Setor precisa do plantio mecanizado de tolete de cana
Volta e meia surgem críticas ao plantio mecanizado de cana em tolete, alguns até alardeiam que o setor voltará ao plantio manual. Na visão do engenheiro agrônomo Dib Nunes Jr, Presidente do Grupo IDEA, o setor sucroenergético necessita do plantio mecanizado de cana em tolete.
Dib observa que aproximadamente 65% da cana plantada na região Centro-Sul acontece por meio dessa operação. “O plantio mecanizado surgiu porque as empresas não tinham mão de obra especializada, com o plantio manual ocorriam muitos problemas trabalhistas e o custo ficou proibitivo. Ainda hoje, o custo do plantio mecanizado é menor em torno de 20% a 25% em relação ao antigo plantio manual esparramado”, observa.
O Presidente do Grupo IDEA salienta que as plantadoras evoluíram muito. “Como no caso da plantadora da DMB que tem kits de acabamento, sulcação, destorroamento, cobrimento, subsolagem, aplica inseticida, adubo, calcário. É multifuncional, ao fazer todas essas operações reduz muito o custo do plantio.”
Na visão de Dib o que o setor precisa é melhorar a qualidade do plantio mecanizado. “Tenho visitado áreas plantadas com máquina que apresentam altíssima qualidade, isso porque seus gestores não visam rendimento, mas qualidade do plantio. Tudo começa pela colheita da muda, é preciso calma, ir com baixa velocidade, trocar com mais frequência os elementos cortantes da colhedora. Quem pensa apenas em rendimento na colheita de mudas, não tem esses cuidados. Para fazer bem-feito é preciso observar a operação, começou a estragar os toletes, a danificar as gemas, para imediatamente, não adianta continuar colhendo e depois despejar toneladas de mudas machucadas no sulco, não vai brotar, vai ter falhas”, alerta Dib.
Os cuidados continuam na operação de plantio, observa Dib. “Muitos reclamam do plantio mecanizado, mas buscam mais rendimento do que qualidade. É preciso fazer devagar, é uma operação delicada. E para ter bom resultado depende das pessoas, é preciso treinar a equipe, conscientizar, envolver os profissionais.”
Em relação ao crescimento do plantio de cana com Meiosi – Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente -, Dib explica se tratar de uma operação que permite ao setor produzir grãos, trazendo ganhos agronômicos e até financeiro, e que por isso vai se manter no setor. No entanto, nem todas as áreas é possível fazer Meiosi, que também exige grande planejamento, mudas na hora certa e liberação antecipada de áreas. Além disso, já há quem esteja mecanizando o plantio mesmo em áreas com Meiosi. “A cana-muda é colhida, passada para a plantadora que vai preenchendo as linhas onde estavam os grãos. Sem a necessidade de mão de obra.”
Dib vê um cenário com espaço para as várias modalidades de plantio – mecânico, manual, Meiosi –, mas no qual o plantio mecanizado de cana com tolete continuará liderando, na faixa dos 65%. Para ele, abandonar o plantio mecanizado de cana é um retrocesso. “Quem ainda não treinou a sua equipe para o plantio mecanizado, é melhor realizar o plantio manual por esparrame, mas é preciso evoluir, não pode estacionar, pois as desvantagens deste tipo de plantio se mantêm – falta de mão de obra especializada e problemas trabalhistas”.
GANHOS COM O PLANTIO MECANIZADO EFICIENTE
O plantio mecanizado de cana-de-açúcar, realizado de maneira eficiente, tem proporcionado resultados bastante positivos para produtores e unidades sucroenergéticas. Algumas usinas estão utilizando quantidade de mudas similar à que é usada no plantio manual. Existe caso de consumo de apenas 10 toneladas de mudas por hectare, plantadas com a máquina automatizada – constata o engenheiro agrônomo Auro Pereira Pardinho, gerente de marketing da DMB Máquinas e Implementos Agrícolas.
A superação de obstáculos e o equacionamento de algumas questões técnicas estão possibilitando que diversas usinas como a Pedra Agroindustrial, Grupo Ipiranga, Grupo Coruripe e Atvos usufruam dos benefícios proporcionados pelo plantio mecanizado. Algumas unidades produtoras de cana se distanciaram momentaneamente dessa nova opção tecnológica, retornando ao plantio manual devido aos problemas iniciais da mecanização e da maior oferta de mão de obra em decorrência da crise econômica.
A disponibilidade de trabalhadores para a realização
do plantio poderá tornar-se mais difícil no caso de reaquecimento da
economia – observam especialistas da área. Além disso, deve ser
considerado o ônus para o cumprimento das exigências trabalhistas – cada
vez mais rigorosas – para atividades a céu aberto, que são
desenvolvidas em condições severas, inclusive com exposição excessiva ao
sol.
A EVOLUÇÃO DA MECANIZAÇÃO DO PLANTIO
Um grande diferencial da mecanização do plantio é a possibilidade da sua integração às tecnologias avançadas, que utilizam recursos mais eficientes para a realização dessa operação. A própria DMB recorre à automação para distribuição de mudas por meio de sua plantadora de última geração, dotada também de um sulcador com dispositivo destorroador, que barateia e simplifica o preparo do solo.
Para que todo o potencial proporcionado pelo avanço tecnológico seja aproveitado da melhor maneira possível, é preciso que sejam adotadas as melhores práticas que fazem parte do processo de plantio de cana-de-açúcar. Em alta, o sistema mecanizado começa a trilhar caminhos para a obtenção de resultados expressivos, quando utiliza mudas sadias cultivadas em viveiros, o que inclui o roguing – inspeções fitossanitários com arranquio de touceiras afetadas por doenças ou pragas –, exemplifica Auro Pardinho.
A produção de mudas de qualidade deve desconsiderar o uso de cana de primeiro ou segundo corte, e sim preparar um viveiro de mudas para tal. É preciso também adotar diversos cuidados na colheita de mudas, como a utilização de faquinhas novas para que não sejam causadas trincas nos toletes – observa o gerente de marketing da DMB. Além disso, devem ser usadas máquinas apropriadas para a colheita de mudas, com sistema que reduz pontos de atrito com a planta e eleva o índice de preservação das gemas.
A utilização de Mudas Pré-Brotadas (MPBs) é também uma medida que favorece a utilização de mudas sadias e, portanto, a germinação de novas plantas – comenta.
PLANTADORA AUTOMATIZADA
A conquista de ganhos significativos na mecanização do plantio conta com importantes recursos tecnológicos incorporados às máquinas que realizam essa operação. A Plantadora de Cana Picada PCP 6000 Automatizada, da DMB, tem contribuido de maneira decisiva para que usinas e produtores reduzam o consumo de mudas por hectares e obtenham produtividade elevada em toneladas de cana por hectare.
Multifuncional, essa máquina desempenha as mesmas tarefas da versão não automatizada da empresa, executando todas as operações de plantio e possibilitando o emprego de inseticidas contra pragas de solo a partir de um conjunto aplicador com tanque de 600 litros de capacidade e bomba de pistão acionada por motor hidráulico.
A PCP 6000 Automatizada possui também adubadora tipo caixa em aço inox com capacidade para aproximadamente 1.250 quilos, com sensor de nível de adubo e distribuição por rosca sem fim ou esteiras. Opcionalmente a plantadora pode ser equipada com um kit para banho de fungicida nas calhas das bicas por onde passam os rebolos antes de caírem nos sulcos de plantio.
Uma das principais inovações tecnológicas dessa máquina é a possibilidade de incorporação do sulcador com dispositivo destorroador, que aprimora, simplifica e barateia o preparo do solo. Dotado de uma haste que pode atingir uma profundidade de até quarenta centímetros, este acessório elimina torrões e ondulações do terreno. O novo implemento reduz o número de operações do preparo de solo convencional, diminuindo o custo desta etapa do processo de produção de cana.
O sulcador com dispositivo destorroador cria um ambiente propicio para a brotação da gema, reduzindo o número de falhas e a quantidade de mudas utilizadas no plantio. Segundo Auro Pardinho, o uso deste acessório proporciona também um melhor perfilhamento da cana-de-açúcar, possibilitando um maior arranque no desenvolvimento inicial da planta. O novo sulcador poderá ser adquirido com a plantadora ou separado, caso o produtor ou a usina já possua a PCP 6000 Automatizada.
DISTRIBUIÇÃO DOS REBOLOS
O sistema de distribuição de toletes da máquina automatizada tem sido fundamental para usinas e produtores utilizarem uma quantidade de mudas bastante próxima a do plantio manual. Há usina usando apenas 10 toneladas por hectare – revela Auro Pardinho. A PCP 6000 Automatizada faz a distribuição de maneira muito mais uniforme do que a máquina convencional – compara –, porque lança no sulco somente a cana necessária para o plantio.
As duas esteiras da plantadora automatizada possuem um ângulo invertido no ponto de distribuição dos rebolos no sulco, fazendo com que o excesso seja devolvido para a caçamba. Um encoder instalado no seu eixo indica a velocidade das esteiras em RPM, permitindo calibrar a quantidade de rebolos e, consequentemente, de gemas por metro linear. Com esses recursos, são lançados no sulco de plantio somente os rebolos presentes nas taliscas das esteiras.
A máquina possui um Centro Lógico Programável (CLP), que “coordena” eletronicamente todas as operações. O acionamento ocorre por meio de uma Interface Homem-Máquina (IHM), instalada na cabine do trator, a partir de um simples toque dado pelo tratorista na tela touch screen. A máquina realiza a sulcação, adubação, banho de fungicidas nos rebolos, aplicação de inseticidas contra pragas de solo e cobrição do plantio da cana em duas linhas.
Com tanta tecnologia incorporada às práticas cotidianas, o “sonho” do plantio mecanizado eficiente começa a brotar nas áreas de cana. Mas, não há mágica. É preciso adicionar medidas agronômicas adequadas, mudas de qualidade, capacitação e principalmente gestão da equipe. Aí sim: o resultado poderá ser surpreendente.
Fonte: Agrolink
Waldemir Aparicio Caputo, enviado em 05/04/2019
muito bom