiplas variáveis — desde a evolução do inverno no Centro-Sul até as reações das economias globais às instabilidades políticas e fiscais.

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