CTC confirma Colletotrichum falcatum como agente da Murcha da Cana

Lançamento da plataforma Esfera marca nova fase de integração científica e produtiva no setor sucroenergético
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) apresentou nesta terça-feira (23), em sua sede em Piracicaba – SP, a plataforma Esfera, criada para promover a colaboração entre academia, produtores e empresas. A iniciativa pretende estimular o compartilhamento de conhecimento, incentivar debates técnicos e gerar soluções inovadoras para desafios de manejo e plantio, antecipando tendências capazes de redefinir a produtividade dos canaviais.
No evento, também foi lançado o Fórum Científico, braço central da Esfera. Mais do que reunir discussões já existentes, o espaço se propõe a consolidar esforços intersetoriais em busca de respostas conjuntas para problemas que afetam toda a cadeia da cana-de-açúcar.
Segundo os organizadores, a Esfera terá duas linhas de ação: debates virtuais permanentes e eventos presenciais focados em práticas aplicáveis no campo. “Nosso objetivo é priorizar temas e acelerar respostas. O segredo não é apenas pesquisar, mas saber o que buscar: quais manejos e variedades realmente ajudam o setor a avançar”, explicou Suzeti Ferreira, diretora de Marketing do CTC. Ela destacou ainda que a neutralidade e a colaboração são os pilares fundamentais do novo ecossistema.
Síndrome da Murcha tem agente confirmado
A primeira Arena de Debates da Esfera tratou da Síndrome do Murchamento da Cana, uma das maiores ameaças atuais à produtividade. Pesquisas conduzidas pelo CTC confirmaram que o Colletotrichum falcatum é o patógeno primário da doença.
A conclusão foi alcançada após testes de isolamento, inoculação e reisolamento em plantas sadias, seguindo os postulados de Koch. Também foram aplicadas ferramentas de metagenômica, capazes de mapear o material genético presente nas amostras.
O fungo, já conhecido como causador da Podridão Vermelha, mostrou-se o principal responsável pelo murchamento da cana. Em campo, ele atua em conjunto com outras doenças oportunistas, como a Podridão da Casca (Pleocyta sacchari), agravando os danos e provocando perdas de até 70% no ATR em áreas infectadas, especialmente quando associado à ação da broca-da-cana, que facilita a entrada do patógeno.
O papel da pesquisa
Segundo a fitopatologista Tatiane Mistura, os estudos enfrentaram dificuldades iniciais devido à presença de contaminantes. Para contornar o problema, a equipe do CTC desenvolveu protocolos específicos de laboratório. Nas análises de lesões mais antigas, o Colletotrichum falcatum foi identificado como o predominante, confirmando sua posição como agente causal.
“O Colletotrichum falcatum, antes vinculado apenas ao complexo da podridão vermelha, agora é reconhecido também como o causador da murcha da cana. Essa descoberta muda totalmente nossa abordagem”, explicou Mistura.
Ela ressaltou que a Pleocyta sacchari age apenas de forma oportunista, após o Colletotrichum abrir caminho na planta. Essa interação provoca mudanças visíveis nos sintomas: as lesões deixam de exibir o vermelho intenso e passam a assumir tons amarronzados, o que dificultava diagnósticos anteriores.
“Não falamos mais em síndrome. Agora sabemos quem é o agente causal e podemos buscar soluções específicas”, explicou a fitopatologista.
Caminhos a partir da descoberta
Com a confirmação do agente primário, novas possibilidades se abrem para o setor, tais como estratégias de manejo mais assertivas, reduzindo perdas de produtividade; protocolos de controle integrado, considerando fungos e pragas em conjunto; avanço em programas de melhoramento genético, priorizando variedades resistentes ao Colletotrichum falcatum e ajuste em diagnósticos de campo, com treinamentos focados nos novos sintomas identificados.
A especialista destacou ainda que o problema agora deve ser tratado como “Podridão por Colletotrichum”, deixando de ser referido como síndrome.
Para Luciana Castellani, gerente executiva de Melhoramento Genético do CTC, a confirmação é um divisor de águas. “Essa constatação é um avanço significativo para toda a cadeia produtiva, pois direciona os esforços em busca de soluções mais eficientes”.
Futuro e inovação no setor
O encontro também reuniu produtores, especialistas e representantes da comunidade científica, reforçando a necessidade de colaboração intersetorial para acelerar os avanços no campo. O próximo evento da Esfera já tem data marcada: 30 de outubro, com foco no pacote tecnológico — que inclui manejo de pragas, herbicidas, maturadores e práticas de plantio e colheita.
Para o CEO do CTC, Cesar Barros, a Esfera consolida a liderança da instituição em inovação e traduz seu compromisso em transformar ciência em resultados práticos. “O Brasil é referência mundial em cana-de-açúcar. A Esfera nasce para unir o setor em torno de debates técnicos e científicos, promovendo soluções que aumentem a produtividade. Temos convicção de que é possível dobrar a produtividade até o final da próxima década”, afirmou.
Esse objetivo será sustentado em três pilares: melhoramento genético, com variedades como a CTC Advana1, já lançada, de porte ereto, alto teor de açúcar e longevidade elevada; biotecnologia, com destaque para a CTC VerdPRO2, que reúne resistência à broca-da-cana e tolerância a herbicidas e Projeto Sementes, fruto de 11 anos de pesquisa e R$ 1 bilhão em investimentos, que introduz as sementes sintéticas de cana, capazes de liberar áreas produtivas, aumentar a eficiência e reduzir a pegada de carbono. A construção da primeira fábrica de sementes, já em fase avançada, terá capacidade para produzir sementes sintéticas para até 1.000 hectares por ano, e ajudará a acelerar a adoção de novas tecnologias no campo.
Além disso, o CTC mantém pesquisas de médio e longo prazo, como o desenvolvimento de uma cana transgênica resistente ao bicudo (Sphenophorus), praga ainda sem métodos eficazes de controle.
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