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Proálcool completa 50 anos e reacende debate sobre o papel do etanol na transição energética

Programa criado na ditadura impulsiona indústria, mas deixa lacunas e abre caminho para novas tecnologias

Cinco décadas após o lançamento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975, a política que transformou o setor sucroenergético voltou ao centro das atenções, desta vez em um palco global. Durante a COP30, em Belém, representantes do governo brasileiro celebraram os 50 anos do programa, ressaltando sua contribuição histórica para a segurança energética, a industrialização e a descarbonização do transporte no país.

O Ministério de Minas e Energia (MME) participou da cerimônia realizada em 14 de novembro. Na ocasião, o secretário Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Renato Dutra, afirmou que o Proálcool permanece como referência mundial. Segundo ele, “o Proálcool é reconhecido como o maior e mais ousado programa de produção e utilização de combustíveis renováveis já realizado no mundo. Essa celebração representa uma oportunidade de apresentar a trajetória singular do Brasil na adoção de fontes limpas e renováveis de energia, compromisso que continuamos a fortalecer por meio de iniciativas como a Lei do Combustível do Futuro”.

Lançado como resposta ao choque do petróleo, o Proálcool estruturou uma cadeia produtiva que moldou a indústria automotiva, impulsionou a pesquisa nacional e consolidou o etanol como alternativa estratégica. Embora tenha enfrentado falhas de planejamento, crises de abastecimento e dependência de subsídios, o programa deixou um legado robusto, que hoje serve de base para as novas rotas tecnológicas da transição energética.

Da crise do petróleo ao carro flex: como o etanol moldou a indústria automotiva

Nos anos 1980, o Brasil assistiu à rápida expansão dos veículos movidos exclusivamente a álcool. A colaboração entre montadoras, centros de pesquisa e fornecedores viabilizou motores dedicados ao etanol e criou padrões técnicos que permitiram a difusão do combustível em escala nacional. Apesar dos avanços, o setor enfrentou dificuldades com oscilações de oferta e perda de confiança do consumidor no fim daquela década, quando uma crise de abastecimento expôs fragilidades na coordenação entre governo, usinas e distribuidoras.

A virada da tecnologia flexfuel, em 2003, reverteu esse cenário. Ao permitir o uso de qualquer proporção entre etanol e gasolina, a inovação eliminou o risco de desabastecimento e devolveu segurança ao consumidor. O sistema tornou-se predominante: mais de 80% da frota leve hoje utiliza motores flex. A evolução agrícola também foi decisiva. A mecanização da colheita, a melhoria genética das variedades e a expansão da bioeletricidade elevaram a produtividade e diversificaram a receita das usinas.

O Proálcool teve impacto expressivo na balança comercial ao reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados. Ao longo de décadas, o programa contribuiu para mitigar emissões de gases de efeito estufa e consolidou o etanol brasileiro como referência internacional em combustíveis renováveis. Ainda assim, desafios persistem: volatilidade de preços, pressão por eficiência agrícola e competição crescente com novas tecnologias de mobilidade.

Um mercado em transição: etanol, eletrificação e novas rotas tecnológicas

Cinco décadas depois, o debate energético ganhou novas camadas. A presença dominante dos veículos flex convive com a chegada de híbridos, híbridos flex, híbridos plug-in e elétricos puros. Na prática, a eletrificação não elimina o etanol: reposiciona-o. Nas rotas híbridas, o combustível de cana se torna um multiplicador de eficiência e um vetor de descarbonização mais rápido que a eletrificação isolada, especialmente em mercados com matriz elétrica limpa, caso brasileiro.

A Lei do Combustível do Futuro, sancionada em 2024, acelerou essa convergência ao elevar o limite de etanol anidro na gasolina para 30% – podendo esse percentual ser ampliado para até 35%, desde que comprovada a sua viabilidade técnica – criar incentivos ao SAF, diesel verde e biometano, e estabelecer um corredor regulatório para projetos de captura de carbono. A legislação abre espaço para ampliar o uso do etanol em aplicações industriais e logísticas.

O hidrogênio também entra no radar do setor. Pesquisas conduzidas pela USP avançam no desenvolvimento de reformadores capazes de extrair hidrogênio do etanol diretamente no veículo, reduzindo custos de infraestrutura e posicionando o biocombustível como ponte para tecnologias em amadurecimento.

Na cadeia sucroenergética, empresas reforçam investimentos para consolidar o etanol no mercado global de baixo carbono. A Copersucar, maior comercializadora do mundo, vem expandindo sua atuação logística e participando de iniciativas internacionais de padronização e certificação de emissões, etapa decisiva para ampliar o acesso ao mercado europeu e asiático.

Entre passado e futuro, etanol permanece ativo na estratégia energética brasileira

O aniversário de 50 anos do Proálcool, marcado na COP30, reacendeu o reconhecimento global de uma das políticas públicas mais influentes da história energética contemporânea. O programa nasceu de uma necessidade conjuntural, mas seu legado se tornou estrutural: criou infraestrutura, incentivou inovação, formou mão de obra e estabeleceu um ecossistema capaz de responder a novas exigências climáticas.

A evolução tecnológica indica que a próxima fase não será de substituição, mas de integração. Híbridos, elétricos, biometano, hidrogênio e combustíveis avançados tendem a coexistir, e o etanol permanece como pilar de competitividade. O país possui vantagens comparativas, clima, produtividade agrícola, matriz elétrica limpa e capacidade industrial, que tornam sua rota de biocombustíveis mais eficiente que a de outras economias.

Cinquenta anos depois, o Proálcool continua a influenciar decisões industriais e regulatórias. Na transição energética que se acelera, o etanol segue como uma das soluções mais acessíveis, escaláveis e alinhadas à realidade brasileira, e sua relevância foi reafirmada justamente no palco mais simbólico do debate climático global.

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