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Estria vermelha, raquitismo das soqueiras e escaldadura das folhas: doenças silenciosas que ameaçam a produtividade da cana

A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes do agronegócio brasileiro, com papel central na produção de açúcar, etanol e bioenergia. No entanto, o avanço de doenças emergentes ameaça cada vez mais a estabilidade e a produtividade dos canaviais. Entre essas enfermidades, três se destacam por seu impacto crescente: raquitismo das soqueiras, escaldadura das folhas e a estria vermelha — esta última, tema central de apresentações recentes de renomados especialistas como o Prof. Dr. Alfredo Urashima (UFSCar – São Carlos) e a Dra. Fernanda Dias Pereira (CROPPEN) durante a 4ª Reunião do Grupo Fitotécnico.O encontro ocorreu nesta terça-feira (15), no Centro de Cana, em Ribeirão Preto – SP. 

Essas doenças, embora conhecidas há décadas, passaram a ocupar protagonismo no cenário agrícola por conta de transformações no ambiente produtivo: uso intensivo de variedades suscetíveis, alterações climáticas, mudanças nos manejos culturais e lacunas no controle fitossanitário. O alerta é claro: sem controle adequado, os prejuízos podem ser severos, tanto em rendimento quanto em qualidade da matéria-prima.

Doença emergente: o caso da estria vermelha

Apontada como uma doença emergente pela Dra. Fernanda, a estria vermelha deixou de ser um problema secundário para se tornar um dos principais desafios sanitários nos canaviais. Embora conhecida desde 1935, no Rio de Janeiro, seu avanço nas últimas safras acendeu o sinal de alerta entre pesquisadores e usinas, especialmente nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás.

A bactéria causadora, Acidovorax avenae subsp. avenae, é um organismo gram-negativo com mobilidade ativa por flagelo, sendo favorecida por filmes de água em superfícies foliares e condições de alta umidade e calor — características comuns entre os meses de outubro e março no clima tropical brasileiro. Essas condições facilitam sua entrada em aberturas naturais da planta, como estômatos, causando infecção progressiva.

A doença se dissemina por água da chuva e respingos; vento, que carrega exsudatos bacterianos em forma de plaquetas brancas; contato entre folhas lesionadas e saudáveis e ferimentos naturais causados por atrito ou vento.

Os sintomas aparecem em duas formas principais: estrias foliares: manchas avermelhadas no terço médio da folha, que podem chegar à base ou podridão de topo (poder de topo): quando a infecção atinge o meristema apical, levando à morte da gema e à paralisação do crescimento.

A Dra. Fernanda ressalta que os sintomas podem ocorrer separadamente: há casos de podridão sem estrias e estrias sem podridão, o que dificulta ainda mais o diagnóstico de campo.

Falsa estria vermelha e o desafio diagnóstico

A falsa estria vermelha, causada por bactérias do gênero Xanthomonas, representa mais um desafio. Até recentemente, acreditava-se que a coloração amarelada de colônias era exclusiva dessa bactéria. No entanto, descobertas de 2023 mostram que Acidovorax também pode formar colônias amarelas, o que pode gerar equívocos laboratoriais.

Nesse contexto, especialistas recomendam o diagnóstico molecular por PCR, para diferenciação segura; análise de crescimento em meios com asparagina como única fonte de carbono e nitrogênio e a observação de sintomas típicos (posição das lesões e idade da planta).

Embora o foco atual seja a estria vermelha, outras doenças bacterianas como o raquitismo das soqueiras e a escaldadura das folhas também vêm crescendo em importância. O raquitismo é causado por Leifsonia xyli subsp. xyli, uma bactéria que compromete o sistema vascular da planta, reduzindo drasticamente o crescimento e perfilhamento. Já a escaldadura é provocada por Xanthomonas albilineans, que atua de forma sistêmica, afetando os tecidos internos e promovendo secamento foliar e morte de plantas.

Essas doenças, assim como a estria vermelha, dependem de propagação por mudas contaminadas, ferramentas de corte, água e vento, e se manifestam especialmente em condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento.

Impactos econômicos e produtivos

A severidade das doenças é proporcional à sua subestimação. Em experimentos apresentados pela pesquisadora, o uso de três aplicações químicas resultou em ganho de 19 toneladas por hectare em produtividade, além de um acréscimo de 3,6 toneladas de açúcar por hectare (TAH). As perdas causadas pela podridão de topo podem ser significativas, afetando a densidade populacional, área fotossintética ativa e qualidade industrial da cana.

O manejo das doenças emergentes exige uma abordagem multidisciplinar. Entre as principais estratégias destacam-se o uso de variedades resistentes, pois reduzem drasticamente o potencial de infecção e devem ser priorizadas em áreas endêmicas ou com histórico da doença. O controle químico, sendo que as aplicações devem começar nos primeiros sintomas (folha +1) e os produtos precisam ser reaplicados conforme intervalo recomendado. De acordo com ela, a eficiência depende da precocidade da aplicação, disponibilidade de maquinário e clima.

O manejo nutricional, com aplicação de boro tem mostrado bons resultados, evitando o excesso de nitrogênio, que favorece tecidos jovens e mais suscetíveis. “Solos argilosos e mal drenados podem manter umidade e favorecer a doença”, explica.

Além do controle biológico em desenvolvimento com cepas específicas, que tem apresentado bons resultados em podridão de topo, embora ainda inconsistentes em produtividade.

Pesquisas em andamento e perspectivas

A CROPPEN, empresa parceira da pesquisa, vem testando diversas formulações biológicas e químicas com resultados promissores. Alguns ensaios ainda estão sob sigilo industrial, mas há expectativa de divulgação nos próximos meses.

Além disso, Dra Fernanda destacou que a estratégia mais promissora pode estar na interação entre produtos químicos e biológicos, aproveitando a ação rápida dos primeiros com o modo de ação amplo e sustentável dos segundos.

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